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Papo de Esporte

15/04/2003

O complô da Fifa segundo os católicos

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Os italianos estão traumatizados com as arbitragens na última Copa do Mundo. Até a revista Famiglia Cristiana, ligada à Igreja Católica, formulou uma tese para tentar explicar o que ocorreu na Ásia em 2002.

A Itália se sentiu prejudicada ainda na primeira fase, contra Croácia e México (quando teve gols anulados), mas especialmente nas quartas-de-final, diante da Coréia do Sul. Esta partida tornou o juiz equatoriano Byron Moreno o personagem mais odiado no país. Ele expulsou o atacante Totti e anulou equivocadamente um gol da Azzurra. Por essas e por outras, na Sicília seu nome batiza um banheiro público.

Para o semanário católico, tudo não passou de um perverso plano da Fifa. O Famiglia Cristiana afirma que o objetivo da entidade máxima do futebol mundial é "tornar grandes os países emergentes e depois colonizá-los".

A colonização, segundo a revista, teria duas vertentes: uma é a exploração pura e simples dos novos mercados consumidores, "aumentando a venda dos produtos das empresas multinacionais" que patrocinam seleções e clubes.

Outro benefício de se fortalecer países pouco tradicionais no futebol, escreve o Famiglia Cristiana, é o surgimento de novos jogadores com potencial para serem exportados, muitas vezes a preço de banana, para os clubes da Europa.

E por que a Coréia do Sul, em vez do Japão, co-organizador do Mundial? "Porque o Japão é rico e arrogante" e "os coreanos despertam mais simpatia", sentencia a publicação.

A teoria polêmica _e de difícil comprovação_ só põe mais uma pitada de dúvida sobre o que estaria por trás dos incríveis erros dos juízes que trabalharam na Copa da Ásia.

Byron Moreno lucrou com o episódio: de tão comentado, virou celebridade na Itália. No início do ano, participou do programa de auditório Stupido Hotel, no qual se deixou ridicularizar. Até baldes d'água foram despejados sobre sua cabeça, entre outras brincadeiras de mau gosto. Foi um campeão de audiência.

A Itália estava quite: o homem que a fez chorar a fazia sorrir. Tudo bem, mas e se os erros não tiverem sido por acaso?


Lá e cá

- É claro que nem todos os italianos perdoaram Byron Moreno, que chegou a ser investigado pela Fifa (na verdade, uma pantomima) e foi suspenso por cinco meses em seu país por outra lambança. Este fanático fez uma série de montagens sobre a foto oficial do árbitro divulgada pela Fifa. Ficou muito engraçado. A melhor é a que Moreno segura a cabeça de Totti. Se você não conseguir ver todas as montagens, delete o número 5 que aparece na barra de endereços e digite enter.

- O juiz do Equador também inspirou um game na Internet. No Offside 2002, o objetivo é impedir que árbitros e bandeirinhas tirem da Itália o título de campeã do mundo. O jogador deve, arremessando controles remotos, golpear juiz e auxiliares e evitar que eles anulem os gols contra Croácia, México e Coréia _além de salvar Totti da expulsão. Ao passar por essas três fases, chega-se à final, quando o alvo é o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Jogue o Offside 2002 agora usando apenas o botão esquerdo de seu mouse.

- E por falar em erros de arbitragem, semana passada circulou na Internet uma foto que ressuscitou um velho fantasma: a catastrófica atuação de Márcio Rezende de Freitas na decisão do Campeonato Brasileiro de 1995, ganha pelo Botafogo-RJ sobre o Santos. Na imagem, que teria sido feita por "um torcedor botafoguense que se mantém até hoje no anonimato", o árbitro aparece com o braço direito levantado no momento em que Túlio marcava _em flagrante impedimento_ o primeiro gol do time carioca. Ou seja: a foto dá a entender que Márcio se deu conta da irregularidade, mas mudou de idéia e confirmou o gol. Montagem grosseira: a mesma cena, segundo registrou a televisão, revela que o único movimento feito pelo juiz foi indicar o meio-campo, validando o lance. A tecnologia, quando usada para o mal, tem dessas coisas. Confira a foto.

- E no Vaticano, tem futebol? Se não tem, teve: de 1985 a 1991 foi disputada a Copa do Vaticano _que oficialmente é um país, o menor do mundo, com 0,438 km2 de área. O Teleposte, time da agência de correios e telégrafos da sede da Igreja Católica, faturou três campeonatos e chegou a ser convidado a disputar a Copa da Itália. Sem estrutura e estádio para mandar seus jogos (não, a Praça São Pedro não poderia virar uma arena esportiva), o time foi obrigado a declinar.

- Matéria da BBC comparou a vitória do Santos sobre o Corinthians, na final do Brasileiro do ano passado, a um triunfo hipotético do Brighton (da segunda divisão inglesa) sobre o Arsenal na decisão da Copa da Inglaterra. Irritada, a diretoria do clube brasileiro respondeu num inglês macarrônico e forrado de imprecisões. Confira você mesmo.

- No dia em que o exército de Israel invadiu campos de refugiados em Jenin e Balata (28 de fevereiro de 2002) numa operação que resultou em 32 mortes e várias casas destruídas, os três principais jornais israelenses deram mais destaque em suas capas à vitória do Happoel Tel Aviv sobre o Parma. Foi a primeira vez que um time de futebol do país chegou às quartas-de-final da Copa da Uefa, o segundo torneio interclubes mais importante da Europa. A observação faz parte de um pesquisa da Universidade de Oxford (Inglaterra) sobre o comportamento da imprensa de Israel durante a nova intifada (rebelião palestina), iniciada em setembro de 2000.

SIC
Foda foi jogar no México três dias depois de ganhar o Campeonato Paulista. Você acha que os caras não tinham comemorado?

Geninho, técnico do Corinthians, perdoando seu elenco pela atuação pífia na derrota de 3 a 0 para o Cruz Azul, no México, dias após a conquista do título estadual
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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