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Futebol na Rede

12/04/2004

Artigo: Seleção brasileira, Rogério Ceni e baladas verdes

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Nas últimas duas semanas, a esmagadora maioria das mensagens que "Futebol na Rede" recebeu tratava, e pedia, a minha opinião sobre três assuntos: a atuação da seleção brasileira contra o Paraguai, as críticas feitas ao goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, e as saídas noturnas dos jogadores do Palmeiras, principalmente do artilheiro Vágner. Para atender o pedido dos leitores, vou aproveitar o espaço desta semana para dar minha opinião sobres esses três temas que agitaram o futebol.

Seleção brasileira

É lógico que o fuso horário e a falta de treinamento atrapalharam a seleção, mas a atuação do Brasil contra o Paraguai foi muito ruim, aliás o jogo foi péssimo. O grande problema do atual time de Carlos Alberto Parreira está no posicionamento de meio-campo.

Da maneira que está jogando --com uma linha de três volantes formada por Renato (pela direita), Gilberto Silva (centro) e Zé Roberto (pela esquerda)--, o time fica dividido em duas partes: sete jogadores na defesa e três jogadores isolados no ataque, ou seja, fica dividido em dois blocos distintos: defesa e ataque e o meio-de-campo não existe.

Talvez isso possa explicar porque o trio ofensivo formado por três jogadores excepcionais --Ronaldo, Ronaldinho e Kaká-- praticamente não conseguiu jogar contra os paraguaios. Falta ao time de Parreira armadores que liguem a defesa ao ataque, pois Kaká e Ronaldinho são meias-atacantes e não têm como características atuarem como armadores. Os jogadores ideais para essa função seriam Alex, do Cruzeiro (que não repete na seleção as atuações que tem no clube), e Juninho Pernambucano. O jogador do Lyon, nas poucas oportunidades que tem, acaba melhorando o rendimento da seleção.

Se Parreira, dentro da sua característica de mexer pouco no time, não quiser mudar em nomes, ele pode até manter Renato, Gilberto Silva e Zé Roberto. Mas ele vai ter que liberar Renato e Zé Roberto para chegarem ao ataque. Essa função eles já exercem nos seus clubes, Santos e Bayern, respectivamente. Vale lembrar que com eles jogando com liberdade, no primeiro tempo da partida contra o Uruguai, a seleção teve seus melhores momentos nas eliminatórias.

Outro problema, que determina o pífio desempenho do nosso ataque, está no fato do time atacar muito pelo meio. Contra os paraguaios, os três jogadores ofensivos não procuram se deslocar pelas pontas e centralizaram demais as jogadas. Os laterais avançaram pouco e, quando avançavam, principalmente Roberto Carlos, acabavam procurando as infiltrações pelo meio e não jogadas de linha de fundo.

Para os próximos jogos da eliminatórias contra Argentina e Chile, Parreira terá quase 20 dias para acertar a equipe, todos nós esperamos que consiga, pois, pelos jogadores que têm, a seleção não pode ter uma atuação tão fraca como aquela diante do Paraguai.

Rogério Ceni

Acho Rogério Ceni um grande goleiro, não no mesmo nível do Marcos e do Dida, mas muito perto disso. O condeno quando ele insiste em declarar que não falhou, quando todos viram ao contrário. Aliás essa sua postura o afastou de lutar por uma vaga na seleção, mas não concordo com a expressão "presepeiro" atribuída ao goleiro devido às suas saídas do gol para impulsionar o time. Talvez só quem atuou na posição sabe como é angustiante ficar observando a partida, ver seu time sem reação e não poder fazer nada. Não vejo nas atitudes de Rogério Ceni, de abandonar o gol e sair jogando, qualquer intenção de jogar o companheiro contra a torcida, mas sim uma chance desesperada de alertar o time que alguma coisa está errada.

Baladas verdes

Cada um deve fazer o que quer da sua vida, mas tem de assumir o que possa vir a acontecer. Os jogadores deveriam saber que seu principal patrimônio é o corpo e que uma seqüência de noites como poucas horas de sono vai influenciar no seu rendimento. Ninguém quer que os jogadores se tornem abstêmios, mas que eles tenham bom senso.

Nos dois flagrantes dados ao atacante Vágner, do Palmeiras, na semana do segundo jogo das semifinais contra o Paulista, faltou inteligência ao jogador. Ele deveria saber que ser visto na madrugada, mesmo não bebendo nada, daria uma grande confusão, ainda mais com o atacante fazendo tratamento para se recuperar de uma contusão e pedindo aumento de salários. Se um caso daria problema, imagine dois em apenas três dias?

Posso afirmar que os problemas criados pelas saídas noturnas dos jogadores foram fundamentais para a eliminação do Palmeiras no Campeonato Paulista. Antes do jogo, todos se preocuparam com o caso das baladas e esqueceram de se concentrar para a partida contra o Paulista e a desclassificação foi inevitável.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para São Caetano e Cruzeiro que, com os resultados do último final de semana, ficaram muito de perto de conquistarem os títulos dos Campeonatos Paulista e Mineiro, pois abriram vantagem de dois gols contra seus adversários, Paulista e Atlético, respectivamente. Já no Rio de Janeiro, com a vitória por 2 a 1 sobre o Vasco, o Flamengo tem a vantagem do empate, mas o Vasco precisa de apenas uma vitória simples para ficar com o título. Até o organizado futebol inglês sofre com o acúmulo de competições na Europa. Na última semana, tanto Arsenal como Chelsea foram obrigados a disputarem uma autêntica maratona. O Arsenal foi obrigado a jogar na terça, na sexta e no domingo, enquanto o Chelsea teve que entrar em campo na terça, no sábado e na segunda. Parece que nem a redução de jogos na Copa dos Campeões foi suficiente para diminuir o número de jogos de alguns dos principais clubes da Europa.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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