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Futebol na Rede

01/04/2002

Fórmula Rio-São Paulo

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Todo ano existe uma semana em que o automobilismo passa o futebol em divulgação: é a do GP Brasil de F-1. Somos sempre bombardeados com informações técnicas (descobrimos que pneu X funciona melhor do que o Y em temperaturas elevadas) e repetidas matérias sobre os pilotos brasileiros, os fãs vestidos de Ayrton Senna e a janela alugada por algum morador do Cingapura de Paulo Maluf, que tem a melhor visão da pista.

Enquanto esperava o início da rodada do Torneio Rio-São Paulo assistindo ao duelo dos irmãos Schumacher em Interlagos, percebi que há boas semelhanças entre as equipes da F-1 e do Rio-São Paulo deste ano _apesar de a interação entre automobilismo e futebol não ter dado certo com Pelé sendo responsável pela bandeirada final.

Palmeiras - Ferrari
Além da origem italiana, os dois amargaram longos jejuns: o time de futebol ficou na fila entre 1976 e 93, e a escuderia, de 1979 a 2000. Só voltaram ao topo do pódio quando conseguiram fortíssimos parceiros (Parmalat e Michael Schumacher). Depois que quebraram o tabu, começaram a dominar o esporte _Palmeiras foi bicampeão paulista e brasileiro em 1993 e 94, e a Ferrari é atual tricampeã de construtores.

Corinthians - Williams
Os dois têm em comum o fato de sempre estarem disputando títulos com jogadores ou carros que não são os melhores. Podem ficar um ou dois anos sem estar entre os primeiros, mas sempre voltam favoritos.

São Paulo - McLaren
A equipe inglesa dominava a F-1, e o time paulista era o melhor do Brasil no final dos anos 80 e início dos 90, e ambos serviam de exemplos para rivais. Depois de um pequeno espaço sem títulos, voltaram a vencer no final da década. Atualmente, estão em crise _o São Paulo não vence há quatro partidas, e os Mclaren ainda não funcionaram em 2002.

Vasco - BAR
Dois campeões mundiais estão à frente desses times (Romário e o canadense Jacques Villeneuve), mas nem com esses talentos conseguem atingir o topo _a BAR construiu um carro medíocre, e o Vasco tem um grupo de atletas limitado, sem contar um dirigente, cuja eficiência é bastante discutível.

Flamengo - Jaguar
Muito dinheiro investido, má organização administrativa e nenhum resultado. Inúmeras trocas de técnicos de um lado, e mudanças de engenheiros e projetistas no outro. Tentaram resolver os problemas com ídolos do passado _o Flamengo apostou em Carlinhos, e a Jaguar, em Niki Lauda_, mas a crise prevalece.

Santos - Lotus/Botafogo - Tyrrel
Eles dominavam o futebol brasileiro e a principal categoria sobre quatro rodas nas décadas de 60 e 70 e contavam com gênios nas respectivas modalidades _Pelé, Garrincha, Ayrton Senna e Jackie Stewart. Depois do período de glória, passaram por dificuldades técnicas e financeiras e caíram no ostracismo. Espero que o destino nos gramados não seja o mesmo no asfalto.

São Caetano - Sauber
Além da cor azul, ambos se aproveitam com "sobras" dos "grandes" para surpreender _o atual bivice-campeão brasileiro se recheia de jogadores que não descartados por times de tradição, enquanto a equipe suíça é propulsionada por motores Ferrari antigos. Também revelam talentos: Magrão, Claudecir e César, e Kimi Raikkonen e Felipe Massa.

Fluminense - Renault
Como o clube carioca, que caiu para a terceira divisão brasileira, a ex-Benneton chegou ao fundo do poço construindo carros tão ruins que chegaram a andar atrás da Minardi. Ambos passaram por um trabalho de reestruturação e voltam a estar entre os melhores, mas ainda não chegaram ao momento de conquistar um título.

Lusa - Jordan
São as equipes do "quase". Quando estão na iminência de se tornarem "grandes", algo inesperado acontece. Até mesmo a grande injeção financeira parece não funcionar com eles. Grandes jogadores ou revelações não dão certo na Lusa, mas estouram em outros clubes, assim como os pilotos que passam pela Jordan.

Etti - Toyota
O clube do interior paulista e a equipe oriental passaram quase dois anos se preparando para estar entre os melhores, e estão conseguindo bons resultados na temporada. Se o presente é similar, o futuro reserva destinos diferentes a eles. O primeiro perdeu a poderosa multinacional Parmalat, e a segunda segue com o rico apoio da fábrica japonesa.

Guarani/Ponte Preta - Arrows
Os coadjuvantes. Uma ou outra boa partida ou prova e nada mais.

Bangu/América/Americano - Minardi
Não fazem jus à elite, à qual estão integrados. Atrapalhar mais do que participam.

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O destaque   O que deveria ser destaque
A classificação do Palmeiras para as semifinais do Rio-São Paulo, a Copa dos Campeões e o Superpaulista com duas rodadas de antecedência. Mesmo não apresentando um grande futebol a equipe de Luxemburgo só perdeu uma vez (duas vezes no ano) e é a mais regular e eficiente da competição. A seleção brasileira ainda não jogou _nem ao menos treinou_ com a bola da Copa. No Brasil, são utilizadas três marcas diferentes: uma na Copa do Brasil, outra no Rio-São Paulo e outra na Libertadores. Como elas servem de desculpas para falhas, seria bom que o time nacional comece a se familiarizar logo com o produto, para evitar futuras surpresas.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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