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Futebol na Rede

14/04/2003

A evolução do torcedor

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Durante nossa vida fazemos várias trocas. Sem pensar, muitas vezes mudamos de carro, de profissão, de emprego, de esposa, de ideologia, de partido político, e de gênero musical, mas uma coisa, por mais que se esforce, você nunca irá trocar: o time do coração. O clube pode estar em último lugar, sem dinheiro, sem elenco, sem títulos, mas você não o troca. Talvez, num ato de desespero, até tente abandoná-lo, mas logo percebe que não o larga.

Então por que você não troca de time? Simples, porque desde antes de nascer você já era bombardeado para torcer para um determinado time. Você pode não ter percebido, mas a relação de amor (muitas vezes de ódio) entre o torcedor e seu time funciona assim:

Gestação até os 6 anos

Durante os noves meses na barriga da sua mãe você já é bombardeado com as informações de qual time você irá torcer. O avô faz questão de dar o primeiro presente, alguma coisa que tenha o símbolo do time de coração. Os pais compram roupas com a cor do time que você deverá torcer. Alguns pais chegam ao exagero de, perto da barriga da mãe, cantar o hino do clube.

Você nasce e na porta do seu quarto na maternidade já existe o símbolo de um clube de futebol. No seu armário vai ter um macação de algum tipo.

Ao crescer, vai recebendo informações de futebol. Desde recém-nascido seu pai te coloca na barriga para. assistir uma partida de futebol. Ao começar a entender as coisas e participar das conversas, você só vai ouvir sobre futebol.

Por volta dos cinco anos você vai o estádio pela primeira vez. E vai todo paramentado (camisa, boné, ...) e se o time do seu pai vencer você pode ganhar mais guloseimas e até uma bandeira. Se perder, _é lógico que seu pai vai escolher um jogo que a equipe não corra risco de ser derrotada_, o seu pai vai afirmar que você dá sorte e suas idas ao estádio irão aumentar. Não importa se faça frio ou calor, se é noite ou tarde.

Decisão: entre os 5 e 8 anos

Com o futebol fazendo parte da sua vida desde antes de você nascer, agora chegou o momento da escolha que irá fazer parte da sua vida inteira. O seu pai fez tudo para que o herdeiro(a) tivesse o mesmo time que o seu. Mas você, que já começa a ter noção do que é ser campeão, já começa a identificar a diferença entre ser o primeiro e o décimo, começa a ter influências de colegas de escola e, principalmente, qual o time que está ganhando mais ou aparecendo na mídia. Todo pai espera que seu clube esteja bem quando o seu filho chegar à essa faixa etária, senão a chance de haver um "ovelha-negra" na família é muito grande.

Fanatismo: entre os 8 e 15

Depois de definir o time, você se torna um fanático por futebol. Como já tem fluência na leitura, vai começar ler tudo sobre futebol e procurar conhecer a história do clube. Nesta fase você sabe a escalação de todos as equipes do país, coleciona figurinhas e camisas, e saberá qual a marca de chuteira que tal jogador usa. Quando tiver mais idade, as lembranças mais vivas da sua memória esportiva sairão dessa fase. Sem dificuldades, saberá as escalações de vários times, gols e partidas dessa época.

Indepêndencia: entre os 15 e final da faculdade

Agora você já começa a fazer grupos para acompanhar as partidas. Sua independência está decretada quando você vai assistir a um jogo fora de sua cidade e com seus amigos. Ao mesmo tempo, o futebol se torna um bom pretexto para uma reunião, onde você estará preparado para encher a paciência de torcedores de outros clubes. Você continua um torcedor ferrenho do seu time, indo aos estádios e acompanhando a colocação que ele está participando. Os outros campeonatos você acompanha,
mas não com o mesmo interesse que antes.

Maturidade: entre o final da faculdade e o nascimento de seu filho

Existem muitas coisas para concorrer com o futebol, como sua carreira profissional e sua esposa. Você tenta vencer a concorrência para continuar acompanhando seu time. Com muito esforço, obtém êxito. Então você começa a ficar mais preguiçoso e prefere assistir pela televisão e deixa de ir aos estádios.

Renovação: nascimento do(s) filho(s) até ele chegar aos 15 anos

O nascimento de seu filho faz você voltar a fazer que o seu pai fez com você. Agora é a sua vez de fazer o filho virar um torcedor. Você volta a acompanhar tudo para ficar preparado para qualquer pergunta que ele fizer. O futebol vai ser uma boa maneira para conversar com o seu filho. Você volta a freqüentar estádios sempre tentando fazer com que ele se torne torcedor do seu time. Se não for, paciência, esteja preparado para boas discussões futebolísticas com ele.

Lembranças: da independência dos filhos até.

Seus filhos já estão criados, você já está aposentado e agora o futebol se torna um bom amigo. Agora você não lê jornais com tanta freqüência, o rádio passa a ser seu maior companheiro para saber sobre o futebol. Você vai ficando cada vez mais nostálgico, falando que o futebol atual é muito pior que o do passado. Adora quando seus netos te perguntam a história do futebol. Com o passar do tempo, sua visão vai piorando e você prefere "ver" lances que ficaram na sua memória.

Pobres daqueles que não gostam de futebol ou não torcem por nenhum time.

Até a próxima.

O destaque   O que deveria ser destaque
Que seja resolvido mais rápido possível o caso do volante Roberto, da Ponte Preta. Se o time de Campinas utilizou o jogador de maneira irregular, que perca os pontos que obteve nas partidas contra Internacional e Juventude. Se a Ponte Preta tiver razão, que o tribunal então acabe logo com este caso que está atrapalhando a carreira do jogador (que não sabe se pode ser escalado) e o próprio time (que fica sem saber se tem quatro pontos ou não). Que a torcida do Palmeiras não se iluda com as promessas de grandes contratações para a disputa da Série B. Além do time não ter situação econômica confortável que permita a compra de reforços de nível, a grande verdade é que os jogadores procurados, por mais que eles digam diferente, não se sentem confortáveis em disputar a segunda divisão. Para muitos, disputar a Série B, mesmo pelo Palmeiras, seria um grande retrocesso em suas carreiras.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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