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Papo de Esporte

22/04/2003

Lendas amazônicas: jogadores que desaparecem

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

A região amazônica é pródiga em lendas e mitos. O rico folclore local relata uma centena delas, de personagens fantásticos como Matinta Perera, Cobra Grande e o Boto a feitiços da natureza tais quais as lendas da Mandioca, do Açaí e do Guaraná, entre outras.

O futebol não poderia fugir à regra: em Roraima (Estado de 280 mil habitantes encravado na selva), jogadores costumam desaparecer.

Aconteceu de novo na semana passada, quase cinco anos depois do primeiro caso, registrado em 1998.

Desta vez, o jogo entre Náutico e Rio Negro teve de ser interrompido aos 17min do segundo tempo quando o Náutico, que perdia por 5 a 0, teve o quarto jogador expulso. Alertado por um auxiliar, o árbitro se deu conta de que o clube tinha apenas seis atletas em campo _a regra proíbe que uma partida comece ou continue se uma das equipes tem menos de sete componentes.

Em resumo: um jogador do Náutico saiu sem ser notado e conseguiu, na malandragem, impedir uma goleada bem maior.

O outro caso aconteceu em 98, na final do campeonato estadual. Jogavam Roraima e Progresso e o primeiro dependia de uma vitória por sete gols para ser campeão. As luzes do estádio Canarinho, em Boa Vista, foram apagadas e, nesse meio tempo, os dois goleiros do Progresso sumiram.

O campo foi invadido por atletas do Baré, clube que ganharia o título caso a improvável goleada não acontecesse. Revoltados, partiram para a briga, mas não houve jeito: com um meio-campista no gol, o Progresso perdeu por 8 a 1 _e o Roraima ergueu a taça.

Na Guiana, país limítrofe a Roraima, os ares amazônicos também proporcionam múltiplas lendas. No futebol, há a história de um goleiro que, ao sair jogando desde a própria meta, driblou parte dos adversários e foi à área contrária, marcando um golaço, talvez o maior já feito. Difícil é encontrar uma testemunha ocular.

Meu amigo Expedito Paz jura de pés juntos que viu o lance na televisão brasileira, num programa esportivo qualquer.

Provavelmente, mais uma história amazônica.

Lá e cá

- Na Guiana ouve-se reggae, fala-se inglês, o críquete é o esporte de massa (o país foi uma colônia britânica até 1966) e há um time de futebol chamado Pelé FC. É, provavelmente, o único clube do mundo a prestar tamanha homenagem ao brasileiro. O Pelé, de Georgetown (a capital), foi vice-campeão nacional em 95 e 97. Mas não é só: o maior campeão do país é o Santos FC, com três conquistas. E há ainda o Botafogo, vencedor em 92.

- Lendas à parte, o futebol amazônico teve sua principal competição regional, o Copão da Amazônia, encampada pela CBF em 2003. Rebatizado de Torneio Integração, reúne times de Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. Começou na semana passada, em duas sedes: Rio Branco (AC) e Macapá (AP). O Copão foi disputado de 1975 a 1990 e o Amapá é o dono do pedaço: ganhou sete títulos, contra cinco do Acre, quatro de Rondônia e dois de Roraima. O Trem (AP), hexacampeão, é o time grande do campeonato.

- Só para variar, o regulamento da Série B do Campeonato Brasileiro patina no uso da língua portuguesa e abre brecha para posteriores contendas jurídicas. No artigo oitavo, que trata sobre a condição de jogo dos atletas, o texto decreta que a documentação deve ser protocolada na CBF "desejavelmente" até seis dias antes de cada jogo. "Desejavelmente", convenhamos, é um termo para lá de subjetivo. Outra pegadinha está no artigo 15, que define os critérios de desempate na segunda e terceira fases. A campanha na fase inicial só será levada em consideração nas etapas subseqüentes se houver igualdade em quatro itens. Ou seja: de pouco adiantará terminar o estágio inicial nas primeiras colocações.

- Megalômano pela própria natureza, o ex-craque argentino Diego Maradona aproveitou a invasão norte-americana do Iraque para aparecer. Em sua página na Internet, ele reproduz o texto de um correspondente argentino em Umm Quasr, no sul do país asiático. O jornalista visitou, ao lado do ferido de guerra Ahmed Ali, a desolada e destruída sede do partido Baath (de Saddam Hussein). Ao saber que dialogava com um argentino, Ali mandou seu recado. "I very love (sic) Maradona. Diga ao mundo que o povo iraquiano ama Maradona, ele é o número um."

- Também praticante da megalomania, Marcelinho Carioca foge da briga em seu site oficial. Para dar margem a dúvida sobre qual "pele" (o modo como se refere às camisas dos times por quais jogou) gosta mais, o jogador aparece vestindo um uniforme totalmente branco na página inicial. Ao lado, cenas de sua marcante passagem pelo Corinthians.

- O governo brasileiro estuda alternativas para renegociar a impagável dívida dos clubes de futebol com o INSS. O rombo já superou R$ 400 milhões, boa parte deles responsabilidade dos 20 maiores times do país. Agnelo Queiroz, ministro do Esporte, e Ricardo Berzoini, titular da pasta da Previdência, tentam chegar a um denominador comum. Uma das propostas é converter a dívida em programas de inclusão social, o que significaria abrir as portas dos clubes à comunidade carente. É a idéia mais interessante, sem dúvida.
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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