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Futebol na Rede

11/03/2008

O jogo é apenas um detalhe

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Infelizmente, a partida de futebol se tornou um mero detalhe. Atualmente, no lugar de analisá-la, o noticiário de uma partida (tanto o pré, quanto o pós-jogo) se preocupa muito mais com bobagens que, na maioria das vezes, não têm nenhuma influência com que acontece (aconteceu ou acontecerá) dentro do gramado.

De repente, parece que polêmicas bobas se tornaram o centro de atenção de uma partida. No último sábado, por exemplo, não consegui acompanhar o segundo tempo de São Paulo e Portuguesa. Chegando em casa, procurei ligar a TV e o rádio para descobrir qual foi o placar da partida.

Fiquei mais de dez minutos ouvindo uma discussão sobre as declarações do presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, que teria chamado o adversário de time pequeno. Não havia jeito: quem entrava no ar, jogadores, técnicos ou comentaristas, falava sobre o assunto. Sobre a bonita vitória da Portuguesa, pouco se falou ou se escreveu. Para descobrir qual foi o placar da partida, tive que ligar meu computador. E para saber como foi o jogo, tive que assistir à uma reprise do jogo já na madrugada.

Dei o exemplo da partida entre São Paulo e Portuguesa, mas a regra vale para qualquer partida. Virou mania após qualquer jogo se criar uma polêmica (quase sempre tola) nos vestiários. É reclamação de arbitragens, jogadores batendo boca com o técnico adversário e dirigente tentando aparecer falando bobagens. O que aconteceu no gramado fica para escanteio.

Virou muleta do jornalismo esportivo também criar um tabu para qualquer partida. Qualquer pequena coincidência que acontece duas vezes já é comentada como a maior escrita da história do futebol.

Fala-se que o time A não ganha do time B, na casa deste, há 40 anos. Mas não se fala que nesse período houve apenas dois encontros no estádio. Tabu de dois jogos? Isso não existe. Tenta-se achar coincidência em tudo: no nome dos jogadores em campo, no uniforme que o time usa, em um jogo que aconteceu há vários anos. Tudo é falado, mas sobre o jogo que vai acontecer em poucos minutos não se fala.

Na tentativa de provar que o jogador é uma pessoa "normal", agora temos as chamadas matérias de comportamento. Outro dia, fui informado que o Léo Lima tem não sei quantas tatuagens. A quem isso interessa? Acho que o torcedor tem que ser informado que o jogador parece disposto a recuperar a sua carreira, depois de anos fazendo bobagens.

No jogo entre Palmeiras e Bragantino, perdeu-se tempo para descobrir o que era o gesto de Denílson nas comemorações dos seus gols, mas os problemas que o time enfrentou com uma nova formação tática no começo da partida foram esquecidos.

Também me irrita como virou mania saber o que jogador faz na sua folga. O atleta tem que ser cobrado pelo que faz em campo.

Até para a televisão, o que acontece no campo parece que não tem importância. Eu não agüento mais as câmeras mostrando torcedores enquanto a bola está em jogo. É um desrespeito com quem está em casa e já tem uma visão limitada do campo. Vocês já repararam que quando entram no ar as legendas dos gritos, a massa pára de gritar. Ela fica quieta, porque um lance importante está acontecendo, mas a gente só acompanha o final da jogada.

O futebol é tão rico que não precisa de polêmicas tolas e tabus inventados para atrair mais público ou audiência.

Até a próxima.

Outra vez, Pelé se torna aliado de Ricardo Teixeira. De novo, o melhor jogador de todos os tempos erra. Nessa união o ex-jogador tem tudo para sair com sua imagem arranhada. Pelé, não ganha nada em ser embaixador da Copa de 2014, até porque o cargo tem pouco poder de ação. Só o presidente da CBF ganha com essa história, pois não será mais cobrado por ter deixado Pelé fora da organização do Mundial e já tem como escolher um culpado caso existe algum problema na organização do torneio.

Uma pena a contusão de Dodô. O jogador vinha ganhando confiança, tinha voltado a jogar e na última semana nos brindou com dois gols (contra o Arsenal) de rara beleza. Aliás a fama do artilheiro de marcar gols bonitos parece que contagiou os seus companheiros de Fluminense. Dos onze gols que o time marcou na semana passada, pelo menos nove foram belos gols. Agora sem Dodô e Leandro Amaral, o Fluminense que tinha excesso de centroavantes fica apenas com Washington na posição.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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