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Futebol na Rede

30/10/2007

Seis passos para 2014

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Agora é o oficial, o Brasil vai ser sede da Copa de 2014. O país tem sete anos para se preparar para isso. Mas para que o Mundial do Brasil seja um sucesso, temos que enfrentar seis passos, que na minha opinião são estes:

Diminuir o 'oba-oba' dos políticos em torno do evento
A grande comitiva de políticos que voaram para acompanhar o anúncio do Brasil como sede do Mundial de 2014 já mostra como eles querem faturar, não só politicamente, com o Mundial no Brasil. Isso vai acontecer em todas as esferas: federal, estadual e municipal. É preocupante também a união dos políticos com Ricardo Teixeira. De repente, o presidente da CBF começou a ser bajulado por ter, teoricamente, o poder de decidir quais currais eleitorais, ou melhor, Estados e municípios poderão sediar os jogos de Mundial. Historicamente, a união de interesses entre políticos e a cúpula do nosso futebol nunca fez bem ao esporte.

Promessas que podem ser cumpridas
Temos que fazer um Mundial dentro do padrão exigido pela Fifa, mas dentro da nossa realidade. Não temos, por exemplo, condições de construir estádios futuristas como os que foram feitos nos dois últimos mundiais. Mas, com o tempo que há até 2014, temos obrigação de arrumar nossos estádios. Não é possível que em sete anos não vamos conseguir transformar a precária situação dos nossos principais estádios. Condições de reforma todos eles têm, pois foram construídos com uma expectativa de público bem maior do que terão em uma Copa do Mundo.

Também há tempo mais que suficiente para ser planejado como vai ser o acesso do público aos estádios. Se forem necessárias obras de avenidas e linhas de metrô, que sejam planejadas e evitem passar em áreas tombadas pelo patrimônio histórico ou de proteção ambiental. Espero que os responsáveis por essa parte tenham aprendido com os problemas que algumas construções do último Pan tiveram porque alguns aspectos básicos foram esquecidos.

Controle de gastos
Por mais que se fale que a iniciativa privada irá investir na Copa de 2014, o grosso do orçamento será dinheiro público. Como historicamente o dinheiro público é muito mal usado no Brasil, será necessário criar um órgão sério que fiscalize cada real gasto com a organização do Mundial. É que, caso haja qualquer irregularidade, que os responsáveis sejam punidos o mais rápido possível, sem que se espere que a Copa aconteça para depois se tomar alguma providência. Aqui também é necessário rigor extremo na aprovação dos orçamentos. Não adianta fazer uma previsão baixa para conquistar a candidatura e depois ficar fazendo adendos ao orçamento para conseguir mais verbas. Pelo menos a construção de novas arenas não será tão grande quando se esperava quando foi lançada nossa candidatura.

Infra-estrutura nas cidades
Para receber uma Copa do Mundo é fundamental melhorar a estrutura de nossas cidades. Transporte deve ser uma das prioridades. Não se deve esquecer desde a parte aérea até o deslocamento dentro das cidades. Do jeito que estão os nossos aeroportos não é possível garantir o transporte das delegações e turistas durante uma Copa do Mundo. Nas rodovias também a situação não é boa. Vai ter que ser organizado um sistema que não dure apenas para o Mundial, mas obras que mudem as cidades, até que para que toda população possa ter benefícios com o dinheiro gasto com o Mundial.

Também é fundamental a segurança. Nesse ponto provamos, com a experiência dos Jogos Pan-Americanos, que é possível montar um eficiente esquema que garanta a tranqüilidade durante a Copa. É necessário criar mais vagas em hotéis e a Copa pode colocar o Brasil com um pólo turístico, pois atualmente é ridículo o fluxo de turistas internacionais que recebemos.

Trazer o povo para a Copa
É óbvio que o brasileiro gosta de futebol. Mas antes de tudo ele gosta da seleção brasileira. Não sei se o brasileiro que costuma ir aos estádios gostaria de ir ver uma partida entre Guatemala e Ucrânia. Mesmo se ele se animasse a ir encontraria como problema o preço do ingresso. Uma entrada para uma partida de Mundial é muito cara para a maioria dos brasileiros. Se os brasileiros não tiverem acesso aos estádios, não vai valer a pena realizar uma Copa do Mundo aqui.

Mudar o sistema da Copa do Mundo
Com as dimensões territoriais do Brasil, a Copa do Mundo não poderia ser disputada como foi a última, sem que os grupos tivessem sedes fixas. Seria desumano, por exemplo, que uma seleção jogasse em Porto Alegre e depois de três dias entrasse em campo em Belém. Ainda mais porque os jogos devem ser realizados à tarde, para facilitar a transmissão para a Europa.

São sete anos para preparar o país para a Copa. Não vamos esperar para resolver todos os problemas nos últimos seis meses antes do Mundial.

Até a próxima.

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Merece ser destacado o trabalho de Joel Santana, no Flamengo. Aos poucos, o treinador, que foi contratado para evitar a quede do clube para a Série B, acertou o time e, agora, os flamenguistas já podem sonhar com uma vaga na próxima Libertadores. Uma pena que Joel Santana não seja valorizado como um treinador de ponta do nosso futebol, pois sempre que ele chega em algum clube seu trabalho é visto com desconfiança. Joel tem um currículo de títulos que a maioria dos técnicos brasileiros não tem.

Estranho o caso que envolve o triângulo Palmeiras-Thiago Neves-Fluminense. É incrível como todas as partes erraram no caso. A começar com o Fluminense, que ficou um bom tempo enrolando o jogador (ele foi até afastado do time). Depois, o jogador e seus procuradores, que assinaram o contrato com o clube paulista, receberam dinheiro e logo depois firmaram compromisso com o Fluminense. E, finalmente, o Palmeiras, que acertou o pré-contrato dentro do período previsto por lei com o meia, mas escondeu e negava o fato.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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