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Futebol na Rede

10/07/2006

Copa à italiana

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Itália, campeã da Copa do Mundo-2006. Nada mais justo. O time de Marcello Lippi foi o melhor do Mundial. Como sempre, os italianos começaram o torneio descreditados, mas foram se encorpando e ganhando confiança --principalmente após terminar em primeiro lugar no grupo mais equilibrado e difícil da primeira fase, em que teve como adversários Gana, EUA e República Tcheca-- e ficaram com a taça pela quarta vez.

Mas o que foi fundamental para a conquista da Itália é que o Mundial de 2006 foi jogado com as características que os italianos são insuperáveis. Vamos a elas:

Defesa forte - O torneio da Alemanha foi o torneio disputado por equipes que se preocuparam muito com a defesa, para isso basta ver a baixa média de gols, 2,30, a segunda pior de toda história (só bateu a de 1990). Não precisa dizer que a defesa sempre foi o forte de qualquer seleção da Itália desse o início dos tempos. Se brasileiros e argentinos têm tradição de formarem grandes jogadores de meio-campo e ataque, os italianos sempre formaram zagueiros de primeira linha. Nessa Copa, mesmo sem contar com Nesta, considerado o melhor zagueiro do Mundo antes do início do torneio, a Itália contou com Cannavaro, perfeito em todos os jogos e Materazzi, que, além de atuar bem na parte defensiva, fez dois gols decisivos, inclusive um na final. Colaboram também com o sistema defensivo os dois laterais (Zambrota e Grosso) e a forte marcação no meio, simbolizada pelo incansável Gattuso. Sem contar que, quando essa muralha era vazada, o goleiro Buffon garantia. Tomar dois gols apenas, um contra e outro de pênalti, foi fundamental para o time italiano.

Jogar no erro do adversário - Todas as seleções tentaram jogar no erro dos adversários. Ficar com a posse da bola o maior tempo possível e tentar surpreender o adversário, num contra-ataque. Todos nós sabemos que, desde o primeiro jogo da seleção italiana, sempre ela jogou assim. As grandes vitórias italianas foram assim.

Jogo coletivo - Numa Copa em que só tivemos uma grande atuação individual, a de Zidane contra o Brasil, o jogo coletivo foi fundamental. Os italianos, que quase sempre não têm um craque que desequilibra, são mestres em formar equipes em que o conjunto é muito forte. Para ter um time forte coletivamente é preciso também que os jogadores estejam unidos quando não estão em campo e isso os italianos conseguiram graças ao escândalo que atingiu os principais clubes do país.

Muito trabalho dos técnicos - Para formar times coletivamente fortes, é preciso grandes técnicos. E os italianos sempre tiveram grandes estrategistas. No cargo desde de 2004, Marcelo Lippi mostrou isso. Neste Mundial, foi fundamental armando a sua equipe conforme o estilo de jogo do adversário. Foi fundamental na semifinal contra a Alemanha, quando, observando o cansaço dos alemães, colocou um time ofensivo na prorrogação e ganhou a partida.

Gols nas bolas paradas - Numa Copa de muita marcação, é fundamental usar as jogadas de bolas paradas para marcar gols. Sabendo isso, os italianos treinaram a exaustão o fundamento. Foram recompensados, dos 12 gols que fizeram na Copa, oito deles tiveram início (inclusive o tento da final) em jogadas de bolas paradas.

Tradição - Numa Copa sem zebras, a tradição da camisa foi fundamental. Seja para intimidar os adversários, quanto para contar com a boa vontade dos árbitros em alguns lances. Com a força da tradição, a Itália conseguiu até vencer nos pênaltis, fato que já tinha tirados dos italianos a possibilidade de ficar com o título em 90, 94 e 98.

Mais uma vez: parabéns Itália pelo seu quarto título Mundial.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para a escolha de Zidane como o melhor jogador do Mundial de 2006. Mesmo com a expulsão na final, o francês mereceu o título. Numa Copa em que não tivemos grandes estrelas (algumas fracassaram, como Ronaldinho Gaúcho), o meia francês foi o único jogador que teve uma atuação individual de destaque na Copa (contra o Brasil). A escolha também prova que, por mais que os esquemas táticos sejam importantes, o que chama a atenção no futebol é o talento dos jogadores e isso não falta para Zidane. O prêmio não deixa de ser uma homenagem ao melhor jogador do planeta nos últimos 15 anos. O que não vamos esquecer da Copa de 2006: O título da Itália; o fracasso da seleção brasileira; o orgulho dos alemães, que voltaram a exibir os símbolos do país; a goleada da Argentina sobre Sérvia e Montenegro; o segundo tempo da prorrogação entre Itália e Alemanha; o número de cartões na partida Portugal e Holanda; o gol do argentino Maxi Rodríguez contra o México; a pose de Roberto Carlos no gol da França na partida contra o Brasil; a gordura de Ronaldo; o trabalho de Luiz Felipe Scolari na seleção de Portugal; e a cabeçada desferida por Zidane no zagueiro italiano na final da Copa.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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