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Pai é Pai

23/08/2009

A Volta 2

Depois de 45 dias de papo quase para o ar, os meninos voltaram às aulas nesta semana. No início, quando foi anunciada a decisão de se prorrogar as férias, confesso que achei uma grande bobagem. Afinal, que diferença fariam 15 dias a mais ou menos para uma epidemia que não para de crescer? Bem, mas no fim, acho que teve um efeito, ao menos psicológico, positivo. Essas duas semanas serviram de alguma maneira para tranquilizar os pais e, claro, levar os garotos ao delírio com mais alguns dias de brincadeira livre de qualquer obrigação pedagógica.

Neste período, e durante todo o período de férias, acompanhei a saga da Mãe em encontrar amigos disponíveis para a diversão. E não é que no final a coisa ficou bem mais fácil? Afinal, estávamos todos no mesmo barco e de repente a possibilidade de passar o dia na casa de um ou receber a visita de outro se revelava uma salvadora boia de borracha no meio do oceano. O mais legal foi a chance que os meninos tiveram de rever alguns antigos companheiros, explorar juntos brincadeiras inéditas e, o melhor, fazer novos amigos. Para eles, no fim, a gripe não representava uma ameaça, mas simplesmente a oportunidade de brincar ainda mais. E, assim sendo, aproveitaram ao máximo.

Claro que a escola, sobretudo a do João que está no segundo ano, não se furtou em enviar algumas lições de casa. Afinal, o cronograma estava correndo e era preciso, na opinião deles, ir preparando os meninos para o inevitável retorno. Confesso que achei desnecessário, mas, fazer o quê? O principal envolvido na questão, o João, encarou com naturalidade e fez suas tarefas sem reclamar. Nada muito complicado, verdade, mas ainda assim, tarefa! Mas ok, se ele não reclamou, por que eu reclamaria? E assim foi. O engraçado é que o Pedro, do alto de seus 3 anos, também exigia, ao ver o João debruçado sobre as folhas de papel com lápis e borracha nas mãos, fazer a "sua" lição de casa. "Mas papai, eu também tenho lição! Quero fazer agora!" E lá íamos nós com uma folha em branco e vários lápis coloridos cumprir a obrigação imaginária do esforçado menininho. Bem, pelo menos não dá pra dizer que a galera lá em casa tá gazeteando....

Mas teve outra coisa que eu só notei quando chegou o Dia dos Pais. Mas especificamente, dois dias antes, quando participei de um programa na TV e um dos convidados disse que por causa das férias prolongadas não teríamos as indefectíveis lembrancinhas confeccionadas pelos meninos. Coisas como camisetas marcadas com as mãozinhas em guache, bonés com impressão digital, misteriosas esculturas em papier marchè, cinzeiros de argila (ops, esse não pode mais!). Mas vejam bem, não estou reclamando não. Sério, adoro essas coisas! Guardo todas, mesmo que para isso tenha de desalojar alguns dos meus livros e bonequinhos do Ultraman prediletos. Então, foi aí que me toquei: "Puxa vida, esse ano não vai ter lembrancinha...." Mas, fazer o quê? É literalmente pelo bem da humanidade. Então me conformei.

E qual não foi a minha surpresa quando no domingo do Dia dos Pais, os garotos invadiram o meu quarto e pulando em cima de mim me encheram de presentes feitos por eles mesmos! Sim, eles haviam dedicado um pouco de todo aquele tempo extra das férias imprevistas confeccionar algo exclusivamente para mim! Puxa vida, foi difícil não chorar ali mesmo em cima dos lençóis. Nas mãos, traziam seis desenhos exclusivos (sendo uma caricatura minha!) e uma super especial e mágica varinha do Harry Potter feita inteiramente de... papel! Não podia ter sido melhor. Muitos podem até ter preferido o cinzeiro, eu sei, são tempos difíceis para quem fuma, mas para mim foi perfeito. E só posso dizer obrigado.

Fim

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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