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Futebol na Rede

30/06/2003

Artigo: Comemoração e Preocupação

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Há exatamente um ano, a seleção de Luiz Felipe Scolari conquistava o quinto título mundial ao país. Motivo de festa. Mas, desde a final com a Alemanha, o Brasil entrou em declínio. A má fase já começou com os problemas na chegada dos campeões, passou por resultados pífios em jogos contra times do segundo escalão e culminou recentemente na precoce eliminação na Copa das Confederações --mais do que isso, no péssimo futebol apresentando.

Nunca é demais lembrar que no próximo dia 7 de setembro a seleção inicia sua participação nas eliminatórias da Copa-2006. O que mais me preocupa não é o sufoco que passamos em algumas partidas das últimas eliminatórias, muito menos a possibilidade de não conseguirmos uma vaga, mas a dependência que o nosso futebol ainda sofre dos pentacampeões.

As fracas atuações de jovens como Kléber e Gil na Copa das Confederações, a má fase de Kaká e a impossibilidade de saber qual será o comportamento de Robinho e Diego com a camisa do time principal não dão a Parreira outra opção senão escalar a base de Scolari. O técnico viu que continua sendo impossível montar um time forte sem os "estrangeiros" e que uma brusca renovação seria um grande risco.

Conservador, Parreira não arriscará seu cargo e nossa classificação com jovens ou atletas sem experiência internacional. Com isso, chegaremos a 2006 com um time competitivo, porém envelhecido. Aos novatos, devem caber, no máximo, uma ou duas vagas.

Voltando ao penta, vale lembrar a situação de nossos heróis um ano depois:

Luiz Felipe Scolari (em alta) - O técnico sabia que a campanha na Ásia seria esquecida na primeira derrota da seleção. Corretamente, deixou o cargo e assumiu Portugal. Sabe que o título da Eurocopa no próximo ano garante emprego em qualquer grande clube desse continente. Nas eliminatórias, sua volta à seleção brasileira será cogitada em caso de mau resultado de Parreira.

Marcos (em baixa) - A carreira do goleiro vem sofrendo uma série de quedas. Seu clube caiu para a Série B do Brasileiro. Descartou proposta do Arsenal. Teve uma seqüência de contusões. Fez inúmeras declarações mal-sucedidas. E, por último perdeu, espaço com Parreira ao pedir dispensa de um amistoso no México.

Dida (em alta) - Recuperou a confiança e firmou-se como titular do Milan, onde foi o grande nome na conquista da Copa dos Campeões. É o preferido da dupla Parreira/Zagallo.

Rogério Ceni (na mesma) - Continua titular no São Paulo e sabe que, se for convocado, seguirá como mero coadjuvante.

Cafu (em alta) - Mesmo veterano, não vê ameaça na lateral direita. Fez boa temporada e transferiu-se ao Milan.

Belletti (na mesma) - Fez um campeonato regular na Espanha e só mantém-se como opção na seleção pela incapacidade de outros laterais.

Lúcio (em baixa) - Contundiu-se ainda no ano passado e só voltou a atuar no final da temporada alemã. Mesmo assediado por grandes clubes europeus, está longe de suas melhores condições. Foi mal na Copa das Confederações.

Roque Júnior (em baixa) - Outro que se machucou após a Copa. Mesmo recuperado, não conseguiu se firmar como titular do Milan.

Edmílson (na mesma) - Foi campeão francês, mas não como titular absoluto. Seu futebol continua sem inspirar confiança, mesclando grandes exibições com atuações medíocres.

Anderson Polga (em baixa) - Também tem sofrido com a má fase de seu time. No último Brasileiro, destacou-se mais pela violência do que pelo desarme. Está contundido.

Roberto Carlos (em alta) - Como Cafu, não tem concorrentes à altura em sua posição. Além de ser considerado um dos melhores atletas do planeta, conquistou o Mundial interclubes e o Campeonato Espanhol.

Júnior (na mesma) - Continua lutando para ser titular no Parma, ainda assim tem o mérito de ser lembrado sempre nas convocações.

Gilberto Silva (em alta) - Maior revelação da seleção na Copa-2002, foi para a Inglaterra e fez sucesso, tornando-se titular absoluto num time cheio de estrelas. O volante joga mais avançado no Arsenal e faz muitos gols --inclusive o mais rápido da história da Copa dos Campeões.

Kléberson (em baixa) - A expectativa de uma transferência para Europa fez com que ficasse muito tempo sem jogar. Quando voltou, não demostrou o mesmo futebol, mas continua com moral com Parreira.

Vampeta (em baixa) - Antes de se contundir, chamava mais atenção por suas provocações aos adversários. Só deve voltar aos gramados em outubro.

Ricardinho (em baixa) - Jogador que muitos pediam no time titular de Scolari, voltou da Copa com moral e conseguiu uma transferência milionária para o São Paulo. Depois de um ano, ainda não conseguiu justificar a fama que tinha no Corinthians. Também decepcionou na Copa das Confederações.

Juninho (em baixa) - Mais uma grave lesão o impediu de jogar desde então.

Kaká (em baixa) - Era considerado a maior revelação brasileira, até o surgimento da dupla Robinho/Diego. Seu futebol desapareceu, e a própria torcida são-paulina o vaia. Segue com o rótulo de não atuar bem em decisões.

Rivaldo (em baixa) - Um dos heróis da Copa, deixou o Barcelona e foi para o Milan, onde não se adaptou, teve problemas pessoais e amarga a reserva.

Ronaldinho (em baixa no futebol, em alta no mercado) - Teve uma temporada ruim no Francês, com direito a brigas com o técnico do PSG. Provou nas Copas das Confederações que ainda não é o jogador para liderar a seleção, mas tem crédito para ser cotado para o Manchester United.

Ronaldo (em alta) - Foi para o "time dos sonhos", onde começou irregular, mas fez algumas boas partidas na Copa dos Campeões e ganhou o Campeonato Espanhol, com atuações decisivas nas rodadas finais. Livre de contusões, foi eleito o melhor jogador de 2002 pela Fifa e continua sendo nosso principal jogador.

Denílson (na mesma) - Continua no Betis aplicando seus dribles. Como seu time, começou bem a temporada, mas caiu de rendimento no fim, devido a uma lesão.

Luizão (em baixa) - A única coisa que fez nos últimos 13 meses continua sendo aquele pênalti cavado na estréia da Copa. Depois, foi um desastre completo no Hertha Berlim.

Edílson (em baixa) - Conseguiu ir mal no Japão e ser dispensado pelo Kashiwa Reysol. Como Vampeta, chama mais atenção por sua declarações.

Pensando bem, pouco importa como os jogadores da campanha do penta estão hoje. O que interessa é estarem no auge na hora certa. E chegaram lá em junho do ano passado.

Até a próxima.

ARQUIBANCADA
Mande suas dúvidas, opiniões ou perguntas para: futebolnarede@folha.com.br

Debates
Pela primeira vez li sua agradável coluna hoje. Sou professor do Departamento de Economia Rural da UFPR. Participo como comentarista em um programa diário ao meio-dia de debate sobre a bola na TV Iguaçu, retransmissora do SBT no Paraná. Muito satisfeito com seu texto, senti-me obrigado a escrever para parabenizá-lo pela sinceridade e pelo bom humor. Tenho o maior prazer de lhe informar que conseguimos atingir momentos de 35 a 40% de audiência feminina. Inspirados em um programa semelhante da TV de Minas Gerais, também filiada do SBT, somos exatamente aqueles sobreviventes das TVs locais. Suas palavras me deram um certo orgulho. Nosso modelo conta com um apresentador idôneo e dinâmico e três comentaristas completamente parciais, cada um para seu time daqui (Paraná, Atlético e Coritiba).

Rodrigo Meister de Almeida (rmeister@onda.com.br)
Curitiba- PR

Resposta Obrigado. Mais do que a audiência feminina, espero que se proliferem pelo Brasil os debates regionais de futebol e que abram campo de trabalho para mais jornalistas.

Oposição
Pela primeira vez, um clube importante do futebol brasileiro se insurge contra a ditadura, as falcatruas e o continuismo da CBF. Com o anúncio de que não vai votar na reeleição do Ricardo Teixeira, o São Paulo demonstrou lucidez, coragem e, mais do que tudo, interesse em ajudar a modernizar o nosso combalido futebol. Principalmente fora de campo. Vocês, da imprensa, têm de pegar esse exemplo e fazer um grande barulho. É hora de abraçar essa causa e espalhá-la por todo o Brasil. A podre dinastia da CBF tem de acabar. Já fez muito mal para o nosso futebol. Como palmeirense fanático, parabenizo esse golaço da diretoria do São Paulo.

Wanderley Dóro (wdoro@uol.com.br)
Moema/São Paulo

Resposta
Algumas considerações: outros times, como o Coritiba e o Atlético-MG, já se rebelaram contra a CBF. Vale a tentativa do São Paulo de apoiar outro candidato. Mas não podemos esquecer que o clube do Morumbi só virou oposição após a entidade ter vetado sua participação num torneio caça-níquel na Coréia, a Copa da Paz.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para o Cruzeiro, que mesmo desfalcado de Alex, Edu Dracena, Maurinho e Aristizábal, que estiveram na Copa das Confederações, conseguiu se manter na liderança do Campeonato Brasileiro. Agora, com o elenco completo, o time orientado por Wanderley Luxemburgo tenta conseguir seu primeiro título do Nacional e entrar na história como o primeiro clube que conquistou a Copa do Brasil e o Brasileiro na mesma temporada. A bagunça e a desorganização que os torcedores do Santos enfrentaram para comprar ingressos para a final da Taça Libertadores da América. Está certo que alguns pontos do Estatuto do Torcedor só entram em vigor no final do ano, mas organizar filas, colocar vários pontos de vendas de ingresso e impedir a ação descarada de cambistas não necessitam qualquer reforma em estádios, mas sim um mínimo de planejamento.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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