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Papo de Esporte

10/06/2003

Artigo: O país que só o esporte reconhece

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Uma nação indígena disputou, pela primeira vez na história do esporte, um campeonato mundial. A repercussão foi pequena diante da importância do fato. Pudera: tratou-se da Copa do Mundo de lacrosse, modalidade praticada em apenas 19 países do globo _quase todos pertencentes à Comunidade Britânica, além dos Estados Unidos.

A relação do povo iroquois com o lacrosse foi determinante para assegurar a participação do "país" no torneio mundial encerrado há três semanas no Canadá. Iroquois _confederação indígena que reúne seis etnias_ simplesmente é considerada a precursora do esporte.

O lacrosse, acredita-se, é a primeira modalidade genuinamente norte-americana. Jogado pelos nativos, como mostram estas ilustrações, foi encampado pelos jesuítas franceses (que participaram ativamente da colonização de regiões dos EUA e Canadá) em 1636. A padronização das regras ocorreu 231 anos depois.

De lá para cá, não houve grande avanço. É praticamente um traço na audiência. Nos EUA, há apenas 250 mil praticantes _quase todos garotões brancos, sarados e abastados de colégios particulares. O lacrosse é um esporte muito elitizado: é raro ver negros, asiáticos ou latinos nas equipes.

Por outro lado, abriu suas portas para que uma nação indígena, com direito a bandeira e hino, disputasse a Copa do Mundo. Um inexplicável paradoxo.

Também chamados de Haudenosaunee, ou "povo da casa grande" _alusão à integração das tribos Seneca, Cayuga, Onondaga, Oneida, Mohawk e Tuscarora_, os iroquois competiram em pé de igualdade com Austrália, Escócia, EUA, Canadá e República Tcheca.

Mais: chegaram à final, honrando a herança de seus ancestrais, mas foram derrotados pelos canadenses (que, para o lacrosse, são o que o Brasil representa para o futebol).

Sua simples presença no mundial, entretanto, foi sem precedentes. E a revanche já está marcada: em 2006, novamente no Canadá, o lacrosse assistirá à segunda Copa do Mundo da história. E os índios iroquois vão estar lá.


Lá e cá

- O lacrosse é um esporte de contato físico que mescla futebol, basquete e hóquei. É disputado entre dois times de dez jogadores (entre eles, um goleiro) num campo de 100m por 55m, em quatro tempos de 15 minutos. Os atletas carregam um bastão (o "crosse", origem do nome da modalidade) com uma pequena rede na ponta. Para passar e arremessar a gol, antes é preciso capturar a bola _do mesmo tamanho que a do tênis, mas duas vezes e meia mais pesada (155g). Só o goleiro pode usar as mãos. O jogo é essencialmente tático: três integrantes da equipe (a defesa) não podem passar do meio-campo, três jogam apenas da metade do terreno até o gol adversário e os outros três podem se deslocar por todo o campo. Não há registro, em tempo algum, da prática de lacrosse no Brasil. No cinema, a modalidade aparece na comédia adolescente "American Pie" (EUA/91).

- Longe das telas, no Brasil os índios têm uma olimpíada própria. Pouco divulgada, mas própria. Criados em 1996, os Jogos dos Povos Indígenas reuniram 56 etnias no ano passado, em sua quinta edição. Esportes como zarabatana, futebol de cabeça, arremesso de lança e corrida da tora fazem parte do programa. Neste ano, Palmas (capital de Tocantins) será a sede. A competição vai acontecer em outubro.

- O desacordo na diretoria do São Paulo é evidente. Um exemplo: ainda na gestão de Carlos Augusto Barros e Silva, diretor de futebol que pediu demissão há um mês, um cartola do segundo escalão ordenou que os postes que sustentam os alambrados do CT da Barra Funda fossem pintados, alternadamente, de vermelho, branco e preto _as cores do clube. Pouco tempo depois, uma contra-ordem: outro dirigente, também de baixo calibre, achou que o festival de cores atentava contra a visibilidade das placas publicitárias instaladas no centro de treinamento pelos patrocinadores da instituição. E tudo foi pintado de cinza novamente.

- Juventus da Mooca, América de Rio Preto e Santa Cruz podem se tornar campeões brasileiros no dia 22. O cenário será Blumenau, que organiza o 15º Nacional de futebol de botão na modalidade 12 toques com a participação de 168 botonistas representando clubes de seis Estados (Corinthians, Palmeiras e Fluminense entre eles). Pelo retrospecto, paulistas e cariocas são os favoritos. A regra, como o nome diz, permite 12 toques coletivos, três de cada botão, antes do arremate a gol. O torneio vai acontecer num shopping center e são esperados mais de 15 mil gols.

- É um escândalo: o novo estádio de Abuja, onde a seleção brasileira joga nesta semana contra a Nigéria, foi projetado para comportar 120 mil torcedores ao custo de 15 bilhões de nairas, a moeda local (R$ 327 milhões). A obra, que levou três anos para sair do chão, consumiu pelo menos 38 bilhões de nairas (R$ 828,6 milhões), sendo que o estádio acolhe hoje 60 mil pessoas. É mais que o dobro da conta, pela metade da capacidade. E há quem garanta que os gastos ultrapassaram R$ 2 bilhões. O governo nigeriano alega que o preço final incluiu a execução de obras viárias complementares ao complexo esportivo. Se há desconfiança em relação ao estádio, imagine quanto à cidade: Abuja foi projetada em 1976, construída nos anos 80 e virou capital do país em 1991 _sucedendo Lagos. É a Brasília deles, muito mais kitsch, com 400 mil habitantes.

- O Atlético Paranaense que ponha as barbas de molho: o clube é alvo certeiro de ações judiciais por descumprimento explícito da lei. Vários lugares destinados ao torcedor visitante na Arena da Baixada não permitem enxergar a totalidade do campo de jogo, uma contrariedade à lei 8.078/91, o Código de Defesa do Consumidor _agora, com o Estatuto do Torcedor, adotado também no futebol. Para quem conhece o estádio, é aquele trecho à direita do muro rubro-negro. Um verdadeiro embuste.

SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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