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Futebol na Rede

01/12/2009

Não vamos estragar um campeonato

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

O Flamengo tem tudo para ser campeão brasileiro. Ou melhor, hexacampeão. Se for --deve ser-- será de forma merecida. Não tenho nenhum sentimento de culpa em dizer que até demorei muito para acreditar que o rubro-negro teria time e elenco para ganhar um torneio de pontos corridos.

Eu estava errado, pois o Flamengo mostrou muita força no momento decisivo. Aliás, mostrou capacidade de decidir contra os seus rivais, ganhando com autoridade de seus principais adversários.

Por exemplo, na reta final, não perdeu dos seus concorrentes diretos ao título. Venceu o Palmeiras e o Atlético-MG, empatou com o Internacional, jogando como visitante, e venceu o São Paulo, de virada, no Maracanã.

Poderia falar do acerto na efetivação do Andrade, da contratação certa de jogadores experientes, da importância do Pertkovic e dos gols do Adriano, mas tudo isso prefiro comentar na próxima semana.

O que eu realmente temo é que o título do Flamengo fique marcado pela suposta entrega de jogo pelo Grêmio no próximo domingo, o que mancharia um torneio que foi excelente e emocionante. Afirmo sem nenhum medo de errar que o rubro-negro venceria os gaúchos, com o time completo. Até porque o time gaúcho pouco incomodou como visitante.

Aliás, o termo entregar é muito forte quando se fala em futebol profissional. Isso pode ser coisa de torcedor, que não quer que seu maior rival ganhe o título. Mas dirigentes e jogadores não podem cair neste clima da torcida.

Nenhum torcedor, se pensasse um pouco melhor, pediria para os seus jogadores perderem uma partida. Como a torcida pode cobrar o empenho do mesmo grupo se ele pediu para o time perder? Que moral teria os torcedores de chamarem seus atletas de "sem vergonha" e "mercenários" se pedem que eles entreguem uma partida?

Deveria ser um princípio básico que um clube sempre tentasse colocar em campo o seu melhor time e que ele lutasse pelo campeonato. Até porque, na dinâmica do futebol, o time que você teoricamente prejudica hoje pode ser aquele que você vai precisar no próximo campeonato.

Por isso eu não aceito, por mais que existe rivalidade, que jogador e diretor possam insinuar que não vão se empenhar tanto numa partida.

O jogador não pode esquecer também que o nome dele vai ficar manchado se participar de uma armação dessas. O mundo do futebol é pequeno e só uma desconfiança de uma entrega de jogo, por mais que se tenha uma explicação, vai influir no futuro da carreira do atleta.

Todos nós sabemos que não apenas as possíveis facilitações de resultados ou os incentivos com as famosas malas de dinheiro geram uma séria de discussões que podem manchar um campeonato, por melhor e mais disputado que ele seja.

Que nunca mais tenhamos um caso como o do Barueri, que afastou dois dos seus principais jogadores, Renê e Val Baiano, para a partida contra o São Paulo. Por mais que seja uma questão interna do clube, que os dirigentes quisessem punir os atletas e clube não tivesse a intenção de favorecer ninguém, essa atitude deu espaço para muitas especulações, principalmente depois que o clube reintegrou os atletas, logo em seguida.

Mancham o torneio e geram desconfiança as decisões do tribunal. Causam estranheza as punições diferentes que jogadores levam quando são enquadrados em um mesmo artigo e em lances semelhantes. Também parece muito estranho o critério para chamar ao tribunal jogadores que são flagrados fazendo irregularidades.

A partir de agora se espera que os auditores tenham um comportamento mais sério e não se deixem ser flagrados fazendo brincadeiras com os cabelos de jogadores e deixem entender que as punições podem ser menores de acordo com o time que o atleta jogue.

Não custa nada um capricho melhor na elaboração da tabela, evitando que a mesma cidade tenha dois jogos no mesmo dia, principalmente na fase final, que os jogos são no mesmo horário. Uma mudança de cidade gera sempre polêmica.

Os jogadores poderiam evitar protestos ridículos como o de Felipe, do Corinthians, no pênalti cobrado por Léo Moura. Ao ficar parado, ele gerou uma desconfiança. Se ele quisesse protestar, a melhor maneira de provar que o árbitro errou era defender o chute. Ficar parado, no centro do gol, vai contra a essência da posição que é evitar um gol de qualquer maneira.

Também não custa nada parar o torneio na semana que a seleção joga. Muitos clubes vão reclamar que perderam pontos importantes porque tiveram jogadores convocados e precisaram jogar desfalcados em algumas partidas.

Bom, sei que sou um sonhador, mas também acho que infelizmente o futebol --não só no Brasil, como no planeta todo-- ainda está muito longe de ser um mundo ético e que um torneio só se resolve dentro dos gramados.

Até a próxima.

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Na última rodada do Campeonato Brasileiro, das dez partidas, seis decidem o destino dos clubes. Já que quatro equipes ainda contam com chances de conquistar o título. Também ainda estão abertas vagas na Taça Libertadores, sem dizer a luta dos clubes para continuarem na Série A. Se os clubes achassem um prêmio conseguir uma vaga para a Copa Sul-Americana, esse número subiria para oito partidas --apenas Corinthians e Atlético-MG e Avaí e Náutico não definem nada.

Sport e Náutico caíram. Uma pena que Recife, cidade que ama o futebol e tem três times de tradição, vai ficar fora da Série A do próximo ano. O desastre maior foi do Sport, que no ano passado ganhou a Copa do Brasil, foi bem na Libertadores e depois da eliminação no torneio intercontinental perdeu o rumo totalmente. Assim, o futebol do Nordeste perde mais uma vaga na Série A e em 2010 e só vai ter dois representantes: o Vitória e o Ceará, que acabou de conseguir o acesso.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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