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Papo de Esporte

27/05/2003

O lado obscuro do vôlei

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

No Brasil, freqüentemente as pessoas têm a sensação de que os dirigentes de vôlei são profissionais e competentes. Trata-se de uma visão generalizada e equivocada.

Exceções à parte, de forma geral os cartolas do nosso vôlei não ficam devendo nada aos do futebol, que por sua vez dão exemplo de descalabro.

Recentemente, a Cônsul simplesmente desistiu de bancar uma equipe feminina por causa das altas taxas administrativas cobradas pelas federações.

Em São Paulo, onde Renato Pêra se eterniza no poder, manter um time pode custar até R$ 120 mil por temporada. O valor corresponde a um acúmulo impressionante de taxas _inscrições, transferências e arbitragem.

Essa situação acaba inviabilizando, via de regra, novos investimentos e a renovação dos compromissos já existentes. E a conseqüência disso é lógica: desemprego.

O técnico Cacá Bizzochi _ele próprio um desempregado_ vai direto ao ponto ao analisar o problema em sua coluna no site da assessoria de imprensa Photo&Grafia. "A seleção brasileira, à margem da tempestade, parece ser um esporte à parte", diz ele.

Ali, de fato, tudo parece ir bem. O Brasil é o atual campeão mundial masculino, e o esporte é a única modalidade coletiva brasileira que possui uma medalha de ouro olímpica.

Esse sucesso explica de onde vem, na percepção do grande público, a imagem de competência da cartolagem do vôlei tupiniquim.

Enquanto isso, debaixo do tapete, há muito lixo a recolher.

A debandada da Cônsul é apenas mais um exemplo de que enquanto houver "feudorações" o esporte só tem a perder. Seja no vôlei, seja no futebol.

Lá e cá

- Enquanto empresas desistem de investir em clubes, o Banco do Brasil está a cada dia mais satisfeito de patrocinar as seleções nacionais de vôlei, parceria iniciada em 1991. No ano passado, a instituição arrecadou R$ 11 milhões apenas com a venda de produtos em eventos diretamente ligados ao esporte. No Japão, ações promocionais relacionadas ao vôlei resultaram na abertura de 2 mil contas em 2001. Em média, 470 mil pessoas assistem, todos os anos, aos eventos patrocinados pelo BB _incluindo aí vôlei de praia e tênis.

- No Equador, a incursão de um banco no esporte terminou em calote. O Filanbanco, clube de futebol criado pela instituição financeira de mesmo nome em 1981, chegou a ser vice-campeão nacional em 1987. Teve um centro de treinamento invejável em Los Amanes, na periferia de Guayaquil. Disputou a Taça Libertadores em 1988 e, dez anos depois, vítima de má administração, faliu. Não só o clube: o banco foi à bancarrota, deixando na mão 130 mil correntistas e uma dívida superior a US$ 400 milhões (R$ 1,2 bilhão). A liquidação oficial das dívidas se arrasta até hoje na Justiça e se transformou num autêntico pesadelo para o presidente recém-eleito, Lucio Gutiérrez, que nesta semana visita o Brasil com o objetivo de pedir dinheiro emprestado a Lula.

- O tetracampeão mundial Bebeto prepara uma grande jogada fora de campo: ao lado de Jorginho _outro titular da seleção de 1994_, vai assumir a administração do futebol profissional do Goiânia. O atacante está tão empolgado que fala até em acumular funções: quer calçar chuteira, vestir o uniforme do clube e entrar em campo na Série C do Campeonato Brasileiro. Solidário ao amigo, Jorginho também se dispôs a jogar se for "pelo bem do time".

- O dossiê da candidatura de Nova York aos Jogos Olímpicos de 2012 não nega: para os americanos, o futebol é mesmo um esporte essencialmente feminino. No documento, a modalidade é representada por uma jogadora estilizada, de rabo-de-cavalo e tudo. São Paulo ou Rio concorrerão com Nova York e outras cidades (Paris, Londres e Madri já confirmaram e Havana, Leipzig e Moscou também querem) pelo direito de organizar a Olimpíada. A decisão sobre a candidata brasileira sai em 7 de julho. O Comitê Olímpico Internacional escolhe a sede apenas em 2005.

- Assessores de clubes de futebol estão recomendando aos atletas que não participem de determinados programas de televisão. O campeão de vetos é o Mesa Redonda, comandado por Roberto Avallone. Palmeiras e São Paulo já orientaram seus profissionais a recusar sistematicamente os convites. As restrições, que atingem outros programas e canais, são totalmente pessoais. Muitas vezes, apenas represália a comentários que não agradaram. No caso do Mesa Redonda, também teria a ver com o passionalismo dos apresentadores.

- Arnaldo Poffo Garcia, o Peixinho, entrou para a história como autor do primeiro gol do Morumbi, em 2 de outubro de 1960, no amistoso São Paulo 1 x 0 Sporting (Portugal). Hoje, ele administra uma escolinha de futebol em Piracicaba, no interior paulista. E, como todo mundo que trabalha nessa área, sonha em ganhar uns trocados encaixando seus pupilos, ainda adolescentes, em algum time europeu. A Bélgica, país sempre disposto a receber a barata e qualificada mão-de-obra futebolística brasileira, está de braços abertos.
SIC
Quando vi a torcida gritando, pensei: acho que fiz o gol

Pelo jeito, nem Fabiano, reserva do Santos, acreditou no gol que marcou contra o Inter-RS domingo passado, na Vila Belmiro
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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