Colunas

Futebol na Rede

01/05/2007

A análise depois dos jogos

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Uma das coisas que mais me dão prazer quando escrevo a coluna Futebol na Rede é a participação dos leitores. A cada edição, recebo várias críticas, elogios e sugestões. Mas, na semana passada, ao analisar o mau desempenho de Santos e São Paulo nas semifinais do Campeonato Paulista e como seus treinadores --Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho-- não foram felizes nas suas orientações, acabei levando uma saraivada de críticas que se resumiram em três frases que destaco abaixo.

"É covardia sua. Falar depois do acontecido é muito fácil."

Não acho que analisar uma partida seja uma covardia, até porque o que é comentado não vai mudar o resultado delas. Tento, quando comento os jogos, mostrar a movimentação dos jogadores e como os treinadores armaram suas equipes. Ao falar do jogo após o resultado final, é preciso explicar porque a partida terminou com aquele placar e o que poderia ter sido feito para que um treinador conseguisse mudar a história dela. Quando faço esse tipo de análise, gosto de ir anotando minhas observações durante a partida e escrevo baseado nelas para passar aos leitores o que eu senti.

"Se as soluções eram tão evidentes como você diz, porque os técnicos não fizeram as mudanças?"

É lógico que ver a partida de fora, sem estar envolvido com a pressão de conseguir o resultado positivo, é mais fácil. Com tranqüilidade, é muito maior a possibilidade de você tomar uma decisão certa. Também facilita o fato de que quem faz a análise não trabalha a semana toda com um elenco de quase 30 jogadores para escolher quem vai entrar em campo.

Mas, deixando de ser bonzinho com os treinadores, muitos não fazem as mais simples e claras substituições porque são extremamente vaidosos e/ou teimosos.

Alguns treinadores acham que pela experiência e quantidade de títulos estão sempre corretos. Alguns simplesmente não fazem o óbvio na esperança que um gol salvador comprove toda sua competência como preparador.

Um bom exemplo de teimosia que eu costumo citar é Carlos Alberto Parreira. Em 1994, ele escolheu um esquema defensivo para a seleção brasileira. Muitos não concordavam --inclusive eu-- com a maneira como o time foi armado. Mas o treinador provou, com a conquista do título, que ele tinha razão. O futebol pragmático foi a maneira correta de conquistar aquele Mundial.

"Não é justo por apenas uma partida acabar com o trabalho do Muricy e do Luxemburgo"

O fato de Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho terem atuado mal nas semifinais do Campeonato Paulista não apaga as qualidades dos treinadores. Pelo contrário, os dois, na minha opinião, continuam na lista dos melhores treinadores do país. Ninguém consegue acertar sempre. Mesmo os mais capacitados em alguns momentos cometem equívocos.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para a atuação muito boa do São Caetano na primeira partida da decisão do Campeonato Paulista. Na etapa inicial, o time de Dorival Júnior fez uma partida taticamente perfeita e deu poucas oportunidades ao time do Santos. As boas mudanças de Luxemburgo no intervalo fizeram o Santos melhorar, mas a equipe do ABC, além de conseguir suportar a pressão santista, ainda conseguiu marcar o segundo gol, que lhe deu uma boa vantagem para o confronto decisivo. Não poderia deixar de citar o quarto gol do Atlético na final do Campeonato Mineiro. Chega a ser patética a cena do atacante chutando a bola com o goleiro Fábio caminhando lentamente de costas para a bola, como se estivesse fazendo um passeio. Ouvi e li as justificativas do arqueiro, mas é inadmissível para um jogador profissional ficar tão desligado de uma partida --ainda mais uma final de campeonato!- e entregar um gol tão fácil para o adversário.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

FolhaShop

Digite produto
ou marca