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Futebol na Rede

19/05/2003

O fim dos grandes times

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Para quem começou a acompanhar futebol no início da década de 70, é com grande satisfação que se assiste a Cruzeiro e Internacional na liderança do atual Campeonato Brasileiro. No início dos anos 70, julgo que tivemos a maior concentração de grandes times no país.

É lógico que o futebol brasileiro já teve times fantásticos como o "Expresso da Vitória" do Vasco no final da década de 40 e início de 50, o Botafogo de Garrincha e o melhor time de todos os tempos, o Santos de Pelé, que teve a maior hegemonia do futebol nacional.

Esses times eram tão superiores aos outros que praticamente não tinham adversários. Um ou outro poderia tirar um título, ou aplicar uma goleada nessas máquinas, mas logo em seguida esses esquadrões voltavam a dominar o futebol brasileiro.

Mas no início dos anos 70 tínhamos de sete a dez clubes com times de primeira categoria, que contavam com seis ou sete jogadores que poderiam estar na seleção. O Cruzeiro, com Raul, Nelinho, Joãozinho, Palhinha, Zé Carlos e Piazza, e o Internacional, de Manga, Figueroa, Falcão, Jair, Valdomiro e Dario, eram obrigados a enfrentar a segunda acadêmia do Palmeiras, com Leão, Luís Pereira, Ademir da Guia, Leivinha, o São Paulo, com Pedro Rocha, o Santos, com Pelé no final de carreira, a máquina do Fluminense, o Santa Cruz, do artilheiro Ramon, e poderia citar mais cinco ou seis grandes times.

Infelizmente, não podemos deixar de constatar que os atuais elencos dos atuais líderes do Brasileirão são infinitivamente mais fracos que os de 30 anos atrás. É triste constatar que não existem grandes clubes no atual futebol brasileiro. Não existe o time a ser batido. Todas as equipes, até o Cruzeiro, que no momento está jogando o melhor futebol, têm jogadores titulares que até pouco tempo nem pensariam em estar atuando em grandes times.

Não podemos negar que a grande maioria dos atuais jogadores são de terceira categoria, veteranos em final de carreira ou jovens promessas que pensam em ser negociados o mais rápido possível. Nossos principais jogadores estão nos centros da Europa, e os de nível intermediário estão preferindo jogar em centros menores, como Turquia, Rússia e Ucrânia, do que ser titular em qualquer grande clube. Pelo menos nesses lugares eles conseguem receber.

Outra característica diferente dos grandes times da década de 70 para os de atualmente está no fato de que aqueles mantinham a base por vários anos. Atualmente, dificilmente um time consegue manter o mesmo grupo por um ou dois anos. A transferência de jogadores e técnicos é tão grande que muitas vezes não conseguimos lembrar que determinado jogador teve uma passagem por nosso clube.

Espero que o futebol brasileiro consiga se organizar o mais rápido possível para podermos assistir a grandes times e não a equipes que hoje só são chamadas de "grandes" graças a seu passado.

Abraço.
Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para as eliminações de Corinthians e Paysandu pelos argentinos River Plate e Boca Jrs, respectivamente, na Taça Libertadores da América, jogando na frente de suas torcidas. Que esses resultados nos façam reconhecer que os argentinos, ao contrário do que pensamos, não sabem apenas dar pancadas, mas têm grandes jogadores que se aproximam muito da técnica dos melhores atletas brasileiros. A campanha do Marília na Série B do Campeonato Brasileiro. No torneio que todos esperavam que Palmeiras, Botafogo, Sport e Lusa dominassem, a equipe do interior paulista termina a quarta rodada como líder. A atual situação do time não deve ser tratatada como um acaso. O clube nos últimos dois anos já conseguiu chegar à elite do Campeonato Paulista e no ano passado foi vice-campeã da Série C.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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