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Futebol na Rede

07/10/2008

A sala esquecida do Museu do Futebol

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

"Você já foi ao museu?" Esta foi a pergunta que eu mais ouvi na última semana. De tanto ouvir essa pergunta e os elogios ao espaço, resolvi ir ao Museu do Futebol na última quinta-feira, um dia após a atração ser aberta à visitação do público.

A visita ao espaço é imperdível para aqueles que gostam de futebol. A escolha do local, o estádio do Pacaembu, foi de uma felicidade incrível, além de muito bom o projeto arquitetônico que utilizou de maneira muito criativa a parte baixa das arquibancadas do velho estádio. Realmente um passeio pelo museu, além de mostrar a história do nosso futebol, equivale a conhecer um pouco da história do nosso país no último século.

Mas confesso que fui embora decepcionado do Museu do Futebol. E isso não tem nada a ver com uma pequena informação errada em um vídeo apresentado sobre a Copa do Mundo de 1986 --na verdade um erro de digitação--, na Sala das Copas do Mundo, onde lemos México, 1982.

Na verdade fiquei triste com o Museu do Futebol porque mesmo com todo o dinheiro gasto, com os especialistas ouvidos, ninguém se preocupou em preservar o espaço que por muitos anos foi o meu museu do futebol.

Estou falando de um local, localizado a 15 metros da saída do bar temático do Museu, que era um memorial que reunia os pés e as mãos de atletas, de futebol ou não. Como se pode ver nessas fotos, o espaço está praticamente destruído e as homenagens que algum dia foram feitas a atletas, que mereceriam também estar no Museu do Futebol, foram destruídas e pisoteadas. A própria construção do Museu do Futebol e a reforma da calçada em frente ao estádio colaborou para a situação de penúria do local.

Humberto Peron/Arquivo Pessoal
Em frente ao Museu do Futebol, um local com as marcas de atletas que fizeram história no nosso futebol e esporte está parcialmente destruído
Local com as marcas de atletas que fizeram história está parcialmente destruído

Talvez, para um mundo cada vez mais constituído por pessoas mais preocupadas com a forma do que com o conteúdo, aquelas assinaturas e marcas destruídas foram feitas por algum malandro que queria deixar no cimento fresco o seu nome. Nesse espaço, em forma de caracol, me lembro de marcas de pés e assinaturas de alguns jogadores que foram bicampeões mundiais. Hoje, na ruína que se encontra o local, reconheço poucas assinaturas, entre elas a do campeão de boxe Eder Jofre.

Ao ver esse memorial praticamente destruído senti uma tristeza enorme. Explico. Na década de 1970, minha irmã fazia aulas de natação no complexo do Pacaembu. Eu não fazia natação, mas fazia questão de ir sempre. Até porque quem levava as crianças era o meu avô no seu possante e conservado Chevrolet 1937. A velocidade reduzida do antigo carro não incomodava pois ficávamos sentindo por mais tempo o inesquecível cheiro dos sanduíches de bife à milanesa preparados pela minha avó e que comeríamos durante o trajeto de volta.

Humberto Peron/Arquivo Pessoal
Quem visita e quem idealizou o Museu do Futebol esqueceu desse espaço importante da memória do nosso esporte que fica a poucos metros do bar do museu
Espaço importante da memória do nosso esporte fica a poucos metros do bar do museu

Depois de deixar a meninada na piscina, o meu avô parava seu carro no estacionamento em frente ao estádio. Então começava a aula, nesse pequeno espaço, hoje perdido, com as marcas de pé e assinaturas de atletas. Geralmente ele começava falando sobre alguém que estava naquele espaço. Depois saíamos caminhando lentamente e entrávamos no estádio.

Passávamos os portões principais e seus braços começavam a apontar locais nas arquibancadas. Eram os locais onde ele tinha visto alguns dos momentos mais marcantes do nosso esporte. Atrás do gol, ele tinha visto os jogos de inauguração do estádio. Nas cadeiras verdes, ele tinha visto o épico jogo entre Santos e Palmeiras, vencido pelos santistas por 7 a 6 --este jogo está citado no museu--, encostado no alambrado, ele viu a entrada do seu Palestra Itália, agora Palmeiras, no primeiro jogo do seu time com o novo nome.

Humberto Peron/Arquivo Pessoal
Muitos atletas não são mais identificados. Entre uma das homenagens que ainda se conservam está a do boxeador Eder Jofre
Entre uma das homenagens que ainda se conservam está a do boxeador Eder Jofre

Também gostava de contar a história de como assistiu a partida entre Brasil e Suíça, na Copa de 1950, com a bandeira do país adversário nas mãos, pois os ingressos foram dados por um gerente da empresa suíça em que ele trabalhava na época.

Se existe uma coisa que avô sabe fazer é contar história. O seu jeito de contar os jogos e os jogadores que ele vira no Pacaembu me encantava. Durante as histórias, eu parecia ver no estádio vazio os jogadores em campo e as jogadas, coisas que nem todos os recursos multimídia do Museu do Futebol me fizeram ter.

É engraçado como esse local, me permitam chamar de meu pequeno Hall da Fama, me seduzia. Mesmo quando meu pai me levava à Praça Charles Miller para brincar, jogar bola ou descer os gramados laterais do local equilibrado em pedaços de papelão, sempre passava no local. E aí mais histórias de futebol contadas pelo meu pai. Mas essas histórias prometo contar em outra coluna.

É triste constatar que um lugar tão importante para você e também para o esporte, que está perto de uma obra tão grandiosa quanto o Museu do Futebol, foi destruído. Custa muito pouco transformar o local em mais uma sala do espaço, aberta ao público, antes que ele desapareça completamente com mais uma camada de cimento.

Até a próxima.

Para a convocação, ainda que tardia, de Alex, do Internacional, para a seleção brasileira. O jogador pode ser o meia que está faltando ao time de Dunga. Ele é capaz tanto de dar um lançamento longo quanto de se aproximar para tabelar com os atacantes, além de finalizar muito bem de média distância. Além disso, também atua como atacante ou na ala esquerda.

Perfeita a atitude do Atlético-MG de suspender os contratos dos jogadores Mariano, Calisto e Lenílson. Os três foram extremamente irresponsáveis ao abandonar a concentração para aproveitar a noite paulistana, principalmente levando em consideração que a situação do time não é nada confortável. Espero que, com a punição, eles aprendam a ser comportar como profissionais.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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