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Futebol na Rede

26/02/2008

Uns já acharam o caminho; outros não

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Está certo que ainda estamos no início da temporada, mas com um mês de bola rolando já é possível identificar quais os clubes que estão no caminho certo e que deverão ter sucesso em 2008. Por outro lado, outros times começaram muito mal o ano e estão decepcionando as suas torcidas.

O Corinthians é um bom exemplo de time que começou bem a temporada e que deve atingir seu objetivo no ano, que é voltar para a Série A do Campeonato Brasileiro. A diretoria acertou na contratação de Mano Menezes, e o técnico foi feliz em indicar jogadores que se encaixam na maneira que ele gosta de armar um time.

Mesmo com quase 20 jogadores novos, já é possível ver no time um padrão tático. Está bem definido que durante todo o ano o Corinthians vai ter um time para marcar forte e jogar no erro do adversário. Os corintianos não verão grandes goleadas, mas irão comemorar várias vitórias por 1 a 0, principalmente durante o Brasileiro da Série B. Talvez falte ao Corinthians um armador mais criativo, mas um jogador com essa característica está difícil de contratar.

Outro time que está agradando nesse início de temporada é o Flamengo. Seguindo o ritmo do final no ano passado, o time vem jogando um bom futebol e está mostrando um bom poder de reação --basta ver as duas viradas seguidas que conseguiu nas partidas decisivas da Taça Guanabara.

O técnico Joel Santana armou um time com forte marcação no meio-de-campo para dar espaço para os avanços dos laterais Leonardo Moura e Juan. Com Kleberson --quando este estiver com a forma física ideal-- e Ibson o time pode ganhar um poder ofensivo, já que os dois, além de marcar, chegam bem ao ataque. Sem dizer que o time em breve vai ter a volta de Renato Augusto. O Flamengo pode sonhar com a conquista da Libertadores.

Falando em Libertadores, o Cruzeiro é outro time que me agrada nesse início de temporada. O time passou com autoridade pela pré-Libertadores sem dar chances ao Cerro Porteño e conseguiu um bom empate com o San Lorenzo e uma vitória contra o Potosí em casa. No Campeonato Mineiro, ganhou todas as partidas que disputou. Destaque no time de Adilson Batista é o volante Ramires, um marcador incansável e ao mesmo tempo com um excelente aproveitamento de passes e com uma chegada forte no ataque.

Também daria destaque para o Atlético-PR com sua série de vitórias no Campeonato Paranaense, ao Bahia, que conseguiu derrotar o Vitória nos dois jogos entre eles na temporada, e ao Figueirense, campeão do primeiro turno do Campeonato Catarinense.

As decepções começam por dois times que investiram muito dinheiro em contratações: Palmeiras e Fluminense. O time carioca comprou vários jogadores, mas sem nenhum critério. Estava bem claro que seria impossível armar um time com três centroavantes que estão acostumados a jogar como finalizadores e não como armadores de jogadas. O técnico Renato Gaúcho agora, depois de vários resultados ruins, tenta armar a equipe de outra maneira. Vamos torcer que os resultados apareçam.

Já a torcida palmeirense começou o ano com esperanças. Novo patrocínio na camisa, a contratação de um técnico vencedor --Vanderlei Luxemburgo-- e uma parceira com muito dinheiro para montar um time forte. Mas até a agora o time não se encontrou. O Palmeiras corre sérios riscos de não conseguir se classificar para as semifinais do Campeonato Paulista. O treinador ainda não conseguiu definir o padrão tático ideal e a equipe não consegue mostrar o futebol que se espera de um time que gastou quase R$ 15 milhões só na contratação de jogadores, sem contar o investimento mensal na comissão técnica.

Outro time que vem me decepcionando, mais pela forma que está jogando do que pelos resultados, é o São Paulo. O time, em 2008, está longe de mostrar a regularidade e a segurança, os pontos fortes no ano passado. O técnico Muricy Ramalho ainda não conseguiu armar o time e substituir com sucesso jogadores como Breno, Souza e Leandro.

É bom dizer que alguns jogadores do São Paulo estão jogando bem abaixo do seu potencial. O multifuncional Richarlyson não consegue mostrar a desenvoltura de jogar em várias posições durante uma partida. Juninho e Joílson não lembram os destaques que foram com a camisa do Botafogo e Adriano ainda não recuperou a boa fase que viveu no final de 2005. Até Rogério Ceni não vive uma boa fase e está falhando demais para um goleiro de sua categoria.

O Santos é outro time que vive um começo de ano complicado. A equipe começou o ano sem um projeto definido. Agora corre atrás dos outros times apostando em jogadores jovens e estrangeiros desconhecidos. A esperança dos santistas é que o técnico Leão repita o sucesso de 2002, quando transformou um time de garotos e desconhecidos em campeão brasileiro.

No Rio, o Vasco vive uma situação parecida. Começou o ano sem um projeto claro, perdeu tempo de treinamento ao apostar em Romário como técnico. Agora vive um momento difícil com um elenco limitado. É um time sem estrutura tática e com o condicionamento físico comprometido.

Também posso citar como decepção o Santa Cruz. Além de ter que disputar a Série C em 2008, o time patina no Campeonato Pernambucano, com tropeços seguidos.

Ainda ninguém ganhou --e não perdeu-- nada no futebol em 2008, mas já é hora de se encontrar o caminho das vitórias.

Revi inteiro o jogo entre Botafogo e Flamengo do último domingo e vi inúmeras vezes os melhores momentos e os lances mais polêmicos da partida. Falo sem medo de errar que o Botafogo não foi roubado na decisão. Acho que o árbitro marcou acertadamente o pênalti em Fábio Luciano e acertou na expulsão do Lúcio Flávio. Se o árbitro estava querendo "roubar" o Botafogo marcaria impedimento no lance em que Wellington Paulista entrou livre e ficou na frente de Bruno no final do jogo. O Botafogo perdeu a partida porque o Flamengo, além de jogar melhor no segundo tempo, tem um elenco mais forte, principalmente no banco de reservas.

Já não agüento mais a reclamação de técnicos, jogadores e dirigentes com a arbitragem. Não existe um time que não tenha sido beneficiado --ou prejudicado-- por uma marcação errada de um árbitro. O que mais me incomoda agora é que os times não limitam suas reclamações apenas após os términos das partidas. Agora a moda é protestar antes do início dos jogos. Está certo que o nível da arbitragem é muito baixo, mas jogar a causa dos maus resultados nas costas da arbitragem já passa do limite. Já passou da hora de técnicos e jogadores assumirem seus erros, no lugar de culpar os árbitros pelos fracassos de suas equipes.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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