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Futebol na Rede

18/12/2007

Não dou a mínima para a Fifa e a CBF

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Não levo em consideração as resoluções do Comitê Executivo da Fifa. Também não acho que são "lei" as decisões do departamento técnico da CBF. Falo isso porque quem gosta de futebol não deve levar em consideração a decisão de burocratas, que, muitas vezes, nunca chutaram uma bola na vida ou nunca estiveram sentados numa arquibancada ou vibraram com a conquista de um título.

Basta ver os mandatários dessas duas entidades. O da CBF, por exemplo. Seu currículo futebolístico antes de assumir os destinos do nosso futebol se resumia a ser genro do ex-presidente da Fifa. Tudo bem, vou dobrar seu currículo: ele também era conselheiro do Flamengo. E nada mais. O atual manda-chuva da Fifa também foi levado para entidade pelo ex-mandatário (o mesmo que colocou o ex-genro na CBF) e foi seu secretário durante um bom tempo. Por mais que ele se esforce, sua biografia não mostra uma ligação estreita entre ele o futebol.

Agora a Fifa faz um decreto dizendo quais clubes devem ser considerados campeões do Mundo. Segundo ela, só se devem ser considerados o Corinthians, o São Paulo, o Inter e o Milan. Ou seja, tudo que aconteceu antes de 2000 não vale. Para a Fifa, os clubes só passaram a ter importância em 2000. Antes, não existiam competições entre clubes, pelo menos para a Fifa. É bom lembrar que por mais de 90 anos os clubes não existiam para a entidade, o que valia eram as competições de seleções, principalmente a Copa do Mundo.

Quem conhece um pouco de futebol já sabe: as disputas entre os campeões da Europa e da América do Sul, jogadas desde 1960, sempre decidiram qual o melhor clube da temporada. Negar essas disputadas é tirar da história grandes times da história do futebol mundial.

Por exemplo, por decreto, a Fifa, quer tirar o time do Santos, bicampeão do mundo, em 1962 e 63, da história. Os burocratas da Fifa simplesmente ignoram o fato de que na final do Mundial de 1962, Pelé fez contra o Benfica a sua maior atuação com a camisa do Santos. Na canetada querem tirar as conquista do Flamengo em 1981. Vamos esquecer o show de Zico e cia. contra os atônitos ingleses do Liverpool. Para a Fifa, também não valem os dribles de Renato Gaúcho nos alemães do Hamburgo e o título do Grêmio. O bi do São Paulo de 1992/93 também não aconteceu, mesmo com o atual presidente da Fifa entregando a taça.

Para não ficar só nos times brasileiros não dá para tirar títulos mundiais de times como o Real Madrid, o Bayern de Munique, do Milan e dos sul-americanos Boca Juniors, Independiente, Peñarol e Nacional.

Não dá para não considerar esses times como campeões do mundo.

Até a Copa Rio de 1950 serve de exemplo. Quem conhece a história sabe a importância do título. Os palmeirenses não precisam da chancela da Fifa para se considerarem campeões do Mundo. Talvez por culpa até do Palmeiras, que deixou a história de sua participação no torneio cair no esquecimento.

Uma conversa com torcedores (inclusive os não palmeirenses que torceram contra o rival) que vivenciaram as emoções do torneio mostram a grandeza do título. A movimentação na cidade na recepção do time só pode ser comparada, em termos futebolísticos, à chegada de Leônidas à cidade após sua contratação pelo São Paulo, à recepção dos campeões da Copa de 1958, à festa pela quebra do jejum corintiano em 1977 e à recepção do São Paulo, campeão mundial em 2005.

Respeito as pessoas que não aceitam o título da Copa Rio de 1950, mas na minha opinião eles agem friamente, como os burocratas da Fifa.

Falando em reconhecimento de títulos, não é nenhum absurdo considerar os títulos da Copa do Brasil, da Taça de Prata e do Robertão, todos antecessores do Campeonato Brasileiro, como títulos nacionais. Também não é necessário a CBF se manifestar para sabermos a importância desses títulos. Também não é necessário o reconhecimento oficial para que o Flamengo seja considerado pentacampeão brasileiro.

Títulos são conquistados no campo e não por força (ou não) política nos bastidores.

Até a próxima.

Para escolha de Kaká como o melhor jogador da temporada em 2007. Realmente o ano do craque, pelo menos com a camisa do Milan, foi excepcional. Ele foi artilheiro e o principal responsável pela conquista do time italiano na Copa dos Campeões da Europa. Para coroar seu ano perfeito, ele teve uma atuação fantástica na final do Mundial de Clubes. Agora, para Kaká realmente se consagrar como um craque, faltam grandes atuações com a camisa da seleção brasileira, principalmente em uma Copa do Mundo.

A tranqüila vitória do Milan sobre o Boca na decisão do Mundial. O placar mostrou a diferença técnica entre as duas equipes, principalmente pelo fato de os argentinos não contarem com o meia Riquelme. O Milan também provou que com um time experiente, recheado de veteranos, é muito difícil de ser batido em competições de mata-mata ou finais. Já em campeonatos longo, como o Italiano, a coisa muda de figura e o time não consegue ter sucesso, pois o elenco não agüenta o ritmo do torneio.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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