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Futebol na Rede

01/04/2008

Pequena cartilha para jovens jogadores

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Os novos jogadores da seleção brasileira perderam vários pontos ao afirmarem que pouco --vou ser generoso-- sabiam da nossa primeira conquista da Copa do Mundo de 1958. Sempre defendi os atletas profissionais quando eles são taxados de alienados, mas nesse episódio não tem defesa.

A única maneira de tentar ajudar esses jovens, que nasceram depois de 1980, foi tentar elaborar uma lista de palavras para que eles possam aprender algo sobre a nossa primeira conquista e se lembrem que sem aquela conquista poucos deles conseguiriam ganhar os salários milionários que ganham na Europa ultimamente.

Como esses jogadores são muito atarefados, com treinos, concentrações, fotos de novas linhas de fábricas de materiais esportivos, prometo que serei curto nos tópicos para que os nossos jogadores possam ficar mais tempo concentrados nas suas funções. Até porque eles mostraram que não se interessam por futebol.

A - Azul
O Brasil jogou a final da Copa de 1958 de azul, pois a camisa dos suecos era amarela. Para entrar em campo, a direção da seleção teve que comprar um jogo de camisas azul. Os jogadores e membros da comissão técnica tiveram que bordar os números e os escudos da CBD (atual CBF). Não sei se os jogadores souberam, mas a camisa usada no amistoso contra a Suécia foi inspirada no uniforme que a seleção usou na final do Mundial de 1958.

B - Bellini
Zagueiro que foi o capitão do time em 1958. O gesto de levantar o troféu após a conquista de um campeonato --que se tornou moda e é repetido em qualquer campeonato-- foi criado por ele após a conquista da Copa na Suécia.

C - Carvalho
Paulo Machado de Carvalho foi chefe da delegação na conquista das Copas de 1958 e 1962. Sabia como lidar com os jogadores e sabia trabalhar nos bastidores. Por exemplo, bancou a ida do menino Pelé para a Suécia, mesmo com o jogador machucado. Ficou conhecido como o "Marechal da Vitória" e dá nome ao estádio do Pacaembu.

D - Didi
O maestro do time de 1958. Jogador que ditava o ritmo da equipe. Mostrou liderança quando, na final, após o Brasil tomar o primeiro gol dos suecos, foi buscar a bola no fundo da rede e veio caminhando lentamente até o meio de campo, passando tranqüilidade aos companheiros e mostrando que o Brasil poderia vencer a final. Para muitos jornalistas europeus, foi o melhor jogador da Copa. Ficou conhecido por dizer a frase: "Treino é treino, jogo é jogo."

E - Equipe
O time que disputou a final contra a Suécia foi a seguinte: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Também estavam entre os convocados os seguintes jogadores: Castilho; De Sordi (lateral que só não jogou a final), Mauro, Zózimo, Oreco, Dino Sani, Moacir, Joel, Mazzola, Dida e Pepe.

F - França
Adversário do Brasil na semifinal do torneio. O time era conhecido pela força do seu ataque e tinha como destaque o artilheiro Just Fontaine, que marcou 13 gols naquela Copa do Mundo. Mas no final o Brasil venceu por 5 a 2.

G - Garrincha
Espetacular ponta-direita. Só entrou no time como titular na terceira partida contra a URSS. Num amistoso de preparação para o Mundial, driblou vários zagueiros, o goleiro, e, com o gol livre, esperou um zagueiro se recuperar para dar mais um drible e finalmente marcar o gol. O lance foi considerado uma irresponsabilidade pela comissão técnica e lhe custou a vaga de titular nas duas primeiras partidas. Com sua entrada e a de Pelé, o time deslanchou no torneio. Foi o grande destaque na Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando o Brasil ganhou o bicampeonato.

H - Havelange
Era o presidente da CBD (atual CBF) em 1958. Em 1974 se tornou presidente da Fifa, cargo que ocupou por 24 anos. Em 1989, lançou e apoiou a candidatura de Ricardo Teixeira --seu genro na época-- para o cargo de presidente da CBF.

I - Inglaterra
Nosso segundo adversário na Copa de 1958. Foi nossa pior atuação e o empate sem abertura de contagem. A má atuação da equipe fez com que houvesse uma reunião entre os jogadores e a comissão técnica que provocou mudanças na equipe, com a entrada de Zito, Garrincha e Pelé.

J - Jules Rimet
Dirigente francês que presidiu a Fifa e foi o idealizador da Copa do Mundo. Em sua homenagem, o troféu dado ao campeão mundial tinha seu o nome. O Brasil ganhou essa taça em definitivo com o tricampeonato conquistado no Mundial de 1970. Infelizmente, em meados da década de 1980, a taça foi roubada da sede da CBF e foi derretida.

L - Lance a Lance
Na época não havia transmissão ao vivo das partidas. O torcedor só conseguia ver as partidas em filmes que chegavam três dias após a mesma ser realizada. Para acompanhar os confrontos, somente pelo rádio. Em São Paulo, havia um telão luminoso em que as lâmpadas simulavam os jogadores. Elas acendiam ou apagavam conforme a narração do rádio, diante de um grande público --o mesmo acontece hoje com os telões de alta definição.

M - Mazzola
Centrovante que chegou à Copa do Mundo vendido para o futebol italiano. Segundo alguns relatos da época, o jogador, empolgado com a transferência, não estava rendendo o esperado. Acabou perdendo o lugar para Vavá. Mas, mesmo assim, jogou três partidas na Copa de 1958 e marcou dois gols. Jogou a Copa de 1962 pela Itália.

N - Nílton Santos
Foi o melhor lateral-esquerdo da história do futebol mundial. Sabia tanto de futebol que o seu apelido foi "A Enciclopédia". Nílton Santos não se limitava a marcar apenas os pontas adversários, como faziam os laterais na época. Graças à sua técnica, ele várias vezes arriscava avanços ao ataque. Surpreendeu o mundo ao fazer um gol na Copa de 1958, contra a Áustria, ao tomar a bola da defesa, fazer uma tabela e aparecer na cara do gol adversário.

O - Ordem aleatória
Gilmar, o goleiro era o camisa 3, Nílton Santos usava a camisa 12. A numeração estranha dos jogadores do Brasil naquele mundial ocorreu porque a CBD não mandou a relação dos números dos jogadores para a Fifa. Um dirigente uruguaio deu o número aos nossos jogadores, alguns ele conhecia, como o goleiro Castilho, que ficou com a número 1, outros números ele distribuiu a camisa de maneira aleatória.

P - Pelé
Com apenas 17 anos, ganhou a Copa do Mundo e se tornou o "Rei do Futebol". Machucado, não entrou nas duas primeiras partidas, mas quando entrou mostrou porque seria o melhor jogador de todos os tempos. Menino, chorava copiosamente nos ombros dos companheiros após a vitória contra a Suécia na final.

Q - Quartas-de-final
O nosso adversário nas quartas-de-final foi o País de Gales. Um time que marcava muito bem. A dura retranca dos britânicos só foi furada graças a uma jogada espetacular de Pelé, que fez nessa partida seu primeiro gol em jogos de Copa do Mundo.

R - Reservas
Dos 22 convocados, o Brasil utilizou 16 jogadores. O caso de um reserva que entrou e resolveu foi o de Djalma Santos. O lateral-direito ficou na reserva de De Sordi durante toda a Copa e foi escalado para a jogar a final. Em forma, Djalma Santos, entrou na decisão, jogou tão bem que foi eleito o melhor lateral-direito do Mundial.

S - Suécia
Foi a sede da Copa do Mundo de 1958 e também nosso adversário na final do torneio. Na final, os brasileiros ganharam dos suecos por 5 a 2. Os gols brasileiros foram de Pelé (2), Vavá (2) e Zagallo. Já os suecos descontaram com tentos de Liedhom e Simonsson.

T - Técnico
O técnico na nossa primeira conquista foi Vicente Feola.

U - URSS
Nosso terceiro adversário na Copa de 1958. Muitos temiam o "futebol científico" dos soviéticos, baseado no forte preparo físico e numa estrutura tática muito forte. Mas logo nos minutos iniciais, uma seqüência de dribles de Garrincha acabou com o esquema dos soviéticos. Pelé, que estreava no Mundial, também desequilibrou. No final, vitória brasileira por 2 a 0.

V - Vavá
Centroavante de muita raça, que marcou cinco gols no Mundial. O atacante não tinha medo de divididas e, contra a URSS, não teve medo da sola do zagueiro para marcar um gol. Na final marcou dois gols.

X - Xingar
O volante Zito, mesmo não sendo capitão do time, era um líder. Essa liderança era respeitada por todos os jogadores, que ouviam vários palavrões do volante quando o time se desconcentrava em campo.

Z - Zagallo
O ponta-esquerda do time. O jogador foi apelidado de "Formiguinha", pois numa época em que os pontas só se preocupavam em atacar, Zagallo, quando o Brasil perdia a bola, recuava e vinha ajudar os jogadores de meio-de-campo a marcar os adversários.

Pensando bem, seria bom que também os atuais dirigentes da CBF lessem essa pequena cartilha, já que, para eles, a história do futebol brasileiro começa em 1989. Eles também se esquecem das conquistas e de jogadores anteriores a esse período.

Até a próxima.

Na semana passada, o Atlético-MG completou seu centenário. Parabéns, mesmo atrasado, ao time. Poderia escrever várias linhas dos feitos do clube, assim como listar os inúmeros craques que defenderam sua camisa. Mas prefiro prestar minha homenagem à fanática torcida do Atlético-MG que nunca deixa de apoiar o time, além de entupir a minha caixa de mensagens por não ter dado destaque para os 100 anos do time.

Para as sentenças do Tribunal de Justiça da Federação Paulista de Futebol. As decisões do tribunal parecem ser elaboradas pelo departamento técnico da entidade. Por coincidência, nos polêmicos julgamentos dos casos de Kleber (Palmeiras), três jogos, e Jorge Wagner (São Paulo), gancho de um jogo, as punições foram dadas na medida para que os dois times tenham seus jogadores nas semifinais do torneio.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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