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Pai é Pai

26/07/2009

Papo de boteco

Esta semana reencontrei uns amigos numa mesa de bar. Dia de jogo na TV, mulheres e crianças em casa, só homens. Éramos cinco. Chope, Jack Daniels, cachaça de Minas, porção de fígado acebolado, caldinho de feijão com torresmo, canapés de anchova, pasteizinhos diversos. Papo bom, daqueles que só velhos companheiros conseguem engrenar. Assuntos diversos na seguinte ordem --talvez não com 100 % de exatdião, visto que minha memória pode ter sido afetada pelo álcool e por aquele último pedaço de anchova, ms vamos lá:

1) Mulheres. Claro, afinal eu sou o cara da turma que trabalha na "PLAYBOY", aquele paraíso onde coelhinhas desfilam em trajes minúsculos e passam o dia servindo dry martínis batidos, não mexidos.

2) Viagens. Um dos companheiros tinha acabado de chegar de um safári na Namíbia. Não um safári comum, mas de uma verdadeira caçada, com direito a batismo com sangue de antílope e degustação do fígado, ainda cru, do animal recém-abatido.

3) Cinema. Outro tinha vindo direto do cinema direto para a mesa, ainda impressionado com um filme francês sobre um garoto curdo que decide ir do Iraque à Inglaterra a pé atrás da namorada perdida. Cabeça, mas bom. Pelo menos segundo ele. Vou ver.

4) Futebol. Lembramos dos tempos da faculdade, quando o amigo do sáfari era "o" craque do time, a despeito de sua silhueta arredondada e bermudões coloridos que ele teimava em usar em campo. Minhas qualidades como goleiro também foram exaltadas com entusiasmo enquanto na TV dependurada num canto do bar, o Corinthians, que nem é meu time, suava a camisa pra vencer o bom Vitória da Bahia. Entre um trago e outro, dava pra conferir os gols e as defesas milagrosas do Felipe no replay. Juro que nem notei quando acabou.

5) Problemas sociais. Logo o assunto enveredou para a política e as políticas assistencialistas (ou não, defenderam alguns) do governo Lula. Isso levou à uma discussão sobre educação, qualidade do ensino, escola e.....

6) Filhos. Não tem jeito. Por mais que o papo se estique para um lado, puxe para outro, retorça daqui, amarre dali, numa mesa onde os integrantes, todos na faixa dos 40, sejam pais uma hora o tema aparece. E aí, meu camarada, o negócio vai longe. "E aí, como fazer para que a coisa não desande?" Pois é, ainda que os filhos de todos ali não tenham mais do que nove anos, a preocupação é a mesma. "Por que será que por mais que alguns pais façam tudo aquilo que consideram certo, o filho acaba virando um vagabundo?" Ou: "Como explicar que pais relapsos produzam filhos responsáveis?" Ou ainda: "Até onde realmente vai a influência dos pais, da escola, dos amigos e, sei lá, quem sabe, da própria genética na formação de cada um?" Bem, é claro que não chegamos a resposta alguma, apenas divagamos embalados pelo álcool recordando a maneira como fomos criados e tentando assim, como que nos agarrando às lembranças daqueles momentos que vivemos junto aos nossos pais, defender algumas de ainda frágeis convicções sobre o assunto. De concreto, além da leve ressaca do dia seguinte e do prazer de ter reencontrado bons companheiros, resta a certeza de que o futuro dos nossos filhos, graçasadeus pequenos, ainda está sendo construído. E nós não vamos deixá-los sozinho nessa empreitada.

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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