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Futebol na Rede

16/10/2007

A tradição oral

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Vivemos na era da informação. Com um simples clique, em poucos segundos, conseguimos nos conectar e saber, via rádio, internet ou televisão o que acontece, em tempo real, o que está acontecendo em qualquer parte do planeta. Talvez, o futebol ainda seja um das últimos redutos em que a tradição e o gosto pelo esporte ainda se passe por contadores de histórias, na base das palavras.

Na próxima vez que você for ao estádio observe a quantidade de pais e avôs que ficam longo tempo conversando com seus filhos e netos sobre os feitos do seu clube. Qualquer torcedor mirim, antes mesmo de saber escrever ou ler um texto, já vai saber o nome dos grandes ídolos de seu time ou algum fato importante do seu clube.

No meu caso, por exemplo, o amor pelo jogo está totalmente calcado nas histórias que meu avô e meu pai sempre me contaram. Através dessas histórias, consegui aprender muito de como foi a história desde da década de 1920 até atualmente. Sou grato a eles, pois os casos que eles me contaram sempre me ajudam no meu trabalho.

Graças a essa tradição de se contar histórias, foi passada de geração em geração a história do nosso futebol. Se não fosse o boca a boca, grande parte do que aconteceu nos campos brasileiros estaria perdido, pois muitos dos casos que conhecemos hoje nem foram registrados em jornais da época. Talvez os gols de Leônidas e a segurança do zagueiro Domingos da Guia se perderiam e nunca teriam virado verbetes de enciclopédia se quem os viu jogar não passassem verbalmente suas proezas.

É lógico que toda história contada sempre tem seu lado de heroísmo aumentado ou diminuído dependendo do lado que conta a história. Um dos exemplos disso seria o fato que teria criado a rivalidade entre palmeirenses e são-paulinos. Diz a parte verde da história, que em 1942 os são-paulinos, acusando os palestrinos de fascistas, quiseram tomar o estádio do Palestra Itália, mas foram expulsos e derrotados por heróicos palmeirenses. Após o revés, os são-paulinos teriam ido "tomar" a sede de um clube alemão, que ficava no Canindé --local que abrigou a sede do tricolor, até que a Portuguesa comprou o local do São Paulo.

Os são-paulinos contam a história de maneira diferente, não falam do episódio da tentativa da tomada da sede palestrina e dizem que o Canindé foi comprado com recursos próprios.

Muitas vezes, a tradição oral transforma fatos que não aconteceram em lenda. Um dos casos mais célebres é o famoso tapa do capitão uruguaio Obdulio Varela em Bigode na final da Copa do Mundo de 1950. Apesar de tanto o agressor como o agredido negarem o fato (que teria acontecido após o uruguaio ter dado um tapinha nas costas pedindo calma ao brasileiro, depois de uma entrada violenta) os contadores de história já passaram que a agressão intimidou o brasileiro e, por isso, ele teria falhado no segundo gol do uruguaio. Com o passar do tempo, a história se tornou tão "verdadeira" que alguns jogadores brasileiros afirmaram ter visto a agressão e ainda acrescentaram que o uruguaio cuspiu no brasileiro.

E o famoso gol mais bonito de Pelé feito na Rua Javari. Parece que as 10 mil pessoas que estavam no acanhado estádio juventino em 1959 contaram uma versão diferente do gol. Até que o filme "Pelé Eterno" fizesse a reconstituição do tento, havia divergências de como ele teria sido feito e quanto jogadores o Rei driblou para marcar o gol.

Talvez não exista decisão de título que gerou mais histórias que a final do Campeonato Paulista de 1977, que está completando 30 anos. Nos fatos comentados daquela final condenam o atacante da Ponte Preta Rui Rei, que, subornado, teria "cavado" a sua expulsão. Outros conspiradores afirmam que o título foi uma armação dos líderes da Ditadura Militar que comandavam país. Até foi falado que existia um plano para derrubar um transformador de energia e apagar Morumbi caso a Ponte abrisse vantagem no placar.

Tão bonito quanto o futebol jogado são as histórias que ouvimos dele.

Até a próxima.

Infelizmente, a CBF mais uma vez não respeitou uma data Fifa e não paralisou o Campeonato Brasileiro, mesmo com o início das eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Está certo que a muitos dos jogadores da seleção não atuam no Brasil, mas quem dirige a confederação parece esquecer que o Brasileiro está em um momento decisivo, e o desfalque de um jogador convocado influi no rendimento dos times que ainda lutam por alguma meta no campeonato.

O Coritiba, que é líder e está muito perto de conseguir voltar para a Série A do Campeonato Brasileiro. Tem que ser ressaltado o bom trabalho do treinador Renê Simões e a força da torcida, que está lotando o Estádio Couto Pereira em todos os jogos que o time atua em casa. Só como comparação: a média de público do Coritiba na segunda divisão é maior do que a dos seus arqui-rivais, Atlético-PR e Paraná, que disputam o campeonato principal.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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