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Futebol na Rede

06/11/2007

Vida de jogador: o centroavante

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Não faltam goleiros na lista de destaques do Campeonato Brasileiro. Poderíamos citar vários, começando por Rogério Ceni, do São Paulo, e chegando aos novatos Diego (Palmeiras), Felipe (Corinthians) e Bruno (Flamengo).

Também não há dúvida de que muitos defensores se destacaram. Casos como o trio defensivo são-paulino (Breno, Miranda e Alex Silva), Fábio Luciano (Flamengo) ou Thiago Silva (Fluminense). O mesmo acontece no meio-campo com nomes como Richarlyson e Hernanes (São Paulo), Thiago Neves (Fluminense), Valdivia (Palmeiras) e Acosta (Náutico).

Mas, no ataque, fica difícil chegar aos nomes dos atacantes que se destacaram no torneio. Nem o artilheiro da competição, Josiel (Paraná), chega a ser uma unanimidade. O mesmo acontece com Dodô (Botafogo) que começou bem o torneio, mas após o caso de doping não teve o mesmo desempenho. A dupla do time campeão, Aloísio e Dagoberto, também não brilhou tanto.

Muitos clubes --e torcedores-- lamentam sua situação no torneio por não terem em seus elencos atacantes de qualidade, principalmente centroavantes. Aliás, pensando bem, o futebol brasileiro atualmente não tem um grande centroavante. Até a seleção brasileira está sofrendo desse mal. Hoje, os preferidos de Dunga para a posição, Vagner Love e Afonso, estão longe de honrar a camisa nove da seleção.

Outro dia, encontrei um ex-centroavante, que sempre foi artilheiro, e não tive dúvida em lhe perguntar porque não temos mais goleadores. Ele, que sempre foi polêmico, soltou a língua. Pena que, como ele ainda sonha em trabalhar como treinador, me pediu para não revelar seu nome.

"Realmente não temos grandes centroavantes hoje em dia. Eu fui artilheiro toda minha vida e sempre vesti a camisa nove. Por isso, não posso me conformar que um goleiro como o Rogério Ceni possa ser artilheiro de um time grande como o São Paulo por quase todo ano. Tudo bem que ele bate falta e pênaltis com categoria, mas não é todo jogo que ele tem a chance de marcar, no máximo ele vai fazer 18 ou 20 gols no ano. É preocupante que os atacantes do São Paulo, o melhor time do país nos últimos anos, não consigam em uma temporada, em que os clubes jogam quase 70 partidas, marcar mais de 25 gols, o que é muito pouco. Na minha opinião, centroavante que presta tem que, no mínimo, marcar um gol a cada duas partidas.

Voltando ao que você me perguntou, acho que ultimamente os centroavantes perderam a grande característica que os atacantes da minha época tinham. Quem usava a nove era "fominha" por excelência. Centroavante tem que chutar no gol, tem que procurar sempre estar perto do gol. A função do atacante é fazer gols. Não posso me conformar com o centroavante jogando de costas para o zagueiro adversário preparando bolas para os companheiros. Centroavante tem que saber ser esperto para fugir dos beques, receber e finalizar. Um artilheiro nato, a primeira coisa que tem pensar quando recebe uma bola dentro da grande área é chutar para o gol. Hoje não. O atacante recebe a bola e quer passar para o companheiro. Centroavante tem que ser servido e não servir.

Também me choca como os nossos centroavantes finalizam mal. Para fazer gol não precisa nem ser craque, saber driblar. Tem que saber fazer gol. Quer exemplo melhor do que o Dario, que nem sabia parar uma bola, mas foi um dos maiores goleadores da história do futebol brasileiro?

Hoje, os atacantes não olham para o goleiro antes de chutarem. Fecham o olho e dão um bico. Só fazem gol na sorte, pois na maioria das vezes a bola vai na arquibancada ou estoura no peito do goleiro. Precisam treinar mais. Eu ficava chutando a bola no treino até anoitecer. Os nossos atacantes hoje também não sabem cabecear. Pode ver: atualmente, somente os zagueiros fazem gols de cabeça. Também é falta de treinamento. Também afirmo que os centroavantes não sabem se colocar. Nós não temos mais um centroavante que aproveite um rebote do goleiro. Não existe mais um cara como o Romário, que a bola passava por todo mundo e sempre sobrava no pé dele.

Não querendo defender o meu lado, mas os clubes deveriam ter treinadores específicos para atacantes. Os goleiros não melhoraram tanto após a função de treinador de goleiro ser criada? Como quase todos os nossos treinadores foram goleiros, zagueiros ou jogadores ruins, que fizeram um ou dois gols na carreira, eles não sabem como um atacante deve finalizar.

Também não posso deixar de falar que está difícil jogar como centroavante hoje em dia. O cara fica isolado lá na frente, brigando com os zagueiros. No meu tempo, era mais fácil, tinha os pontas que iam à linha de fundo e só entravam em campo para cruzarem bolas para os centroavantes. Hoje não tem mais ponta, tem os laterais que correm muito, mas que não acertam um cruzamento. Também tinha o ponta-de-lança que entrava tabelando com o centroavante. Sem falar que quase todo time tinha um meia que te deixava na cara do gol umas cinco vezes por jogo.

Mas, por outro lado, não podemos esquecer que os atacantes têm hoje uma série de vantagens que eu não tinha. Agora, qualquer chegada mais dura do zagueiro é punida. Antigamente, os beques te levantavam, batiam sem dó e os árbitros deixavam o jogo correr. Isso sem falar na qualidade do gramado, do material esportivo. Até bola para facilitar os atacantes inventaram.

Anote aí: centroavante tem que fazer gol. É para isso que a função existe. Camisa nove tem que correr para a galera, assim como eu fiz toda a minha carreira."

E lá foi ele para a galera, que ainda lhe pede autógrafos, pelos inúmeros gols que marcou.

Até a próxima.

A briga pela posse definitiva da famosa "taça das bolinhas" mostra bem o nível dos nossos dirigentes, inclusive aqueles que temos como diferenciados. Fica difícil o São Paulo, que foi um dos times que mais brigaram para a criação do Clube dos 13 e a organização da Copa União, não reconhecer que o Flamengo foi o campeão brasileiro de 1987. Por outro lado, não dá para entender porque os cariocas demoraram 15 anos para brigarem pelo troféu. O Clube dos 13 também não se manifesta, já que a confusão acontece com dois times que estão na oposição da entidade. Triste para uma associação que surgiu para mudar a estrutura do futebol brasileiro.

Já que falei na falta de atacantes no futebol brasileiro não poderia deixar de citar a atuação de dois jogadores da posição que brilharam no último final de semana. Um deles é Finazzi, que com os seus gols pode livrar o Corinthians do vexame de cair para a Série B. O outro é Nilmar, que voltou aos gramados com a camisa do Internacional na partida contra o Vasco. Mesmo sem o ritmo ideal, Nilmar teve uma atuação destacada e foi fundamental para que o time gaúcho conquistasse a vitória. Agora a esperança é que o jovem craque não sofra mais nenhuma contusão grave, pois nos últimos dois anos ele passou mais tempo fazendo fisioterapia do que jogando.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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