Colunas

Futebol na Rede

15/12/2003

Artigo: Mentiras e verdades sobre os pontos corridos

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Depois de uma maratona de 552 jogos e nove meses de competição terminou o primeiro Campeonato Brasileiro disputado em pontos corridos. Se a atual fórmula de disputa não conseguiu agradar a todos, pelo menos nos dá chance de discutir sobre dois temas: o próprio regulamento e mentiras atribuídas ao formato do torneio.

Fórmula

Sempre esperei que o Brasileiro fosse disputado em pontos corridos. Confesso que, no geral, fiquei satisfeito com o torneio. Mesmo com o Cruzeiro conquistando o título por antecipação, tivemos emoções até a última rodada, com as lutas pelas vagas na Libertadores e na Sul-Americana e o desespero de várias equipes para escapar do rebaixamento.

Mas, para que o campeonato de pontos corridos se tornar uma unanimidade, ainda são necessários mais alguns ajustes.

Em primeiro lugar, é preciso a redução do número clubes. Mesmo com a proposta de o torneio chegar a ter 20 equipes em 2005 continuo achando esse número alto. O meu Brasileiro ideal teria cinco divisões com 16 equipes cada, todas disputadas no sistema de pontos corridos. Com esse número de times o torneio seria realizado em apenas 30 rodadas.

O grande problema do modo que é disputado o Nacional hoje é que ele esquece totalmente os times pequenos, que aos poucos estão morrendo. Por isso, minha proposta é composta de cinco divisões.

As três primeiras divisões seriam formadas pelos 48 times que estão nas Séries A e B atualmente, e nesses três campeonatos haveria o descenso e o acesso de quatro equipes. A quarta e a quinta divisões seriam formadas de acordo com o resultado dos times nos campeonatos estaduais.

Com menos datas no Campeonato Brasileiro, os estaduais teriam mais espaço. Além de servirem como eliminatórias para os clubes menores, os torneios regionais serviriam para que os times das principais divisões pudessem fazer uma preparação adequada para o torneio nacional.

Imagine a Série A com 16 times e com o descenso de quatro. Além da disputa pelo título, teríamos 14 ou 15 colocações valendo algo para os times (quatro ou cinco vagas na Libertadores, cinco na Copa Sul-Americana e quatro no rebaixamento). Com 16 times, aí sim teríamos, em cada jogo, uma decisão.

Outra coisa que precisa ser mudada urgentemente é inscrição de jogadores nas equipes. O ideal é que os clubes fossem impedidos de contratar novos atletas durante o torneio. Se precisassem de novos jogadores, teriam que utilizar os atletas de suas equipes de base. O elenco para todo o torneio teria de ser decidido antes do seu início.

Mas, para que isso fosse viável, seria necessário que o nosso calendário fosse igual ao futebol mundial, ou seja, que a temporada tivesse seu início em agosto e terminasse em julho do outro ano. Sem essa mudança, os nossos times continuarão sendo desmontados no meio do campeonato. Sem dizer que isso permitiria aos nossos clubes disputar torneios de pré-temporada na Europa.

Mentiras

Leio que o Brasileiro de pontos corridos apresenta números técnicos fracos, com o aumento da violência e queda no número de gols. É um grande absurdo que esses números sejam atribuídos à fórmula da competição. O grande problema tem de ser atribuído a fragilidade e o baixo nível dos elencos da grande maioria dos atuais times brasileiros (em "Os números mostram" explico essa situação).

Outro erro é atribuir a queda da média de público ao regulamento do torneio. Nem vou falar da crise econômica, mas o campeonato --mesmo com o sistema de finais-- vinha apresentando seguidas quedas de média de público. Não se pode esquecer que os dois times que têm as maiores torcidas do país (Flamengo e Corinthians) fizeram campanhas pífias, e que duas das dez maiores massas de torcedores do país (palmeirenses e botafoguenses) não estiveram no torneio.

Para terminar, o atual estado de penúria dos nossos clubes não pode ser atribuído ao sistema de pontos corridos. Não se deve jogar no atual sistema do Campeonato Brasileiro a incompetência secular dos nossos dirigentes em administrar o nosso futebol.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para o campeão Cruzeiro, que mesmo após garantir o título não diminuiu o ritmo. Após confirmar a conquista inédita na vitória sobre o Paysandu, o time mineiro venceu o Fluminense, por 5 a 2, e aplicou uma goleada histórica no Bahia (7 a 0). Com essas vitórias, o clube mineiro chegou as incríveis marcas dos 100 pontos ganhos e de 102 gols marcados. Números que dificilmente serão batidos na história do Campeonato Brasileiro. Enquanto a maioria dos clubes do interior de São Paulo estão em sérias dificuldades, merecem destaque as equipes do Ituano e do Santo André. A equipe de Itu foi campeã da Série C do Campeonato Brasileiro. O time do ABC teve um ano brilhante. Conquistou a Taça São Paulo de Futebol Júnior, garantiu uma vaga na Copa do Brasil de 2004, ao vencer a Copa Estado de São Paulo, e foi vice-campeã da Série C do Campeonato Nacional.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

FolhaShop

Digite produto
ou marca