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Nutrição é Saúde

27/03/2007

A realidade do perfil nutricional dos escolares

Estudos realizados em diferentes locais do país apontam para um crescimento preocupante da obesidade infantil. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostram que a obesidade infantil atinge hoje mais de 5 milhões de crianças. Uma recente pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, em apenas 30 anos, o número de crianças e adolescentes do sexo masculino acima do peso no País subiu de 4% para 18%. Entre crianças e adolescentes do sexo feminino, o salto foi de 7,5% para 15,5%.

Com esse crescimento, estima-se o aumento das chances do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes, problemas nos ossos e articulações e até câncer, na fase adulta. Os problemas não são só futuros. Verificam-se danos já na fase infantil, como aumento da pressão arterial e do colesterol e maior incidência de diabetes tipo 2.

Estes dados têm provocado ainda um grande temor sobre o impacto que as doenças decorrentes da obesidade --encarada em todo o mundo como a epidemia do século 21-- irão causar na rede pública de saúde do país.

Entretanto, embora estes estudos pontuais indiquem um cenário preocupante, ainda se desconhece no Brasil a realidade do perfil nutricional de crianças e adolescentes que consomem a alimentação escolar na rede pública. Não se sabe que tipo de merenda está sendo servida aos alunos beneficiados pelo Plano Nacional de Alimentação Escolar, que é o maior e mais antigo programa de alimentação e nutrição do país, e se as recomendações nutricionais estão sendo atendidas.

Felizmente, há uma boa notícia nesse cenário. O governo federal inicia em abril, com a execução da Associação Brasileira de Nutrição, a Pesquisa Nacional do Consumo Alimentar e Perfil Nutricional de Escolares, Modelos de Gestão e de Controle Social do Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. Mais de 21 mil estudantes do ensino fundamental serão entrevistados, como também professores, merendeiras e diretores, em 690 municípios de todos os estados. É um estudo inédito em escala nacional.

Com a avaliação da composição nutricional dos cardápios oferecidos nas escolas e o estado nutricional dos alunos, será possível identificar carências e possivelmente corrigir deficiências nutricionais.

Esta é, sem dúvida, uma grande tarefa que o país tem pela frente: garantir não somente o alimento aos escolares, mas também assegurar sua qualidade nutricional.

Se conseguirmos que o cardápio escolar, além de suprir as necessidades nutricionais, também exerça uma influência positiva na criação de hábitos alimentares mais saudáveis, estaremos, sem dúvida, construindo uma nova saúde para a geração futura.
Andrea Galante é mestre e doutora em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de São Paulo, e presidente da Associação Brasileira de Nutrição. Escreve quinzenalmente na Folha Online, às terças-feiras.

E-mail: andrea.galante@uol.com.br

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