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Futebol na Rede

22/06/2006

Seleção: a melhor mudança foi no posicionamento

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Contra o Japão, o Brasil fez sua melhor partida no Mundial-2006. O técnico Carlos Alberto Parreira surpreendeu ao escalar um time com cinco alterações, com Cicinho, Gilberto, Gilberto Silva, Juninho Pernambucano (a maior surpresa) e Robinho. Além das alterações de nomes, a seleção brasileira começou com duas modificações no posicionamento.

A principal modificação foi à colocação de Robinho, e sua enorme capacidade de movimentação, como um meia-atacante jogando perto em Kaká e Ronaldinho. As principais jogadas de ataque do Brasil na partida saíram da aproximação desses três jogadores. Com o revezamento entre Ronaldinho, Kaká e Robinho como companheiros de ataque de Ronaldo, os três tiveram mais oportunidades na partida. Ronaldinho, por exemplo, em alguns momentos chegou a atuar mais perto do gol e fez uma linda tabela com Ronaldo.

Vale a pena lembrar que o Japão foi o único time que enfrentou o Brasil no 4-4-2 e marcava muito mal, principalmente na entrada de sua área. Com a mudança de Robinho, Ronaldo não tinha que dividir o espaço com outro centroavante e com apenas dois zagueiros jogando em linha para marcá-lo, Ronaldo conseguiu, mesmo fora da sua melhor forma física e técnica, achar espaço no meio dos zagueiros japoneses. Constantemente, ele estava livre para receber a bola, girar para o gol ou preparar jogadas para os homens de meio e acabou marcando dois gols na partida.

Outra modificação de posicionamento ocorreu no meio. Juninho não foi o volante fixo, como Zé Roberto nas primeiras partidas. Além disso, o jogador do Lyon jogou pelo lado direito, enquanto o titular das duas primeiras partidas joga pelo lado esquerdo.

A presença de Juninho, com seu bom aproveitamento de passes e suas perigosas finalizações de longa distância (foi com um chute seu que o Brasil marcou o segundo gol), sempre atuando pela meia-direita, e a liberdade que Cicinho tinha no lado direito também foram importantes para a atuação ofensiva do time brasileiro. Cicinho com muito espaço para apoiar foi fundamental no primeiro e segundo gols brasileiros -- espaço que Cafu não teve nas duas primeiras partidas.

Se não tenho dúvidas que Parreira abandonará o esquema com dois atacantes fixos para o jogo contra Gana, não acho que Juninho ganhará uma vaga no time titular. Infelizmente, Juninho, que é um craque, é meia e não volante e terá que disputar uma vaga de titular com Kaká ou Ronaldinho. Se a entrada de Juninho deu força ofensiva, o equilíbrio do time foi comprometido. O setor defensivo sofreu muito com a saída de Zé Roberto. No primeiro tempo (na etapa final, o time do Japão não existiu no ataque), o time brasileiro sofreu vários sustos por não ter a proteção de dois volantes. Com só Gilberto Silva na marcação, os zagueiros Lúcio e Juan tiveram que marcar os atacantes do Japão mais longe da área e várias vezes, como no gol, levaram bolas nas costas.

Juninho Pernambucano foi bem contra o Japão, mas Parreira não deve abrir mão do equilíbrio defensivo contra Gana, quando um erro pode custar à eliminação do time.

Até segunda, contra Gana.

Avaliação dos jogadores da seleção

Dida - Praticamente assistiu o jogo. Nada podia fazer no gol. Nota 5
Cicinho - Aproveitou muito bem o espaço que teve e foi muito bem. Colaboração direta nos dois primeiros gols do Brasil. Nota 7
Lúcio - Teve alguns problemas no primeiro tempo devido à falta de proteção. Nota 6
Juan - No mesmo nível e com os mesmos problemas de Lúcio no primeiro tempo. Iniciou a jogada do quarto gol. Nota 6
Gilberto - Foi tímido no primeiro tempo mesmo tendo espaço para jogar. Na etapa final, soltou-se e marcou um belo gol. Nota 6,5
Gilberto Silva - Ficou sobrecarregado para dar a proteção aos zagueiros na etapa inicial. Nota 5,5
Juninho - O jogador que torcedores e jornalistas queriam ver no time fez uma grande partida na parte ofensiva, com bons passes e um belo gol. Resta saber se Parreira vai achar um lugar no time para ele. Nota 7,5
Ronaldinho - Fez sua melhor partida no Mundial, teve mais espaço para jogar e teve momentos que lembrou as jogadas que ele faz no Barcelona. Nota 6,5
Kaká - Fez sua pior partida na Copa. Mesmo tendo mais espaço e a ajuda de Robinho não brilhou. Nota 5,5
Ronaldo - Sem ter Adriano para "marcá-lo" foi muito perigoso. Continua fora de forma, mas criou vários momentos de perigo e mostrou ser artilheiro. Fez dois gols. Nota 7
Robinho - Mudou a cara do Brasil jogar. Com suas deslocações, abriu espaço para Ronaldo, Ronaldinho e Kaká jogarem. Fez boas jogadas individuais. Nota 7,5
Rogério Ceni, Ricardinho e Zé Roberto - entraram com o jogo decidido e pouco fizeram. Ficam sem nota
Carlos Alberto Parreira - Acertou na mudança de esquema do time. Nota 7
O destaque   O que deveria ser destaque
Com o final da primeira fase, ficou provado que 32 seleções é um número muito grande de equipes para uma Copa do Mundo. Com tantos times fracos, assistimos a vários jogos ruins, tivemos grupos decididos em duas rodadas e, na última rodada da fase de classificação, tivemos um festival de equipes jogando com times reservas. Até uma das partidas mais esperadas da primeira rodada, Holanda e Argentina, transformou-se em um amistoso. A Copa do Mundo, de fato, começa agora nas oitavas-de-final. Luiz Felipe Scolari, que se transformou no técnico com maior números de vitórias seguidas na história das Copas do Mundo. O fato coloca definitivamente entre um dos grandes treinadores do mundo. Agora, o treinador pode chegar a mais duas marcas importantes. Pode igualar o feito de Vittorio Pozzo (campeão com a Itália em 1934 e 1938) como técnico campeão em duas Copas consecutivas e, se conseguir o título na Alemanha, será o primeiro técnico estrangeiro a comandar uma seleção campeã do mundo.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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