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Pai é Pai

06/09/2009

O espaço

Sol, calor, poluição, trânsito, fumaça. Semana passada foram mais ou menos essas as condições enfrentadas por quem vive, ou sobrevive com asma, tosse e coceira, na cidade de São Paulo. No entanto, uma brecha azul no céu acendeu a lampadinha sobre a cabeça da Mãe. "E se a gente fosse para a praia?" Nada mais inspirado. E lá fomos nós, com os meninos excitadíssimos com a possibilidade de voltar a ver o azul do mar.

No sábado pela manhã, a viagem não poderia ter sido mais tranquila com poucos carros e estresse zero, a molecada se esbaldou nos túneis e curvas da estrada de Santos. Ao chegarmos na Baixada, o sol segurava-se firme no céu enquanto um brisa soprava preguiçosa, apenas com intensidade suficiente para tornar uma caminha à beira-mar um passeio agradável para papai, mamãe, vovó e meninos.

Justiça seja feita aqui, nunca fui lá muito fã de Santos e adjacências, salvo a época em que a Baixada era a única referência de mar para capiaus do interior feito eu. Falo aqui de uns trinta anos atrás! De lá pra cá, o litoral norte aos poucos empurrou Santos para o lado e assumindo-se como sinônimo de praia no verão. Pois bem, mas não é que a cidade tá muito bacana? Tranquila, com o amplo calçadão e areia limpa, a praia lançava um convite praticamente irrecusável aos garotos. Logo ao pisar no calçadão, o Pedro já foi tirando a sandália e disparando numa corrida alucinada. Logo atrás, o João também se livrou dos calçados e saiu no seu encalço. Enquanto os meninos sumiam areia afora, eu pensava em quanto era cruel por negar-lhes esse imenso prazer por absolta preguiça e falta de iniciativa. Sim, por que, além da curta distância, Santos ainda conta com um bem cuidado apartamento dos avós, o que nos garante um pouso seguro e confortável. Aí, só não vamos mais porque não nos mexemos!

Mas beleza, prometo reconsiderar essa minha letargia. O fato é que uma vez na praia, os garotos pareciam encantados com a amplidão, com a possibilidade de voar baixo a toda velocidade sem se preocupar com carros, bicicletas e afins. O que lhes fascinava era o espaço, algo que São Paulo insiste em lhes negar, ainda que procuremos levá-los sempre ao clube, parques e pracinhas. Na praia, no entanto, é diferente. Ali o espaço parece infinito. À frente da areia, o mar, ainda que se imponha como uma fronteira intransponível, não limita a sua visão e esse sentimento de vastidão. Bem, claro que eles não pensaram em nada disso. O que lhes importava era poder correr de um canal a outro até chegarmos ao aquário da cidade, onde, pela primeira vez, o Pedro esteve cara a cara com um pinguim.

"Mas é de verdade?", perguntou olhando para o grupo de animaizinhos, quase todos muito iguais, parados sobre a pedra. Até que um deles se aventurou para dentro d'água, depois mais um, outro, outro até que todos mergulhavam juntos. "É mesmo de verdade!!!! Achei que fossem robozinhos!!", vibrou o menininho com os olhos fascinados.

Engraçado como algo aparentemente tão simples é capaz de alegrar e surpreender as crianças. Às vezes, perdemos essa noção e gastamos horas preciosas em busca de um programa extraordinário, fantástico e piramidal que os agrade, esquecendo que o mais bacana talvez esteja bem mais próximo e seja tão especial como um final de semana de sol na praia com pinguins.

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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