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Futebol na Rede

28/07/2009

Gerações diferentes

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Eles estão juntos na porta do estádio. Pela diferença de idade, deduzo que se trata de um avô e do seu neto. Logo se percebe a impaciência do menino afoito querendo entrar logo no estádio o mais rápido possível. Já o avô, com décadas de estádio, faz força para segurar o menino para que ele espere a revista dos guardas. E lá vão os dois juntos para a arquibancada. Vão subindo aos poucos cada degrau da arquibancada e sentam-se juntos.

Mais uma vez, o avô aguarda com paciência o início da partida, enquanto o garoto não se cansa de perguntar quanto tempo falta para a bola começar a rodar. O avô olha longe, com certeza, pensando em quantas vezes assistiu jogos naquele mesmo lugar. Concentrado, parece rever jogada dos craques de histórias que não se cansa de contar para o neto. Ensaia um sorriso. Pode ser de alguma tirada do neto, ou da lembrança de um gol que há muitos anos não viu.

Já o garoto não para. A cabeça se mexe muito, aponta para todos os lados, parece descobrir em apenas alguns segundos tudo aquilo que seu avô demorou muito tempo para saber. O menino não para de tentar acompanhar, ainda sem a coordenação ideal, o ritmo das palmas dos torcedores.

Chega o momento do anúncio das escalações. O menino repete cada número e nome de jogador que aparece no placar eletrônico. Já o avô fica olhando para o chão, batendo as pernas, como num ritual, tentando memorizar a formação dos times. O menino já consegue identificar o número da camisa com o jogador.

Já o avô preferia o tempo que os titulares usavam camisa apenas com numeração de 1 a 11. Assim, era até mais fácil identificar os atletas do adversário.

"Quem vai jogar na ala-direita?", pergunta o neto. O avô demora para responder. O tempo exato para se lembrar que o que é ala hoje ele conheceu como half (ou halfo, aportuguesado) e depois ficou conhecido como lateral. Mas o menino recebe a resposta.

Entra o time em campo, o menino logo se levanta e começa a gritar, o avô mais uma vez pouco demonstra emoção. Mas a maneira como ele bate o pé contra os degraus da arquibancada mostra como a emoção dele é exatamente a mesma da empolgação infantil do seu neto.

Começa a partida. O menino se empolga com qualquer chutão do time, enquanto o avô parece não gostar do que vê. Se o neto aplaude o passe curto do volante, o senhor parece inconformado com a incapacidade de um jogador profissional em dar um passe mais longo.

A sequência de cruzamentos na área, de qualquer parte do gramado, anima o menino, que vê na bola perto do gol do adversário a chance iminente de um gol. O avô parece pedir que o time pare de alçar bola para facilitar o trabalho dos altos zagueiros do time adversário.

De repente, um contra-ataque e surge o gol do adversário. O menino parece não se conformar e pede o consolo do colo do avô. Ainda digerindo o tento, o avô não esquece do seu papel e fica alguns minutos conversando com o neto, passando a mão na sua cabeça. Esses gestos parecem ser o sinal que o neto precisava para saber que a virada poderia acontecer.

Intervalo

O menino pede para ir ao banheiro. Lá vão os dois descendo pela arquibancada, com o avô com uma das mãos segurando o menino e na outra as blusas que eles levaram. Voltam antes de a bola rolar e se sentam quase no mesmo lugar.

O time começa a pressionar e o menino fica empolgado com os gritos. O avô também ensaia alguns gritos. O empate acontece, ambos se abraçam. Faltava a virada, o menino não se cansa de pedir o camisa 30, um atacante. O avô, ao que parece, não parece ser muito fã do artilheiro, pois dá para ver a cara de desapontamento quando o preferido do neto pega na bola.

A virada acontece, o avô comemora e acha energia para jogar o neto para cima. Agora, da maneira que eles vibram, não se percebe quem é a criança e quem é o idoso. Comemorando a vitória, os dois se tornam crianças de mesma idade, apesar das mais de seis décadas de diferença entre eles. Depois da vitória, caminhando juntos e alegres, os dois se perdem no meio da multidão.

Só o futebol transforma um senhor em criança e amadurece um menino tão rápido em apenas um lance.

Até a próxima.

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Mesmo a diretoria negando, está claro que o Corinthians está desmanchando o seu elenco. Uma pena, já que o time estava com uma base forte e agora vai ter que remontar a equipe para disputar o restante do Campeonato Brasileiro, e principalmente para jogar a próxima Taça Libertadores. O grande problema é que a venda dos jogadores pouco vai render aos cofres do clube e, o que é pior, para montar um time com o mesmo nível e vitorioso o Corinthians vai ter que gastar muito mais do que recebeu até agora.

Merece destaque a reação do Avaí. O time, que até poucas rodadas segurava a lanterna do Campeonato Brasileiro e já era apontado como um dos rebaixados, engrenou uma sequência de vitórias. Muito dessa reação se deve à diretoria do clube, que manteve o técnico Silas no cargo apesar dos tropeços iniciais. Fato raro, os dirigentes catarinenses não esqueceram do longo trabalho do técnico que foi responsável pelo acesso do time e por tirar o Avaí de um longo período sem títulos do Campeonato Catarinense.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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