Papo de Esporte
18/02/2003
Colunista da Folha Online
Esporte e samba não costumam dar liga na avenida. Mas os carnavalescos continuam insistindo. Em 2003, o esporte volta à passarela para tentar pôr fim a um retrospecto inegável: nunca, nos 70 anos de história do Carnaval carioca e nos 37 do paulista, uma escola foi campeã falando de um atleta, clube ou façanha esportiva.
Tentativas não faltaram. Como em 1998, quando a Unidos da Tijuca resolveu comemorar o centenário do Vasco da Gama e acabou rebaixada para o segundo grupo. Dez anos antes, um samba enaltecendo Paulo Machado de Carvalho _que se tornaria famoso e é tocado até hoje_ deu apenas o sexto lugar à Rosas de Ouro, uma das principais escolas paulistanas. Flamengo, Corinthians e seleção brasileira não fizeram melhor papel.
Agora pode-se dizer que o esporte vai à guerra com seu pelotão de elite: Pelé e Ronaldo viraram tema de samba em 2003. O Rei do Futebol nunca tinha sido exaltado num enredo só para ele. Apesar da deferência, o ex-jogador ainda não confirmou sua participação no desfile da Barroca Zona Sul, a escola de samba paulistana mais próxima de Santos _sua quadra funciona debaixo de um viaduto sobre a Imigrantes, estrada que leva ao litoral.
Com rimas como "na ginga, a bola de pé em pé (olé), explode em delírio a multidão (é gol), de Três Corações vem Rei Pelé, dando show, é campeão!", o samba-enredo "De Três Corações à coroação, quem sou eu? Sou Rei Pelé" não promete tirar o esporte da fila. A escola é modesta e, ainda por cima, o homenageado nutre a fama de pé-frio.
No Rio, não deverá ser diferente. Com a presença de Ronaldo e seus amigos, a Tradição vai relembrar a conquista do título mundial no ano passado tendo como pano de fundo a trajetória do jogador do Real Madrid. Os versos de "O Brasil é Penta, R é 9 - o Fenômeno Iluminado" são pouco animadores: "Começou lá na Suécia, a segunda vez no Chile
a alegria da nação, ai que paixão; e no solo mexicano, depois no americano foi aquela emoção, pro meu povão".
O centenário do Fluminense também será representado na avenida, mas no desfile do segundo grupo. A Acadêmicos da Rocinha vai cantar "Cruzou no céu a borboleta, numa fantástica viagem multicor, e veio exaltar na passarela, em forma de poesia, o brilhantismo e a tradição do Tricolor", entre outras coisas.
Com tanta originalidade, fica difícil apostar na quebra do tabu.
Lá e cá
- Gustavo Kuerten é a exceção na coleção de fracassos que o esporte e seus atletas colheram na avenida. Em 2001, Guga foi tema da Protegidos da Princesa, escola de samba de sua Florianópolis natal, e levou a taça. Também, era barbada.
- Pio Marinheiro de Souza Filho, novo diretor do Departamento de Coordenação Regional da CBF, também é vereador em Natal (foi eleito pelo PSB com 5.548 votos em 2000). Antes, dava expediente no Departamento de Patrimônio da entidade que comanda o futebol nacional, mesmo a cerca de 2,6 mil quilômetros de distância.
- A história fictícia de um craque inglês acusado de perder de propósito um pênalti num jogo decisivo contra a Alemanha é o resumo de Penalidade Máxima, filme que chegou ao Brasil em vídeo. Os atores contam que houve testes de futebol antes da composição do elenco. Um deles, Omid Djalily, disse que estava orgulhoso de ter sido aprovado como jogador. "Foi melhor do que me dizerem que eu sou um bom ator", afirmou.
- Entenda porque as multinacionais de material esportivo investem milhões em marketing: a Reebok anunciou um faturamento total de US$ 762,8 milhões (R$ 2,7 bilhões) no ano passado. A Puma, outra que divulgou recentemente os resultados de 2002, fechou o ano com US$ 134,3 milhões (R$ 489,1 milhões) sobrando no caixa. Os números de Nike e Adidas, ainda ocultos, certamente não ficam atrás.
- Reunidos na sede da Unesco, em Paris, autoridades de 90 países chegaram a uma conclusão: a educação física está relegada ao último plano no currículo escolar de todo o planeta. A falta de investimentos nos últimos anos diminuiu dramaticamente a prática da disciplina em todos os continentes. O resultado disso é que, na Europa, 30% das crianças são obesas. O diretor de Juventude e Esportes do Conselho da Europa, Mário Martins, falou sobre o assunto à rádio das Nações Unidas.
- Realidade nua e crua é isso: em entrevista à BBC TV, um integrante do grupo extremista Hamas revelou que um campeonato paralelo é disputado pelas cidades da Palestina: a de "revelação" de mártires, jovens dispostos a morrer em atentados suicidas em Israel. "É como se fosse o Campeonato Inglês, com Manchester, Liverpool e Arsenal brigando pelo título", contou o palestino, sorrindo e com os olhos brilhando. Por enquanto, ninguém tira a taça das mãos de Jenin, que desde o início da nova Intifada, em 2000, "revelou" 31 mártires. Veja fotos da cidade e repare na última imagem: numa parede qualquer, pôsteres nos remetem às tradicionais fotos de times campeões. Na verdade, são pessoas que morreram _e mataram_ ao detonar bombas atadas ao próprio corpo. Chocante.
Olha o esporte aí, gente
ALEC DUARTEColunista da Folha Online
Esporte e samba não costumam dar liga na avenida. Mas os carnavalescos continuam insistindo. Em 2003, o esporte volta à passarela para tentar pôr fim a um retrospecto inegável: nunca, nos 70 anos de história do Carnaval carioca e nos 37 do paulista, uma escola foi campeã falando de um atleta, clube ou façanha esportiva.
Tentativas não faltaram. Como em 1998, quando a Unidos da Tijuca resolveu comemorar o centenário do Vasco da Gama e acabou rebaixada para o segundo grupo. Dez anos antes, um samba enaltecendo Paulo Machado de Carvalho _que se tornaria famoso e é tocado até hoje_ deu apenas o sexto lugar à Rosas de Ouro, uma das principais escolas paulistanas. Flamengo, Corinthians e seleção brasileira não fizeram melhor papel.
Agora pode-se dizer que o esporte vai à guerra com seu pelotão de elite: Pelé e Ronaldo viraram tema de samba em 2003. O Rei do Futebol nunca tinha sido exaltado num enredo só para ele. Apesar da deferência, o ex-jogador ainda não confirmou sua participação no desfile da Barroca Zona Sul, a escola de samba paulistana mais próxima de Santos _sua quadra funciona debaixo de um viaduto sobre a Imigrantes, estrada que leva ao litoral.
Com rimas como "na ginga, a bola de pé em pé (olé), explode em delírio a multidão (é gol), de Três Corações vem Rei Pelé, dando show, é campeão!", o samba-enredo "De Três Corações à coroação, quem sou eu? Sou Rei Pelé" não promete tirar o esporte da fila. A escola é modesta e, ainda por cima, o homenageado nutre a fama de pé-frio.
No Rio, não deverá ser diferente. Com a presença de Ronaldo e seus amigos, a Tradição vai relembrar a conquista do título mundial no ano passado tendo como pano de fundo a trajetória do jogador do Real Madrid. Os versos de "O Brasil é Penta, R é 9 - o Fenômeno Iluminado" são pouco animadores: "Começou lá na Suécia, a segunda vez no Chile
a alegria da nação, ai que paixão; e no solo mexicano, depois no americano foi aquela emoção, pro meu povão".
O centenário do Fluminense também será representado na avenida, mas no desfile do segundo grupo. A Acadêmicos da Rocinha vai cantar "Cruzou no céu a borboleta, numa fantástica viagem multicor, e veio exaltar na passarela, em forma de poesia, o brilhantismo e a tradição do Tricolor", entre outras coisas.
Com tanta originalidade, fica difícil apostar na quebra do tabu.
Lá e cá
- Gustavo Kuerten é a exceção na coleção de fracassos que o esporte e seus atletas colheram na avenida. Em 2001, Guga foi tema da Protegidos da Princesa, escola de samba de sua Florianópolis natal, e levou a taça. Também, era barbada.
- Pio Marinheiro de Souza Filho, novo diretor do Departamento de Coordenação Regional da CBF, também é vereador em Natal (foi eleito pelo PSB com 5.548 votos em 2000). Antes, dava expediente no Departamento de Patrimônio da entidade que comanda o futebol nacional, mesmo a cerca de 2,6 mil quilômetros de distância.
- A história fictícia de um craque inglês acusado de perder de propósito um pênalti num jogo decisivo contra a Alemanha é o resumo de Penalidade Máxima, filme que chegou ao Brasil em vídeo. Os atores contam que houve testes de futebol antes da composição do elenco. Um deles, Omid Djalily, disse que estava orgulhoso de ter sido aprovado como jogador. "Foi melhor do que me dizerem que eu sou um bom ator", afirmou.
- Entenda porque as multinacionais de material esportivo investem milhões em marketing: a Reebok anunciou um faturamento total de US$ 762,8 milhões (R$ 2,7 bilhões) no ano passado. A Puma, outra que divulgou recentemente os resultados de 2002, fechou o ano com US$ 134,3 milhões (R$ 489,1 milhões) sobrando no caixa. Os números de Nike e Adidas, ainda ocultos, certamente não ficam atrás.
- Reunidos na sede da Unesco, em Paris, autoridades de 90 países chegaram a uma conclusão: a educação física está relegada ao último plano no currículo escolar de todo o planeta. A falta de investimentos nos últimos anos diminuiu dramaticamente a prática da disciplina em todos os continentes. O resultado disso é que, na Europa, 30% das crianças são obesas. O diretor de Juventude e Esportes do Conselho da Europa, Mário Martins, falou sobre o assunto à rádio das Nações Unidas.
- Realidade nua e crua é isso: em entrevista à BBC TV, um integrante do grupo extremista Hamas revelou que um campeonato paralelo é disputado pelas cidades da Palestina: a de "revelação" de mártires, jovens dispostos a morrer em atentados suicidas em Israel. "É como se fosse o Campeonato Inglês, com Manchester, Liverpool e Arsenal brigando pelo título", contou o palestino, sorrindo e com os olhos brilhando. Por enquanto, ninguém tira a taça das mãos de Jenin, que desde o início da nova Intifada, em 2000, "revelou" 31 mártires. Veja fotos da cidade e repare na última imagem: numa parede qualquer, pôsteres nos remetem às tradicionais fotos de times campeões. Na verdade, são pessoas que morreram _e mataram_ ao detonar bombas atadas ao próprio corpo. Chocante.
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SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC. E-mail: papodeesporte@folha.com.br |
