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Futebol na Rede

17/11/2009

Árbitros: discussões eternas

HUMBERTO PERON
Colaboração para Folha Online

Não passamos uma rodada sem comentar os erros da arbitragem. Agora, na fase final do Campeonato Brasileiro, os erros são amplificados. Um equívoco pode decidir o campeão ou o rebaixamento de uma equipe. Antes de tudo é preciso dizer que não é exclusividade da atual geração de árbitros brasileiros cometer erros históricos.

Na história do torneio, desde 1971, não faltam casos de campeonatos que foram decididos por erros graves pelos homens do apito --com certeza você já pensou em pelo menos dez jogos em que o seu time foi prejudicado.

Não defendo a tese de que os erros do árbitro são bons para o futebol porque garantem discussão durante a semana. Muito menos sou um daqueles que adoram que o time vença mesmo que seja "roubado". Sou partidário de que as vitórias da minha equipe sejam incontestáveis, sem que ninguém possa questionar o triunfo.

Voltando aos apitadores.

Todos nós sabemos que não é fácil dirigir uma partida no Brasil. Os jogadores são manhosos, os dirigentes fazem pressão, existem milhares de câmeras numa partida, os árbitros são julgados sem muita ética por antigos colegas que esperam a repetição do lance para dar seu veredicto e criticá-lo. Creio que os árbitros sejam honestos e conheçam a regra do jogo.

Também existe o fato de que os árbitros não contam com qualquer apoio da comissão de arbitragem. Nunca um dirigente da arbitragem vem a público dizer se o árbitro acertou ou errou em um lance polêmico. Os árbitros, coitados, precisam se defender sozinhos de todos os ataques.

Então, o que faz os árbitros brasileiros cometerem tantos erros? Aliás, vamos ser honestos --árbitros de todos os cantos do planeta, inclusive os europeus, não se cansam de cometer erros absurdos.

Penso que um dos grandes problemas da arbitragem brasileira sempre foi que os árbitros se envolvem demais nas partidas.

Eles não conseguem ficar longe do clima do jogo. Se você reparar, as declarações dos árbitros antes da partida são parecidas com a dos jogadores que vão entrar em campo. Está certo que o árbitro precisa estar concentrado, mas é muito ruim para quem vai decidir o que marcar numa fração de segundo ter o mesmo nível de ansiedade do jogador.

Também vejo com envolvimento o árbitro saber tudo o que a partida representa. Todos os homens do apito sabem exatamente o que a partida vai decidir. Por exemplo, se um time vencer o jogo, o que vai mudar no campeonato. Também sabem os jogadores que estão pendurados com cartão amarelo. Os árbitros sabem disso, por mais que eles neguem. Você pode reparar nos jogos finais: se pensa muito para dar um cartão para um jogador em um lance que no meio do torneio seria punido com amarelo. Isso é bem claro.

Esse envolvimento demasiado faz o árbitro apitar uma partida pensando na escala na próxima rodada. Por isso, os árbitros inconscientemente tendem a fazer uma arbitragem mais política, inclusive protegendo aquele time mais forte nos bastidores. Isso leva a grandes distorções na arbitragem.

Vamos usar o exemplo do jogo Náutico e Flamengo. Estava muito claro que o gol anulado do time pernambucano foi uma decisão acertada do árbitro e do seu auxiliar. Agora o que não dá para entender foi como Sandro Ricci precisou de cinco minutos de conferência com os auxiliares e com o árbitro reserva.

Se ele marcasse o impedimento logo de cara acabaria qualquer discussão ali. Mas, com certeza, a importância da partida fez com que ele ficasse tentando buscar apoio na sua decisão. Quem pode garantir que nesse período todo ele não foi comunicado que a TV provou que ele teria que anular o gol? Ele foi extremamente cuidadoso, porque sabia que sua decisão prejudicaria o torneio.

Infelizmente os árbitros brasileiros sabem que se não forem políticos suas chances de escala na próxima rodada são pequenas. Ou, o que é pior, podem ter sua carreira prejudicada.

A história é velha, mas indica muito como se comporta quem decide o que vai acontecer com a carreira dos árbitros no Brasil. Atualmente, os árbitros sabem que a situação não mudou.

Na célebre decisão do Campeonato Paulista de 1971, aquele jogo em que Leivinha, do Palmeiras, marcou um gol de cabeça no São Paulo, mas que o árbitro --não vou dizer o nome dele aqui-- anulou o gol dizendo que a finalização foi com a mão. No lance, o novato auxiliar Dulcídio Wanderlei Boschilla correu para o meio indicando que o gol foi legal, expondo ainda mais o erro do árbitro principal.

O egocêntrico árbitro parece que nunca esqueceu a falta de solidariedade do seu auxiliar. E, muito bem relacionado, evitou que Boschilla, mesmo apitando inúmeras decisões de Campeonato Brasileiro e sempre sendo escalado nos jogos mais complicados, nunca chegasse aos quadros da Fifa.

Sem distanciamento total do que uma partida significa o árbitro nunca vai conseguir fazer o julgamento correto dos lances.

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O Fluminense pode não se salvar do rebaixamento, mas não se pode tirar o mérito do técnico Cuca na reação espetacular do clube. Ele provou ser um excelente treinador. Mesmo pressionado de perder o cargo, fez a aposta certa em afastar alguns jogadores mais experientes que não estavam rendendo e conseguiu dar um padrão de jogo para um time que entrava em campo desesperado.

O Avaí para a excelente campanha no Campeonato Brasileiro. Mesmo sem grandes investimentos, a equipe vai terminar à frente de equipes que gastaram muito mais em reforços e com a comissão técnica. Se não perdesse alguns pontos no início do torneio, quando demorou em se adaptar ao ritmo de jogos da Série A, a equipe de Silas, estaria brigando firme por uma vaga na próxima Libertadores.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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