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Papo de Esporte

17/06/2003

Artigo: Assim nascem Agassis

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Com a paranóia desatada nos Estados Unidos depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, qual a chance de um jovem de 20 anos originário do Irã entrar no país sem ser considerado um perigo para a sociedade?

A situação era diferente em 1952, quando Emanuel Agassian desembarcou na América do Norte.

Recebido de braços abertos, ele virou Mike Agassi. E, 18 anos depois de sua chegada, tornava-se pai de Andre, hoje um dos maiores jogadores de tênis que os EUA viram nascer em seu solo. O número um do mundo festejou na semana passada a incrível marca de mil jogos disputados e 58 títulos individuais ganhos.

A história de Emanuel seria pouco provável nos dias atuais. Uma das medidas adotadas em decorrência da Lei Patriota, aprovada pelo congresso norte-americano em 2002, obriga o registro fotográfico e papiloscópico (coleta das digitais) de todos os visitantes de Irã, Iraque, Líbia, Sudão e Síria que chegam aos EUA.

E de outros, qualquer que seja a procedência, considerados suspeitos pelo Serviço de Imigração.

Depois de fichados, os visitantes "marcados" têm 30 dias para deixar o país. Caso isso não ocorra, passam a ser oficialmente foragidos da justiça.

A alternativa ao humilhante trâmite burocrático é ainda mais drástica: a prisão. Vários são detidos no aeroporto, freqüentemente sob a alegação (muitas vezes não confirmada) de portarem vistos vencidos em seus passaportes.

Há 51 anos, quando Emanuel Agassian (ou melhor, Mike Agassi) chegou ao país, não havia vigília do Grande Irmão. Assim, deu continuidade a sua carreira de boxeador amador (ele já havia representado o Irã nos Jogos Olímpicos de 1948 e 1952).

Não por acaso Andre nasceu em Las Vegas, no Estado de Nevada, o centro do boxe nos Estados Unidos.

Fosse hoje, Emanuel Agassian seria tratado como um potencial terrorista, apenas por sua origem (Mike é nascido na Armênia, mas naturalizado iraniano).

Coisas do preconceito, tão devastador quanto mil ataques terroristas.

Lá e cá

- Além da tolerância do Serviço de Imigração, uma pitada de sorte colaborou com a história de Andre Agassi. Em 1956, seu pai ia se tornar um boxeador profissional numa luta contra um rival de cartel modesto (três lutas). O adversário ficou doente e o promotor do combate apareceu de surpresa com outro oponente, 37 lutas mais experiente. Mike Agassi disse que concordava e pediu para ir ao banheiro. Fugiu do ginásio por uma janela basculante e, poucos dias depois, comprou uma raquete de tênis. Foi aí que começou a paixão da família pelo esporte que consagraria um de seus membros.

- Já há faixas no estádio Anacleto Campanella e adesivos nos carros da cidade. "Sou Azulão de coração", diz o texto, acompanhado do nome de Nairo Ferreira de Souza. Pré-candidato a prefeito de São Caetano do Sul, o presidente do clube de futebol que conquistou o país conta com o apoio do padrinho, o poderoso atual prefeito, Luiz Olinto Tortorello. Só falta um partido para acolher o cartola (afinal, Tortorello rompeu com o PTB). Mas há tempo até as eleições, previstas para outubro de 2004.

- O presidente do Olympique de Marseille, Christophe Bouchet, pediu à FF (Federação Francesa de Futebol) que reatribua ao clube o título nacional de 1993, considerado inválido depois de comprovada a denúncia de suborno a um time adversário nas rodadas finais. Para a FFF, 93 é um ano sem campeão: o Paris Saint-Germain, que ficou em segundo lugar na classificação final, nunca foi declarado oficialmente o vencedor. Ocorre que o PSG, fundado em 1973 e ligado ao governo francês, também vive às voltas com escândalos financeiros. Na dúvida, a federação preferiu manter a lacuna. Mas nos próximos dias irá se manifestar sobre a demanda marselhesa.

- Agora efetivado como técnico do São Paulo, Roberto Rojas deu uma bronca num repórter de TV da emissora que captou o sinal da comunicação entre o chileno e seu auxiliar, Milton Cruz, durante uma partida do Campeonato Brasileiro. ""Vão escutar o Luxemburgo", esbravejou. Cruz também ficou preocupado: temeu ser flagrado expondo deficiências técnicas de determinado jogador ou falando palavrões. Mas a linha cruzada é comum: o próprio auxiliar já entrou na freqüência do radiotransmissor do time adversário. "Eles [os adversários] quase não falavam nada, desisti minutos depois."

- Físicos da Universidade de Warwick (Inglaterra) analisaram, entre 1999 e 2001, os resultados de 135 mil jogos de futebol realizados em 169 países. A conclusão: é muito mais fácil fazer gol numa partida cujo placar aponta 4 a 3 do que num 1 a 0. Em resumo, há muito mais probabilidade de se marcar gols num confronto com o escore dilatado (e bem mais difícil fazê-los num pouco empolgante 0 a 0). O mesmo estudo descobriu que a incidência de jogos com mais de dez gols é de um em 300.

- Leitores mandaram informações adicionais sobre o lacrosse, assunto que abordei na semana passada. O esporte também aparece, em sua versão aborígene, num remake de "O Último dos Moicanos", estrelado por Daniel Day-Lewis e Madeleine Stowe (EUA/92). No filme, há uma cena que recria uma partida entre índios e brancos no século 18. Na vida real, o lacrosse já foi até esporte olímpico, disputado em Saint Louis-1904 e Londres-1908. O Canadá ganhou as duas medalhas de ouro em disputa. Ah, e o povo indígena que criou o lacrosse tem, segundo o Aurélio, nome em português: iroquês ou iroqueses. Iroquois é, na verdade, uma palavra francesa.
SIC
Ali não é lugar para brincadeira. Ele brincou e nos demos mal

Leão, técnico do Santos, dando uma bronca pública em Paulo Almeida, que errou no lance do gol da vitória do São Caetano sobre os santistas em plena Vila Belmiro
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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