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Futebol na Rede

16/12/2008

Esse tipo de parceria não serve

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Neste período de férias vejo com grande preocupação a maneira como os clubes estão procurando reforços para a próxima temporada. No lugar de tentar contratar atletas, os dirigentes gastam toda sua energia na procura de parceiros, ou investidores.

Acho essa escolha temerosa para os clubes. Até porque entre eles e esses investidores não existe nada de parceria --já que a palavra significa, segundo o Aurélio, reunião de pessoas para um fim de interesse comum; sociedade. O que acontece atualmente é que os clubes são reféns dos ditos parceiros.

Tudo bem que sem os parceiros talvez os clubes não teriam em seus elencos alguns jogadores de peso, mas o que os dirigentes ainda não perceberam é que não vale a pena ter investidores como ajudantes.

No modelo atual de associação entre clubes e investidores, os times sempre acabam ficando com o prejuízo na história. Por exemplo, não existe nenhuma garantia de que o parceiro não irá vender o jogador na primeira oferta tentadora que receber. Com certeza, os investidores não estão interessados no retorno técnico e querem, o mais rápido possível, o retorno financeiro.

Vão dizer, os mais ingênuos, que os parceiros pagam multas para os clubes. Mas a parte financeira que fica com o clube é irrisória, já que o time só recebe parte do lucro obtido pelo investidor. Em muitos casos, o que as equipes recebem não cobre nem o que gastaram com os salários do jogador.

Ao colocar determinado atleta num clube grande, o investidor infla o preço do seu jogador. Com certeza, é muito mais fácil --e caro-- revender alguém que joga num grande time do que um atleta que atua num time desconhecido.

Outro problema sério nessa relação é que os clubes sofrem chantagem para terem em seus elencos pacotes de atletas de determinados parceiros. Para um jogador de nível, quase sempre chega, no mínimo, um cabeça-de-bagre.

Pense rápido. Repare quantos jogadores chegaram no seu time na última temporada e que nem jogaram uma partida. Mais uma jogada "esperta" dos investidores e empresários que, quando vão negociar seus pupilos, já podem anexar com os DVDs, muito bem editados, que o atleta passou uma temporada em um dos times tradicionais do país.

Também se cria uma relação estranha entre técnicos e investidores. Sabedores de que os parceiros podem abrir portas em outros clubes, os treinadores não pensam duas vezes entre escalar um jogador do parceiro e outro que não tem relação nenhuma com investidores.

Por mais que os técnicos digam que não, é lógico que sofrem pressão para escalar atleta do parceiro. A situação é tão estranha que alguns técnicos indicam jogadores para investidores e não para o seu clube.

Os nossos incompetentes dirigentes não perceberam que estão entregando o controle do futebol aos investidores. Os campeonatos estão muito perto de perderem a credibilidade, pois os resultados dos jogos vão começar a interferir nos negócios dos investidores.

Parcerias que pareciam lucrativas acabaram com vários clubes do interior. Agora, os investidores estão se infiltrando cada vez mais em times tradicionais. Temo que clubes com quase cem anos de história acabem por acreditarem em promessas de formar esquadrões.

A promessa de dinheiro fácil para todos provocou uma crise mundial sem precedentes, imagine para o nosso já combalido futebol.

Até a próxima.

Para a contratação de Ronaldo pelo Corinthians. Desde a chegada do jogador, só se fala no assunto. Bela jogada de marketing. Só não concordo com o clube abrir mão de 80% de duas cotas de patrocínio para pagar o atleta. No campo técnico, é lógico que não vai ser o mesmo jogador melhor do mundo em três oportunidades. Mas com um bom planejamento físico, com ele jogando uma vez por semana, é bem provável que Ronaldo faça sucesso no time paulista. Aliás, a chegada de Ronaldo vai fazer com que os times grandes paulistas corram atrás de reforços para suas equipes.

Leio várias opiniões de que Ronaldo teria traído o Flamengo para acertar com o Corinthians. O fato de ele ter usado o clube para se recuperar e ter se declarado flamenguista não significa que seria obrigado a voltar a jogar pelo rubro-negro. O centroavante, como todo profissional, aceitou a proposta que ele julgou ser a melhor para a sua carreira. Jogar apenas nas costas do atleta o fato de ele não ter ficado no Rio de Janeiro é a melhor maneira para encobrir mais uma incompetência da diretoria do Flamengo --que não deve ter feito uma proposta para Ronaldo, pois estava cuidando da festa do título do Campeonato Brasileiro.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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