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Futebol na Rede

12/08/2009

Os clubes precisam reagir

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

O fato de a direção do Palmeiras conseguir sentar e discutir com o seu parceiro a manutenção de seus principais jogadores durante a janela de transferência pode ser considerado um marco. O fato revela que os nossos clubes não precisam ser tão submissos, aliás, como todos se acostumaram a ser com parceiros, empresários, jogadores, federações, patrocinadores e até televisão.

Está certo que essa condição de inferioridade dos clubes é culpa das próprias equipes. Digo, sem nenhum medo de errar, que mesmo com um pequeno avanço e alguns poucos atos positivos, os clubes continuam sendo administradas muito mal. Só vou conseguir acreditar em alguma administração quando um clube conseguir sobreviver sem a venda de jogadores para se manter com sucesso.

Esse modelo já foi adotado faz tempo pelos clubes e fez com que os nossos jogadores ficassem cada vez menos valorizados. Com a necessidade de fazer dinheiro, os clubes perderam poder de negociação e praticamente entregam de graça seus principais jogadores. Isso é fácil de se perceber. Não faz muito tempo as nossas equipes vendiam um atleta e conseguiam se manter em uma boa situação por alguns anos. Hoje, com o dinheiro das transferências, em que apenas uma pequena parte fica com o clube, mal dá para pagar a folha de pagamento do próximo mês.

Por culpa dos próprios clubes, que aceitaram essa situação, hoje eles praticamente dilapidaram seu maior patrimônio, que era o direito de um jogador. Se nós pegarmos os nossos grandes clubes, todos têm jogadores, geralmente os principais, que não pertencem ao time.

É duro constatar que times de tradição praticamente tiveram o seu departamento de futebol sendo terceirizado ou loteado. Alguns até já fizeram isso com as suas categorias de base, o que vai tornar os clubes mais dependentes dos parceiros ou empresários.

Fica difícil de explicar que na última semifinal da Copa do Brasil, entre Corinthians e Vasco, um mesmo agente tinha quase 20 profissionais entre os jogadores, inclusive os dois técnicos empresariados por ele. Alguns jogadores, inclusive, com os direitos adquiridos pelo empresário e repassados aos clubes.

Deixando de lado os atletas e seus agentes, é fácil perceber como os clubes também se dobram às federações e à CBF. Essa situação acontece pela dependência, principalmente econômica dos clubes com essas entidades (também na cabeça dos dirigentes há um consenso que um bom relacionamento com quem manda no nosso futebol pode gerar uma ajuda, principalmente nas arbitragens).

Os clubes são obrigados a engolir essas entidades, porque a maioria deles deve dinheiro a elas. Há aqui uma situação irreal. Como as entidades, que são formadas pelos clubes, podem ser ricas e ter dinheiro para emprestar, enquanto os clubes vivem em situação falimentar?

Quando um clube se rebela contra essas entidades, em poucos dias essa reclamação termina, em troca de mais um empréstimo, convite para chefiar a delegação da seleção brasileira em um amistoso ou apoio para que seu estádio seja incluído como sede da Copa do Mundo de 2014.

Da mesma maneira os clubes continuam reféns das transmissões de televisão, que hoje sustenta os clubes e também serve de banco, já que as equipes não se cansam de pedir antecipação de cotas. Ou seja, dependentes e até devedores das TVs, os clubes perdem poder de negociação.

Até o Clube dos 13, que surgiu como uma associação que iria dar aos clubes mais poder, hoje pouco atua para dar a eles mais poder na estrutura do nosso futebol. A entidade hoje cuida apenas de intermediar contratos financeiros, principalmente a venda dos direitos de televisão, e pouco atua na estrutura administrativa do nosso futebol.

Até na discussão da mudança do calendário, o Clube dos 13 não tomou uma posição oficial. E nem vai tomar. Os clubes vão deixar, como sempre, que a CBF decida para eles.

Os clubes precisam aprender a usar a força que têm.

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Até a próxima.

Com a sequência de dois jogos por semana, foi possível perceber que alguns clubes caíram muito de produção durante essa maratona de jogos. Sem um elenco forte, principalmente de bons jogadores reservas, o Vitória, que chegou a ficar na zona de classificação para a Taça Libertadores, começou a tropeçar e caiu muito na classificação. O Santo André, também com um elenco recheado de jogadores experientes, sentiu muito as partidas a cada três dias e depois de um bom início já se aproxima perigosamente da parte final da tabela. Por outro lado, times mais estruturados conseguiram dar um salto bom na tabela. Exemplos disso são Palmeiras, Goiás e São Paulo. Outro time se deu bem nessa fase de jogos seguidos foi o Avaí, com um time com vários jogadores que estão há muito tempo no clube.

Mais três técnicos perderam emprego no final de semana. O prestigiado Ney Franco foi despedido após o seu time perder para o São Paulo, no Morumbi, e um jogo incrível para o Atlético-PR. Detalhe: antes dessas duas derrotas, o time ficou um bom tempo invicto. Já Carpegiani caiu pela sequência de maus resultados e uma discussão com a diretoria. Renê Simões deixou o Coritiba pela situação incômoda que o clube está na classificação, motivada pelo péssimo início quando o time perdeu muitos pontos por dar prioridade à Copa do Brasil. A esperança desses times é que eles tenham a mesma reação do Atlético-PR, que com Antônio Lopes no comando conseguiu três vitórias seguidas, contra Fluminense, Cruzeiro e Botafogo.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

Comentários dos leitores
Anderson Brito (30) 12/08/2009 10h46
Anderson Brito (30) 12/08/2009 10h46
Seria interesante que os colunistas, uma vez ou outra, comentassem algumas materias, como nós fazemos aqui nos foruns! o que acham? sem opinião
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Maximilians Smart (2) 08/12/2008 20h26
Maximilians Smart (2) 08/12/2008 20h26
Juca: "Essa história do Tardelli é uma palhaçada... uma tentativa de birra do presidente da federação com o presidente do SPFC, que levou a melhor na queda de braço sobre o Estadio pra Copa"... é, Trafic, tentou o gás, tentou o Tardelli... que mais tentarão?! 1 opinião
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nelson tadeu godoy (37) 08/12/2008 09h24
nelson tadeu godoy (37) 08/12/2008 09h24
ser presidente da federação paulista de futebol é uma profissão , que o diga o marco polo del nero 1 opinião
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