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Futebol na Rede

02/06/2003

Artigo: Falta de planejamento

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Planejamento e bom senso são termos que não fazem parte do vocabulário dos nossos dirigentes. Isso não é nenhuma novidade, mas este ano estamos perto de viver uma situação inusitada. No momento em que o Campeonato Brasileiro começou a embalar e os torcedores, jogadores e técnicos estão tomando gosto pela fórmula dos pontos corridos, com a Copa do Brasil e a Copa Libertadores chegando à fase final, três seleções brasileiras (a principal, a sub-23 e uma sub-20) deverão ser formadas para disputarem a Copa das Confederações, a Copa de Ouro e os Jogos Pan-Americanos.

Se o nosso futebol fosse organizado, os campeonatos seriam paralisados para que pelo menos a nossa equipe principal pudesse fazer uma preparação digna. Mas isso não vai acontecer e os clubes serão obrigados a jogar várias rodadas sem seus principais jogadores. De uma hora para a outra terão que mudar esquemas, escalações. Quem garante que o Cruzeiro sem Maurinho, Luisão, Deivid, Alex vai continuar como melhor do campeonato? Será que o Corinthians sem Fábio Luciano, Kléber e Liédson vai continuar sua reação? Ou o Internacional sem suas revelações vai seguir disputando a liderança?

Como sempre imediatistas, os "gênios" que comandam nosso futebol se apressarão em criar medidas para tentar remediar essa situação. Primeiro pedirão que os técnicos das três seleções não convoquem mais de dois jogadores por clube. Como isso é praticamente impossível, com três seleções sendo formadas quase ao mesmo tempo, será pedido aos clubes que esqueçam a lei que afirma que o time com três jogadores em seleção tem o direito de não entrar em campo. Se o Santos estiver na final da Libertadores, não serão convocados seus jogadores. E outras medidas irão sendo tomadas de emergência conforme os problemas forem surgindo.

Desta forma, não só os clubes mas também as seleções serão prejudicadas. Carlos Alberto Parreira (principal), Ricardo Gomes (sub-23) e Valinhos (sub-20) terão que fazer mágica para montarem seus times. Parreira, pelo menos, pode convocar -e já convocou- atletas que atuam no exterior. Já Ricardo Gomes e Valinhos terão que entrar em acordo com o técnico da seleção principal para saber quais jogadores poderão ter. Portanto, no final das contas, teremos três times improvisados, que muito provavelmente não terão o rendimento adequado.

O próprio Parreira, desde que voltou ao comando da Seleção está sofrendo com isso. Com times improvisados, o técnico não está conseguindo ter resultados e já está sofrendo críticas. Na hora de analisar o trabalho de um técnico, só olhamos os resultados e os de Parreira são ridículos.

Sem perceber, os jogadores também são vítimas dessa desorganização. Tirando a satisfação de vestir a camisa do Brasil, eles têm pouco a ganhar. Podem queimar sua carreira jogando em times fracos. Além disso, muitos não podem ser convocados no melhor momento de suas carreiras. Se o Santos for à final da Libertadores, quando poderemos observar Diego, Robinho, Renato e Elano com a camisa da Seleção?

Nessa falta de planejamento, os únicos que ganham são os responsáveis por toda essa bagunça. A CBF, que ganha muito dinheiro com as partidas das várias seleções, e os dirigentes de clubes, que se associam a empresários e vendem alguns jogadores medíocres como sendo de seleção.

Até a próxima.

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O destaque   O que deveria ser destaque
Para o atacante Liedson, do Corinthians, que marcou quatro na goleada do Corinthians contra o Vitória. Além da velocidade e dos dribles rápidos, o que chama atenção no jogador é sua colocação na área. Talvez isso, somado ao crônico problema dos nossos zagueiros em bolas altas, explique a quantidade de gols de cabeça que ele marca, mesmo tendo apenas 1,72m de altura. Com o "Estatuto do Torcedor", que obriga a divulgação da renda e público, voltou a tona um velho problema: a evasão de renda. Os números apresentados, em muitas vezes, não representam a realidade das pessoas que existem no estádio. Em alguns casos, o próprio público acaba vaiando os números apresentados. Isso para não falar nos jogos em que o público pagante é menor que o número de pessoas que entram sem pagar ingresso.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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