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Pai é Pai

16/11/2008

Super-heróis

Sinto-me seguro em casa. Afinal de contas, tenho dois super-heróis ao meu lado. E em tempo integral. Sofás, almofadas, cadeiras, mesas, nada é capaz de detê-los quando o assunto é garantir a segurança do universo na batalha contra vilões inescrupulosos e monstros do espaço. Pow! Crash! Soc! Katapum! E lá se vão os inimigos da justiça. Para bem longe, diga-se.

A coisa toda começou com o João. Desde pequeno, ele se habituou a viver aventuras em companhia de super-amigos como Super-Homem, Batman e Homem-Aranha. Teve até uma época em que ele simplesmente se recusava a vestir qualquer outra roupa que não fosse o uniforme de algum desses heróis. Logo veio o Pedro e, ainda mais precocemente que o João, herdou não apenas o gosto pela coisa, como também as fantasias que ficaram pequenas demais para o irmão mais velho. Ah, e ele também passou um bom tempo vestindo apenas uniformes, capas e máscaras. E tome Pow! Pá! Pum!

Claro que nada foi de graça. Tem, óbvio, muito de minha própria paixão por quadrinhos e heróis nessa preferência dos meninos. As HQs estão por toda parte, assim como os filmes em DVD. Gosto de sentar ao lado deles e folhear (no caso do Pedro) ou ler (no do João) as revistas com histórias fantásticas de aventuras com meus supers favoritos. O mais difícil é estar com a memória afiada para responder a todas as questões do garotos sobre quem é "do bem" e quem é "do mal", além de saber de cor a lista de poderes dos mais obscuros vilões da telessérie do Batman dos anos 60. Mas tudo bem, anos de cultura inútil nunca devem ser menosprezados. Ou alguém aí se lembra do lendário Cabeça-de-Ovo ou do bizarro Rei Tut?

Ultimamente, já comentei por aqui antes, o favorito dos meninos é o Ben 10. Garoto de 10 anos que acidentalmente encontra um bracelete alienígena (o Omnitrix) capaz de transformá-lo em ao menos dez aliens diferentes, cada um com um poder específico. Até este ponto, tanto eu quanto o João, e de quebra o Pedro, sabíamos de cor os nomes e pontos fortes e fracos de cada um. O fato é que de uma hora para outra --confesso, não tenho idéia de quando isso aconteceu--, o número de aliens começou a se multiplicar, o que me deixou na mais absoluta ignorância. "Afinal de contas, quem é esse Glutão?", perguntei outro dia. Para minha surpresa, foi o Pedro que respondeu: "É um alien gorducho que vomita uma gosma!". "Hã???" Ao lado dele, o João não falou nada. Apenas me lançou um olhar de complacência, como a dizer: "Mas que cara ignorante...".

A paixão pelo Ben 10 levou o João a desenhar à sua maneira o jovem herói e seus alienígenas. No início, eram apenas reproduções do Diamante, do Chama, do Insectóide e, o preferido do Pedro, do Besta. Aos poucos, os desenhos evoluíram para cenas representando batalhas de raios, vôos rasantes e combates mano-a-mano. A cada final de tarde, eu era surpreendido por dois, às vezes três, desenhos desse tipo. E todos devidamente acompanhados das explicações do João e da sonoplastia do Pedro, que vibrava: Pow! Pá! Pum!

Mas o mais bacana estava por vir. Semana passada, o João me mostrou o "seu" herói. Isso mesmo, o herói que ele havia criado, com super-poderes próprios, capa e uniforme. Nascia o incrível Super Star! Os desenhos do SS logo ganharam um roteiro até que se materializaram em pequenas histórias em quadrinhos. A princípio, tirinhas de três quadros até chegar à primeira história completa, de duas páginas inteiras, com direito a capa, de Super Star contra o Homem-Gorila! Uma aventura de moldes clássicos, uma batalha épica do bem contra o mal, com direito a muita a ação e a onomatopéias do calibre de Flash! e,claro, Pow! Pá! Pum!

Admito que foi difícil segurar a emoção, tamanha a surpresa. Ainda mais quando ele falou que havia feito a história para mim. Mas agüentei, cumprimentei-o pelo esforço, reconheci seu talento e me surpreendi mais uma vez quando ele me mostrou que havia criado não só outros heróis representando os demais membros da família (o Pedro recebeu o sugestivo nome de Asterisco!) como também já tinha outra idéia em mente para mais uma HQ. Uma verdadeira usina de idéias, esse menino. Adorei. Se cuida, Maurício!

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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