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Futebol na Rede

18/09/2007

Eles nunca mais foram os mesmos

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

É impressionante como alguns jogadores não conseguem se recuperar após sofrer uma interrupção brusca na carreira gerada por contusão, suspensão ou algum fato inusitado. Não adianta, a parada gera um trauma tão grande que o jogador quando retorna aos gramados não consegue nem ser sombra do que era antes.

Atualmente temos dois jogadores que estão nesta situação no futebol brasileiro. Um é o volante Carlos Alberto, do Corinthians. Depois que voltou aos gramados após cumprir suspensão por ter adulterado a idade o atleta não consegue se firmar como titular do Corinthians. E, nas raras vezes que entra em campo, não consegue mostrar o futebol que apresentava no Figueirense, o que o fez ser um dos destaques do Campeonato Brasileiro do ano passado --até ser suspenso-- e pretendido por grandes clubes.

Dodô, do Botafogo, também não recuperou o bom futebol após ser absolvido da acusação de doping. Após o seu retorno, o atacante parece ter perdido o encanto. Está certo que o Botafogo entrou num período de declínio, mas o artilheiro não consegue mostrar o mesmo futebol que era um terror para as defesas adversárias. Pelo menos nas últimas partidas contra o Corinthians, o atacante mostrou alguns bons momentos e marcou gols que fazem lembrar os lances do Dodô antes da punição. Vamos ver se agora o atacante consegue recuperar a regularidade e, principalmente, o dom de marcar belos gols.

Os casos como de Dodô e Carlos Alberto me fazem lembrar outros atletas que viviam um bom momento mas tiveram alguns problemas e nunca mais conseguiram ter o mesmo desempenho em seus retornos aos gramados.

Mirandinha
O centroavante, que começou no América-SP e passou pelo Corinthians, vivia sua melhor fase quando fraturou a perna numa partida contra o time que o revelou, no final de 1974. Depois da contusão, o atacante, que também esteve entre os 22 jogadores para a Copa de 1974, passou por sete operações e demorou quase três anos para voltar aos gramados. Mas, mesmo recuperado, nunca mais conseguiu ser o atacante rápido que infernizava os zagueiros adversários.

Zé Sérgio
O ponteiro-esquerdo vivia seu melhor momento quando foi flagrado no exame antidoping. Depois de cumprir suspensão, o ponta que deixava louco os laterais adversários por ser eficaz tanto nas jogadas quase em cima da linha lateral quanto furando a defesa adversária entrando em diagonal, nunca mais brilhou como antes da suspensão e perdeu seu lugar na seleção. Ainda foi campeão paulista com o Santos, em 1984, mas nem era sombra do jogador que fora alguns anos antes.

Ivo
Para quem conhece o técnico Ivo Wortmann, não imagina que o treinador foi um volante de grande qualidade, que sabia tratar a bola e que dificilmente errava um passe. Teve grande destaque no América, o que o fez ser vendido para o Atlético de Madrid. Infelizmente, os médicos do clube espanhol detectaram problemas no seu coração e a transferência não foi concretizada. O volante voltou a jogar, mas não com a mesma eficiência e regularidade. Teve uma passagem sem muito brilho pelo Palmeiras e, já em 1980, com apenas 31 anos, parou de jogar e começou a sua carreira de treinador.

Cléo
Quando surgiu no Internacional, o meia era considerado por muitos como o sucessor de Falcão. Mas uma entrevista polêmica para os padrões da época, início da década de 1980, acabou transformando a carreira do jogador, que chegou a ser negociado com o Barcelona. Parece que as pressões que surgiram após as suas declarações influíram demais na sua vida esportiva. Cléo ainda passou pelo Palmeiras e pelo Flamengo, mas nunca conseguiu mostrar o futebol do início de carreira.

Carlos Alberto Borges
O meia rápido, que conduzia muito bem a bola, revelado pelo Marília, logo foi contratado pelo Palmeiras. No time da capital, logo que chegou continuou arrebentando, e em 1983, esteve na primeira convocação de Carlos Alberto Pareira, que estreava no comando da seleção. Mas um dia, num treino no Palestra Itália, o jogador foi atingido por um raio. Mesmo com todo trabalho de recuperação que incluía treinamentos específicos e alimentação especial, parece ter perdido todo seu futebol após a descarga elétrica. Nunca mais foi titular da equipe, teve uma chance no Santos, mas desapareceu.

Elivélton
Segundo o que se comentou, Carlos Alberto Parreira chegou a declarar que a seleção brasileira seria formada for Elivélton mais dez. Também pudera: com seus dribles e arranque, ele chegou a ser comparado com Canhoteiro --mítico ponta-esquerda do São Paulo no final da década de 1950. Ele foi convocado como a grande estrela do time que tentava conquistar uma vaga para os Jogos Olímpicos de 1992, num torneio que disputado no Paraguai. Mas o time foi muito mal e, para piorar, o ponta levou uma pedrada no final de uma partida. A pedrada parece que acabou com o futebol do craque. Após o fato, Elivélton se tornou um jogador comum. Mesmo sem o brilho anterior, conquistou títulos com Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro.

Palhinha
Revelado no América-MG, o meia explodiu no São Paulo, quando foi considerado o motor da equipe que conquistou o bicampeonato Mundial em 1992 e 93. Mas a carreira do jogador entrou em declínio quando perdeu um pênalti na decisão da Taça Libertadores de 1994, no Morumbi. O brilho do craque sumiu e logo ele foi negociado. Jogou em vários clubes grandes, mas pouco fez.

Sandro Hiroshi
Quando surgiu no Rio Branco, foi apontado como uma das grandes revelações do futebol paulista. Foi contratado pelo São Paulo e, quando tentava se firmar na equipe, estourou o escândalo de adulteração de idade. Se antes do escândalo sua carreira patinava, após o episódio ela entrou numa enorme ladeira.

Athirson
Outro que nunca conseguiu ter o mesmo desempenho após ser flagrado em um caso de doping, que aconteceu no ano 2000 quando ele era considerado o maior jogador do Flamengo. Após o caso, passou pelo futebol da Itália, Alemanha, mas longe de ser o jogador de antes da punição. Agora, tenta recuperar sua carreira no Botafogo, mas está encontrando sérias dificuldades para conseguir uma vaga no time titular.

Até a próxima.

Colabore
Além dos jogadores citados, vocês se lembram de alguns profissionais que sofreram uma interrupção na carreira e não voltaram a jogar com a mesma qualidade? Mande sua colaboração para: futebolnarede@folha.com.br

Para o clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG no último domingo, que, sem a mínima dúvida, foi o melhor jogo do atual Campeonato Brasileiro. A partida teve sete gols, viradas no placar e muitas chances de gols desperdiçadas. O ponto negativo foi a agressão do atleticano Coelho em cima de Kerlon. No lance, o jogador do Cruzeiro usava seu lance mais característico --controlando a bola com a cabeça-- em direção ao gol do adversário e não usava o gesto para fazer pouco dos seus marcadores.

Vale a pena acordar mais cedo para ver Marta e suas companheiras na Copa do Mundo de futebol feminino que está sendo disputada na China. Quem duvidava da qualidade do time, por ele ter vencido o Pan-americano --não era o meu caso--, deve ter finalmente se dobrado ao talento das nossas meninas após a goleada contra as anfitriãs, uma das equipes mais fortes do campeonato. Pela primeira vez temos uma equipe para brigar em igualdade com Estados Unidos e Alemanha pela conquista do título.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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