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Futebol na Rede

28/04/2009

Ronaldo e os contra-ataques

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Sempre gostei de analisar o que o Ronaldo faz nos gramados. Era um incômodo observar como só se falava da sua vida longe do campo. Tanto que a pressão estava tão forte em cima dele que não tive dúvidas em aconselhar o jogador a abandonar a carreira para ter um pouco de privacidade.

Por sorte ele voltou a jogar --e muito bem-- e hoje, depois de muitos gols, ainda bem que ninguém fala mais do que o centroavante faz nos seus dias de folga ou do seu peso. Ronaldo foi perfeito ao afirmar que a cada gol marcado ele fica mais magro. Jogando, Ronaldo está provando porque foi três vezes eleito o melhor do mundo.

Observe. Ronaldo quase sempre pensa mais rápido até do que seus companheiros. Em algumas jogadas, nem seus próprios colegas de time conseguem entender o que o craque quis fazer. Falta de entrosamento? Não. É mesmo diferença na velocidade de raciocínio na hora de executar a jogada.

É lógico que o centroavante corintiano não tem a mesma velocidade que tinha há alguns anos. Mas com a experiência ele aprendeu como se colocar melhor em campo. Pode reparar: ele consegue só na movimentação evitar ficar em impedimento e, com isso, sempre está em vantagem nas arrancadas em relação aos zagueiros --os últimos gols contra São Paulo e Santos ilustram muito bem isso-- e aparecer livre na frente dos goleiros adversários.

Também não é preciso nem comparar a quantidade de vezes que Ronaldo é flagrado em impedimento em relação aos outros atacantes. Isto é colocação, que o ajuda também a sempre estar desmarcado. Por mais que os técnicos adversários cobrem que não se pode deixar o camisa 9 do Corinthians sozinho, ele consegue escapar da marcação com facilidade.

Ronaldo não está fazendo sucesso pela fragilidade dos jogadores que atuam no futebol brasileiro. Está certo que com o êxodo dos nossos principais jogadores alguns titulares dos nossos principais times nem sonhariam em estar em uma grande equipe, mas pela vontade que está demonstrando e pela sua técnica, ele conseguiria ter um bom desempenho em qualquer liga do planeta.

Não é nenhum exagero dizer que o maior artilheiro da história das Copas do Mundo transformou o futebol brasileiro, de clubes, a ser notícia no mundo todo. Fala-se muito da seleção, mas a repercussão dos nossos campeonatos, até o Brasileiro, é nula. Com Ronaldo, o Campeonato Paulista passou a ter uma divulgação ampla e o próximo Nacional vai ser muito mais comentado --por exemplo, na América Latina, o nosso principal torneio perde em repercussão para os da Argentina e do México.

Também o retorno de Ronaldo pode servir como atração para que grandes jogadores pensem realmente em voltar a jogar no país, ou, no mínimo, que os que estão aqui pensem duas vezes antes de irem para alguns países sem expressão da Europa ou da Ásia.

Contra-ataques

Já abordei este tema aqui, mas é incrível como no atual estágio do futebol brasileiro todas as equipes estão armadas para jogar no contra-ataque. Não adianta. Um time, quando precisa tomar a iniciativa, criar uma jogada para furar a defesa do adversário, tem inúmeras dificuldades.

As equipes não têm criatividade, ficam tocando a bola de um lado para o outro sem a mínima objetividade. O meio-campo não funciona na armação e os laterais, quando avançam, acabam errando os cruzamentos. Isso sem dizer as inúmeras tentativas, totalmente inúteis, de zagueiros que tentam fazer lançamentos.

O que acontece atualmente é que criamos times que só sabem jogar quando têm a vantagem no placar. Ganhando e com o contra-ataque na mão é uma maravilha, toques de primeira, chapéu e objetividade. Mas em desvantagem no placar é um tormento.

Sempre se disse que quem joga para empatar, perde. Mas no futebol brasileiro de hoje, quem fica atrás tem grande chance de vencer.

Até a próxima.

Finais em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Nas Alterosas, o Cruzeiro praticamente garantiu o título com a goleada, mais uma, sobre o Atlético-MG. O time de Adilson Batista tem tudo para chegar longe na Libertadores e é um dos favoritos para o Campeonato Brasileiro, desde que a diretoria não desmonte o time. No Estadual do Rio, tudo igual. O Flamengo conseguiu o empate e agora vai enfrentar o Botafogo desfalcado de Maicosuel. Com o time de General Severiano sem o seu melhor jogador e o fraco ataque flamenguista, não será nenhuma surpresa se o título for decidido nos pênaltis.

Pouco gente fala do Sport. Mas é sempre bom dizer que, além de conquistar o Campeonato Pernambucano, o time conseguiu a classificação antecipada no grupo mais equilibrado da Taça Libertadores. Se perdeu para o Palmeiras em casa, foi forte para vencer o Colo Colo, no Chile, e conseguiu empatar em São Paulo. No mata-mata, o time vai precisar muito da força da sua torcida. Por isso, seria providencial que a diretoria abaixe o preço dos ingressos nos jogos na Ilha do Retiro, já que longe de casa o time mostrou força.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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