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Papo de Esporte

06/05/2003

Afinal, Zico era ou não era?

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Existe um aspecto de sua longa carreira de mais de 20 anos que o ex-jogador Zico tem muita dificuldade em digerir: a insinuação de que ele só jogava bem no Maracanã, seu palco predileto.

A preocupação está expressa nas páginas de "Zico, 50 Anos de Futebol", dos jornalistas Roberto Assaf e Roger Garcia. O assunto incomoda tanto o craque que, nas duas vezes em que fala sobre o estigma, Zico cai em contradição.

Ele conta que a história foi pura e simplesmente perseguição de jornalistas paulistas e tinha a ver com o fim da carreira de Pelé. "O Pelé estava parando e eu estava chegando. Ficou aquela briga regional entre cariocas e paulistas, e eu no meio", relembra Zico.

O camisa dez do Flamengo garante ter se livrado do problema em 1979, quando marcou dois gols no amistoso entre Argentina (então campeã do mundo) e seleção da Fifa, disputado em 1979 em Buenos Aires.

"Aquele jogo contra a Argentina em 1979 foi sem dúvida o que pôs fim a todas as dúvidas que existiam no plano internacional. Na realidade, me deu respaldo até dentro do Brasil e do próprio Rio de Janeiro. Eu tinha feito uma Copa de merda, praticamente não joguei. Havia um oba-oba em torno do Maradona. Tinha aquele papo de que eu era só jogador de Maracanã...", conta.

Páginas antes, ao se referir ao mesmo assunto, Zico estabelece outra data para o fim do martírio. "Olha, até ganhar o Brasileiro de 1982 em Porto Alegre foi terrível, sempre tinha aquele papo de jogador de Maracanã."

A verdade é que o questionamento nunca acabou. Nem em 1979 nem em 1982. Aliás, recrudesceu em 1986, ano em que Zico voltou a fracassar numa Copa do Mundo, como já havia acontecido em 1978.

Para um atleta que marcou no Maracanã 49,85% de seus gols feitos no Brasil _333 de um total de 668_, nada mais natural do que ser considerado um jogador de Maracanã. Zico é o maior artilheiro da história do estádio, inaugurado em 1950. São nomes indissociáveis.

Talvez isto explique porque, até hoje, muita gente ainda tenha a impressão de que, fora do Maracanã, Zico ficou devendo.

Lá e cá

- O jornalista André Luís Nery detectou um erro gravíssimo no livro sobre Zico: a publicação totaliza 831 gols na carreira do craque, mas apresenta números que, somados, dão 821. Uma diferença de dez gols. É bom lembrar que o livro leva em conta gols marcados na escolinha do Flamengo e também na seleção de masters. Com a palavra, os autores.

- A biografia de Zico, por outro lado, acerta em cheio ao explorar, ainda que superficialmente, histórias de bastidores. O ex-jogador conta, por exemplo, que Rivellino forçou sua entrada em campo na decisão de terceiro lugar contra a Itália, na Copa de 1978. "O ambiente não estava legal. Olha, o Rivellino acabou entrando no peito no último jogo. Saiu do banco e ficou lá, à beira do campo, tipo 'e aí, quem é que vai sair?'". Outra história curiosa foi a afobação do goleiro Leão, um ano depois. Ele e Zico chegaram em cima da hora para a disputa do amistoso entre Argentina e seleção da Fifa. "Ao chegarmos, o Leão foi logo dizendo 'quero jogar, quero jogar' e acabou entrando para tomar gol do Maradona." Zico só ingressou no segundo tempo e marcou dois gols.

- Se trabalhasse no Brasil, o auxiliar-técnico do Sporting (um dos principais times de futebol de Portugal) certamente teria de agüentar gozações. Seu nome é Rolão Preto, Joaquim Rolão Preto. Ler notícias sobre ele, evidentemente, é engraçado por si só. Parente distante de Joaquim, Francisco Rolão Preto é o principal expoente da família. Ele foi um dos fundadores do movimento fascista português (o Nacional-Sindicalismo), na década de 40.

- Um advogado canadense da Corte Arbitral do Esporte garantiu ao jornal indiano The Hindu que Carl Lewis não corre o risco de perder suas nove medalhas olímpicas mesmo depois de o médico Wade Exum divulgar que o atleta, flagrado num exame antidoping, foi autorizado pelo Usoc (Comitê Olímpico dos EUA) a competir. O caso está sendo investigado pela Federação Internacional de Atletismo, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI), de fato, ainda não se manifestou. Para o canadense, o COI só poderia cassar a premiação se o exame tivesse sido patrocinado pela instituição, o que não foi o caso.

- Quem acessou o site oficial do Palmeiras na véspera do jogo contra o Vitória, na semana passada, levou um susto: o meia Franklin, morto num acidente automobilístico no início de abril, estava relacionado para a partida. Pelo menos era o que dizia o texto "Garotada ganha chance contra o Vitória-BA". Alertada, a assessoria de imprensa do clube esclareceu o mal-entendido: não se tratava de uma assombração, mas do jogador Francis, este sim, vivíssimo.

- A Copa da Paz, torneio entre oito clubes que o São Paulo vai disputar na Coréia do Sul em julho, começou devagar no quesito informação. Na internet, os organizadores apresentam o clube brasileiro com uma foto do aposentado Raí, dizem que o time conquistou a "Copa Havelange" diversas vezes e citam, entre os principais títulos, apenas a Copa Conmebol de 1994 e o os Paulistas de 1998 e 2000. Bicampeão do mundo e da Libertadores? Não para os coreanos.
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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