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Pai é Pai

12/07/2009

Férias nas montanhas

Enfim, férias. Pelo menos para eles, trinta gloriosos dias. Do lado de cá do balcão, a Mãe e eu conseguimos cinco dias de folga para que pudéssemos nos dedicar inteiramente aos meninos. E, num lance de ousadia desmedida de minha parte, propus levar a família para uma agradável temporada nas montanhas. Digo ousadia porque, pelo menos por aqui, semana passada fazia frio, muito frio. Mas achei que as crianças adorariam mais que mudar de cenário, mudar de ares. E numa manhã acinzentada de quinta-feira lá fomos nós rumo a São Bento de Sapucaí, cidadezinha cravada na divisa SP-MG, rodeada de muito verde e morros por todos os lados.

O dia não poderia estar mais feio. Durante todo o caminho de quase 200 quilômetros, a chuva praticamente não parou, ganhando, em alguns trechos, a ajuda de uma densa neblina. Enquanto os meninos se divertiam com o DVD do Scooby Doo e a Mãe devorava algumas revistas, eu matutava se havia tomado a decisão certa. Afinal, fora por minha insistência que estávamos nessa rota, atendendo a uma secreta paixão que nutro pelas montanhas e que todos os anos insiste em despertar justamente nesta época do ano. E se a chuva não parasse? Bem, aí eu realmente estaria com problemas.

Com água e temperatura caindo à medida que avançávamos, decidi por uma parada estratégica na simpática estação de trem em Santo Antônio do Pinhal. Ali, abrigados do vento gelado, era possível esticar as pernas, mostrar os trilhos para as crianças, saborear uns doces caseiros e provar o famoso bolinho de bacalhau do lugar. Vinte minutos, não mais, foram suficientes para reanimar a turma e determinar uma pequena correção de rumo: em vez de seguir direto para a pousada, almoçaríamos em Campos do Jordão, não muito longe dali e deliciosamente deserta na tarde de um dia útil.

O almoço revigorante foi devidamente seguido de copinhos de chocolate quente e um passeio pelo centro praticamente às moscas, o que dava a impressão de que Campos pode sim, durante as férias de inverno, ser um lugar agradável para se levar as crianças. Mas só se for de segunda a quinta, lembre-se. No final de semana, a cidade é tomada de turistas ensandecidos, adolescentes ruidosos, carrões fumacentos, capotes, casados e sobretudos de toda sorte. Obrigado, tô fora.

Chegamos a São Bento de Sapucaí às 18h em ponto. Por conta do tempo fechado, já estava escuro, mas isso não impediu os garotos de se aventurarem pelo lugar, explorando o que dava para explorar. Logo o João já apareceu com o programação infantil, que, para minha surpresa, contava com monitores locais: jogos, trilhas, filmes, atividades para o dia e a noite. "Posso papai, posso?" E lá se foi ele.

A pousada era extremamente confortável. Chalés amplos, restaurante acolhedor, parque, brinquedoteca, duas belas (e inacessíveis) piscinas não aquecidas e uma jacuzzi daquelas grandes, esta sim bem quentinha. Além disso, o lugar fica no alto de um morro, bem no meio das montanhas, com vista para a Pedra do Baú e dezenas de fazendas na região. O ar é puro e a paisagem, verde. Mas bem que poderia ser o contrário tamanha a força do cenário à nossa volta.

Nos dias que passamos ali, fizemos trilha no meio da mata, jogamos bola e percorremos infinitas vezes a ponte suspensa que ligava o playground à casinha na árvore. Em minutos, o Pedro e o João já caminhavam pelo local como se há muito o conhecessem. Fizeram amigos e, bem, muitas vezes, para a nossa surpresa (e, vá lá, ciúme!) preferiram a companhia dos monitores à nossa. Mas ok, ok, sei que é assim mesmo. E eles não eram os únicos.

No fim da contas, acabamos ficando até o final da tarde de segunda. Saímos uma vez ou outra, mas passamos a maior do tempo mergulhados na pousada. Hoje vejo que decisão foi a mais acertada. Tivemos tempo assim de aproveitar raros momentos de intimidade com os pequenos. Sim, por que na cidade, por mais que nos esforcemos todos os dias, a rotina acaba corroendo e automatizando as relações. Só quando escapamos dessa armadilha, é que notamos o quanto é efetivamente prazeroso poder estar com os garotos quase que em tempo integral. Claro que vez ou outra saía uma briguinha aqui, uma discussão ali, um nhém nhém nhém acolá, um chorumingo, mas assim é a convivência, a gente sabe, ninguém disse que seria diferente. E, na boa, que bom que é assim. Logo logo tem mais.

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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