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Futebol na Rede

16/09/2008

Dos botões ao videogame

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Tenho inveja das crianças que gostam de futebol atualmente. Elas têm acesso a todas as informações do esporte. Lembro-me que quando comecei a acompanhar futebol mal conseguia ter notícias dos times dos outros estados.

O Rio de Janeiro, para nós paulistas, parecia outro mundo. Recebíamos poucas notícias do que acontecia a 400 km e, muitas vezes, poucos sabiam dos jogadores que atuavam lá. O inverso também acontecia. O pior acontecia com Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Do Nordeste então, pouco se falava.

Futebol internacional era outro mistério. Essa falta de dados se transformava em medo. Qualquer amistoso da seleção, contra União Soviética e Tchecoslováquia, por exemplo, era um fantasma. A nossa distância com o mundo era tão grande que um simples amistoso em Wembley era um acontecimento comparado a um jogo de Copa do Mundo.

Também os jogadores estrangeiros se transformavam em craques, muitas vezes sem ninguém ter visto jogar. Temos o exemplo do Dassaev, goleiro da ex-URSS. Tudo bem que ele era um goleiro muito bom, mas graças ao nosso desconhecimento do futebol soviético ele se transformava numa muralha intransponível. Garanto que nunca ninguém no Brasil tinha visto uma partida com o goleiro jogando no seu clube, ou até mesmo com a seleção soviética, antes de classificá-lo como uma muralha. Poderia ficar horas citando jogadores estrangeiros que aterrorizavam os torcedores antes das partidas contra o Brasil.

Mergulhados no nosso desconhecimento, também sempre éramos surpreendidos. Antes da Copa de 1974, ninguém no Brasil falava sobre o time da Holanda. Nem preciso dizer o que o time holandês fez naquele torneio, inclusive passando por cima do Brasil. Talvez, se tivéssemos as informações que temos hoje, saberíamos que os holandeses temiam a nossa seleção.

Não muito distante, para saber alguma coisa a mais do que resultados do futebol do Velho Continente, só procurando revistas importadas nas bancas dos aeroportos ou comprando jornais velhos nas bancas da avenida Paulista, aqui em São Paulo.

Voltando ao motivo da minha inveja.

Hoje, qualquer criança de seis anos, como meu filho, sabe muito de futebol. Com a televisão, eles assistem jogos de todas as partes do planeta. Se quando eu era garoto a transmissão de um jogo era um acontecimento, hoje os meninos podem acompanhar jogos todos os dias. Fico abismado como eles sabem identificar jogadores de todos os times do Campeonato Brasileiro e de clubes como Milan, Chelsea, Real Madrid. Eles conseguem ver seus ídolos e não ficam imaginando como eles são, ou suas jogadas.

Que alguns educadores não leiam essa parte, mas os videogames também ajudam as crianças a conhecerem muito mais de futebol. Enquanto quando eu era garoto a minha opção de simular partidas de futebol era o futebol de mesa --ou jogo de botões-- hoje os games permitem que os garotos consigam entender o que acontece durante uma partida. Jogar botão é sensacional, faço isso até hoje e recomendo para todo mundo, mas os cartuchos dão uma noção real do que acontece em um jogo.

Se no futebol de mesa você monta estratégias que só servem para esse esporte --sim, futebol de mesa é esporte--, no videogame você interfere diretamente na formação das equipes e descobre como é o funcionamento de uma partida de futebol.

Aos poucos, os pequenos conseguem descobrir como alterar taticamente uma equipe. Fico vendo como os meninos alteram as formações dos times, deslocando jogadores e arrumando suas posições no campo. Eles percebem como as mudanças que fazem mudam o funcionamento das equipes.

E, por incrível que pareça, esses pequenos técnicos já sabem o que fazer numa partida. Na semana passada, ao saber que Alex Mineiro e Kleber não iram jogar contra o Cruzeiro, a sugestão do meu filho, de seis anos, foi simples: "basta colocar o Diego Souza no ataque, eu faço isso no videogame e dá certo". Acho que ele estava certo.

Com tanta informação e preparo, quem escrever nesse espaço daqui a 20 anos vai escrever com muito mais base e conhecimento do que eu. Mas, com certeza, eles sentirão inveja dos seus pais, que como eu, jogaram futebol na rua.

Até a próxima.

Para Kléber Pereira, centroavante do Santos. Podem criticar o atacante por perder muitos gols, de não saber se posicionar, quase sempre em impedimento, mas os seus gols tiraram o time da Vila Belmiro da zona do rebaixamento. Também tem que ser citada para a reação santista no campeonato e a volta de Rodrigo Souto ao time. O volante deu equilíbrio ao setor por marcar bem e aparecer com muita freqüência e eficiência no ataque.

A difícil situação da Portuguesa no Campeonato Brasileiro. Ao demitir o técnico Wagner Benazzi, acabou com a estrutura do time armado para o torneio. A contratação de Valdir Espinosa foi um erro, pois com as características dos jogadores estava claro que ele não conseguiria armar o time da maneira que gosta, ainda mais após a saída do atacante Diogo. Agora, na reta final do torneio, Estevam Soares vai ter muito pouco tempo para reestruturar outra vez o time e encontrar um padrão de jogo.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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