Colunas

Pai é Pai

07/02/2010

O fim da moleza

Acabou a mamata. Primeiro para o Pedro, que, depois de quase dois meses de férias retornou às aulas no começo da semana passada. Amanhã é a vez do João. E, a julgar pelo seu ânimo nos últimos dias, ainda bem!

Na última segunda-feira, o dia começou diferente lá em casa. Quando acordei, me deparei logo de cara com o Pedro devidamente uniformizado, prontinho para ir à escola. "Papai, vamos? Tá na hora?", foi o seu bom dia. O menino tava empolgadíssimo, dizendo que tinha até sonhado com os coleguinhas. "Calma, Pedro, já vamos. Ainda tem um tempinho, vamos tomar café....", respondi ainda que meio atordoado, mais pra lá do que pra cá. Mas ele não parava: "Vamos logo!" No sofá da sala, o João, ainda de pijama com um livro no colo, apenas olhava. Ainda não havia chegado a sua vez. Droga!

Enquanto Pedro saltitava com seu uniforme e lancheira pela sala, era visível o desânimo do João. Nem a possibilidade de uma tarde inteira no clube parecia animá-lo. É engraçado isso. Durante todo o período de férias, eles estiveram praticamente grudados. Com o João sempre resmungando que o Pedro não largava do pé dele, que ele estragava as brincadeiras porque se metia em tudo, que ele não sabia lá muito bem jogar Star Wars Lego no DS, enfim. Mas agora, com o Pedro já com a mão na maçaneta puxando a sua malinha, o João era a infelicidade em pessoa. Pelo menos por hora.

No caminho para a escola, o Pedro não parou de tagarelar. Falamos sobre as cores das casas pelo caminho, caçamos fusquinhas, conversamos sobre as brincadeiras que ele faria com os amiguinhos. A escola era a mesma do ano anterior, o que dispensava apresentações e horas de "adaptação" para pais, alunos e professores. Na porta, na hora de entrar, foi como se as férias simplesmente não tivessem ocorrido: "Quero entrar sozinho, papai. Pode ir! Eu já sou grande!" À distância, acompanhei aquele garoto puxando a malinha até sumir escola adentro. "Buenos días!", ele lá me fui para o outro lado.

Enquanto isso, lá em casa, o João resmungava. Muito a contragosto, topou ir ao clube com a nossa valorosa assistente. Quando chegou lá, no entanto, topou com um colega de classe que também ansiava por um amigo de brincadeiras e os dois se acabaram na piscina. O mau-humor fora transferido para o dia seguinte. Ainda bem. Afinal, acho que caiu a ficha, ainda estava de férias e por que não aproveitar esse restinho de ócio preenchendo-o com altas doses de diversão? E assim foi, fiquei sabendo de sua própria boca na mesma noite.

Quando peguei o Pedro na escola, no fim do dia, a empolgação não havia diminuído. Pelo contrário, ele continuava com fôlego para seguir tagarelando todo o caminho de volta pra casa. Falou de como tinha sido legal reencontrar os amiguinhos antigos, que havia novos alunos, das brincadeiras no pátio, da aula de música. Só reclamou dos chamados "combinados", que estabelecem as regras de convivência e responsabilidade entres os alunos e professora. "Papai, esse ano tem muitos combinados!!!" Na verdade, sempre houve combinados, mas talvez dessa parte das aulas, ele tenha se esquecido. "Mas Pedro, é porque você está mais responsável, maior!", respondi sem, no entanto, notar qualquer mudança no seu aparente descontentamento. Mas não tinha motivo para estresse, afinal era o primeiro dia apenas e, até o final de semana, esse era um ponto que seria naturalmente superado, sobretudo quando na sexta-feira ele deveria assumir o importante cargo de "ajudante do dia", o que ele fez com inegável orgulho.

Luiz Rivoiro é pai de João, 8, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

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