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Futebol na Rede

11/11/2008

Vida de jogador: tempo de clube

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Adoramos dizer que sentimos saudade do tempo em que os jogadores ficavam muitos anos em um mesmo clube. Alguns ficaram a carreira inteira atuando com a mesma camisa. Mas sempre quando tratamos desse assunto falamos vendo apenas o lado do torcedor --que gosta de se identificar com um ídolo do seu clube--, mas nunca perguntamos aos atletas profissionais o que eles acham desta situação.

Outro dia, na partida em que o goleiro Marcos completou 400 jogos com a camisa do Palmeiras, encontrei nos jardins do Parque Antarctica um jogador que atuou muito tempo num clube grande da capital, quase sempre foi titular, mas nunca chegou à seleção e não foi ídolo absoluto da torcida.

Confira o que ele disse quando eu falei que o futebol era muito mais apaixonante quando os times mudavam pouco de ano para ano e os jogadores ficavam muito tempo numa mesma equipe.

"Não concordo com você que era melhor. Esta situação era confortável para o clube, que não precisava gastar tanto para contratar jogador. Eu, por exemplo, me arrependo profundamente de ficar tanto tempo num mesmo clube. Deixei de ganhar um bom dinheiro com essa dedicação a uma camisa.

Só era bom --e continua até hoje-- para quem era o "dono do time". Você vê aqui no Palmeiras. O Ademir [da Guia] mesmo sendo tranqüilo, sempre teve tudo o que queria aqui. Treinador nenhum mexia com ele. Se algum técnico pedisse um meia para substituir o Ademir logo ele era demitido. A mesma coisa acontecia com o Zico no Flamengo, com o Roberto Dinamite no Vasco e com o Rivellino durante muito tempo no Corinthians.

Atualmente acontece a mesma coisa com o Rogério Ceni no São Paulo e com o Marcos no Palmeiras. Além de serem excelentes goleiros, não é exagero dizer que eles mandam nesses clubes. Veja o que acontece com um jogador no São Paulo que enfrenta o Rogério. O cara primeiro perde o lugar no time e depois de uns dois meses ele é dispensado ou não joga mais.

Voltando a falar do tempo que eu jogava, tinha também o problema do passe. Muitas vezes, se você quisesse mudar de time tinha que mudar de Estado. Era quase impossível um jogador do Palmeiras ir para o Corinthians. Do outro lado, o mesmo acontecia. O dirigente não queria vender para um rival, ou a torcida ficava pressionando.

Na minha época todo mundo tinha a esperança de ganhar os 15% do valor da transferência. O mesmo acontece hoje: o jogador sempre ganha muito dinheiro quando se transfere. Hoje não tem mais os 15%, então os caras trocam de time a cada mês para ganhar dinheiro para ele e para o empresário.

Não adianta: quando você fica muito tempo num clube nunca é valorizado. Os jogadores contratados ganham sempre mais do que os que estavam no clube. É aquele negócio: quando o clube está por baixo, os diretores cobram de quem está mais tempo no clube, mas na fase boa os caras gostam de valorizar as últimas contratações que eles fizeram. Sem dizer que os diretores sempre falam que os que têm mais tempo de clube são jogadores acomodados que adoram criar igrejinhas.

A torcida também pega no pé de quem está há muito tempo num clube. Eles gostam de dizer que se o clube não ganha títulos é culpa de quem está há mais tempo no time.

Sinceramente, se fosse mudar algo na minha carreira seria jogar em mais clubes, pois, como eu não era craque, seria mais valorizado e ganharia mais dinheiro."

Bem, concordando ou não, esta é a opinião de um jogador. O outro lado da história.

Até a próxima.

Faltando apenas quatro rodadas para o final do Campeonato Brasileiro, a briga pelo título está restrita apenas a São Paulo e Grêmio, com os gaúchos torcendo por um tropeço dos paulistas nas últimas partidas. Para Cruzeiro, Palmeiras e Flamengo, que durante muitas rodadas sonharam com o título, sobra a briga por uma vaga na Taça Libertadores.

Ele já anunciou que vai encerrar a carreira no final do ano, mas o desempenho de Edmundo será fundamental para que o Vasco não caia para a Série B. Quando ele está em campo, o fraco time cresce, principalmente porque o jogador, mesmo sem as condições físicas ideais, chama a responsabilidade do jogo e não se esconde.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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