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Futebol na Rede

17/06/2008

Conceitos precisam ser mudados

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

A instituição seleção brasileira precisa ser repensada. Não se pode transformar o time que conquistou cinco títulos mundiais numa seleção comum. Na ânsia de transformar o time brasileiro numa máquina de fazer dinheiro, a CBF acabou banalizando a nossa seleção. Criando baboseiras como o chamado "World Tour", nossos dirigentes acabaram com a mística do nosso time.

O temido time brasileiro, que colocava medo em qualquer seleção do mundo, ao jogar tantas vezes com seleções medíocres acabou perdendo muito de sua mística. Jogando amistosos caça-níqueis, a seleção brasileira está deixando de ser "o" adversário para se tornar mais um time a ser enfrentado em qualquer data Fifa.

Tudo bem que as cotas dos amistosos em Londres satisfazem os nossos dirigentes, mas eles não perceberam que, em pouco tempo, a seleção não vai ter mais mercado para jogar contra timecos na Europa, ou excursões para jogar em campos adaptados nos Estados Unidos. Eles ainda não perceberam o quanto já foi desvalorizada a nossa seleção. Basta ver o caso dos fornecedores de camisas, que o nosso time vale muito menos que algumas seleções que não têm o mesmo prestígio que o Brasil.

Está na hora de a CBF parar de afastar o nosso time da torcida brasileira. Nosso time não chama mais atenção nenhuma. O Brasil vai jogar? Poucos se importam com a convocação, poucos se interessam em, ao menos, assistir aos jogos. Está certo que todos os ingressos para o jogo contra a Argentina foram vendidos --grande parte cedida--, mas o público no Mineirão está longe de ser a grande platéia que gosta de futebol. Com certeza, atualmente, os torcedores brasileiros se preocupam muito mais com seus clubes do que com a seleção.

Os jogadores precisam também mudar de postura. Parece que o fracasso retumbante da Copa do Mundo de 2006 não serviu de lição. No embalo do "oba-oba" que se formou em torno da seleção, muitos acreditam que são os novos deuses da bola. Entram em campo sem a mínima vontade, parecendo que estão numa animada pelada. Eles só pensam em seleção quando precisam aparecer para tentar uma nova transferência.

Algumas vezes acertam uma boa partida --o suficiente para alguns mais ufanistas dizerem: "esse é o verdadeiro futebol brasileiro" ou "quem mandou duvidar da força do nosso time?"--, mas quase sempre assistir um jogo da seleção inteiro é um grande porre. O pior é que o marasmo e a falta de vontade até pouco tempo atrás eram vistos apenas em amistosos, agora a preguiça dos nossos jogadores já chegou aos jogos oficiais.

Os jogadores precisam rever a relação entre seus clubes e a seleção. Está certo que os times pagam os salários, mas atualmente os atletas são muito mais dedicados aos seus clubes de origem do que à seleção. Aos times eles fazem tudo. Não pensam duas vezes em jogar com dores ou no sacrifício, não se queixam do calendário ou de ficar na reserva. Não acho errado isso, mas os jogadores precisam ser mais claros nessa relação. Não existe qualquer pecado em pedir dispensa da seleção. Aliás, é muito mais honesto não aceitar a convocação, dar lugar para outro, do que ficar enganando com a camisa da seleção.

Por fim, o técnico Dunga também precisa repensar sobre a sua maneira de entender futebol. Ele precisa entender que não dá para ter apenas o time de 1994 como referência. Existem inúmeras maneiras de se montar um time. Está certo que o time de 1994 ganhou a Copa do Mundo, mas ele não poder ser o modelo único para um técnico de seleção.

O nosso treinador também precisa acabar com a essa mania de perseguição. Desde do tempo em que era um voluntarioso jogador, ele encara qualquer crítica como ofensa. Parece que se acha um soldado, com poucos amigos, cercado por inimigos por todos os lados. Dunga também precisa entender que agora ele é treinador e não mais jogador. Uma coisa é você cobrar de apenas um companheiro, outra é comandar um grupo.

Também não dá para entender a falta de visão do nosso treinador. Era sabido que os jogadores que atuam na Europa estavam no final de temporada, alguns já em férias. Fica difícil explicar porque o treinador não chamou alguns jogadores que estão em plena atividade aqui no Brasil. Pergunto: o que é melhor, Leonardo Moura e Juan que estão em plena atividade, ou os internacionais Maicon e Gilberto? Será que o Hernanes, até no esquema com três volantes, não seria mais útil que qualquer um do trio Mineiro, Josué e Gilberto Silva?

Está certo que o futebol mudou, mas está na hora de parar com a era de mediocridade que a seleção brasileira está passando.

Até a próxima.

Apuração
Agradeço a todos os leitores que mandaram nomes de jogadores estrangeiros que atuaram aqui no Brasil. Como ainda não consegui acabar de apurar todas as lembranças, prometo, na próxima semana, fazer a relação completa dos atletas citados.

Justa e merecida a conquista da Copa do Brasil pelo Sport. O time pernambucano mostrou muita forca, principalmente quando atuou em casa. O que eu não entendi é porque algumas pessoas insistiram em tratar a decisão em uma guerra entre estados ou regiões. Isso não tem relação nenhuma com que acontece em campo. Algumas bobagens ditas por ambos os lados foram mais comentadas do que o próprio título do Sport. Também é duro ouvir o time perdedor, nesse caso, o Corinthians, tentar justificar o resultado nas costas da arbitragem. O suposto pênalti no Acosta não aconteceu. Aliás, houve uma penalidade para o Sport que não foi marcada. Como a memória é curta, os corintianos parecem esquecer que os dois primeiros gols do time em São Paulo surgiram após faltas que o árbitro não marcou em jogadores do Sport.

Estamos acostumados a dizer que o futebol não está preparado para ações de marketing. Mas parece que quem faz campanhas utilizando o futebol para chamar clientes também pouco entende, ou não está atento ao que acontece nos gramados. Recentemente, uma fábrica fez promoção prometendo levar torcedores para assistir jogos da Inter de Milão. Tudo muito bonito, só esqueceram de um pequeno detalhe. Em um dos comerciais o torcedor aparecia vibrando com a camisa 10 da Inter. O detalhe é que ela era de Adriano, que na última temporada saiu escorraçado do time italiano. Agora temos a campanha que promete dar camisas dos times brasileiros. Só que nos banners da promoção temos camisas desatualizadas. Temos, inclusive, pelo menos uma com o patrocinador que o time usava no ano passado. Acho que ninguém gostaria de ganhar uma camisa velha.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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