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Papo de Esporte

01/07/2003

Artigo: O abraço da alma

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

A Argentina festeja os 25 anos da conquista de sua primeira Copa do Mundo reservando um lugar na história ao protagonista da foto que simbolizou o triunfo.

Victor D'Aquila hoje tem 48 anos. Aos 12, perdeu os braços ao agarrar um cabo elétrico de alta tensão.

Em 1978, entrou correndo no gramado do estádio Monumental de Núñez para ficar perto dos jogadores. Acabou roubando a cena ao participar de um abraço emocionado entre Fillol e Tarantini.

Quando D'Aquila se deteve, as mangas do suéter que vestia foram para a frente. Foi nesse instante que o fotógrafo Ricardo Alfieri congelou a cena.

"El abrazo del alma", como foi intitulada, transformou o torcedor numa celebridade. Quase como se fosse o 23º jogador do elenco.

Na semana que vem, os 22 campeões mundiais se reencontram para um jogo-homenagem. No mesmo Monumental de Núñez que os assistiu bater a Holanda por 3 a 1 na decisão de 25 anos atrás. E D'Aquila é o convidado de honra.

Ele continua freqüentando os estádios com assiduidade. Especialmente La Bombonera, onde joga o Boca Juniors.

Foi a paixão pelo Boca que proporcionou o "abraço da alma". O torcedor só correu em direção a Tarantini porque era o único representante do clube naquela seleção.

A devoção de D'Aquila é um exemplo dos sentimentos que o Boca desperta em seus fãs.

E a foto de Alfieri (morto em 1996) é, provavelmente, a imagem mais significativa registrada após uma conquista esportiva.


Lá e cá

- Os campeões de 78 se sentem menosprezados e discriminados em seu próprio país. Reportagem da revista El Gráfico mostra que a metade dos 22 jogadores está desempregada ou possui ocupações alternativas. Ocorre que a conquista foi vinculada à sanguinária ditadura militar (1976-1983). Também, era impossível dissociar: o general Jorge Videla (então presidente) era presença obrigatória no vestiário antes e depois dos jogos. Mais de um militar que discursou aos jogadores deixou claro que aquele Mundial tinha de ser ganho "sim ou sim". O time foi protegido por um forte esquema de segurança --havia a ameaça de atentados. Fora da concentração, era o auge da tortura e do sumiço de presos políticos. O regime é responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas. Várias delas comprovadamente assassinadas.

- Outra mancha que paira sobre a Copa de 78 é o jogo Argentina 6 x 0 Peru, que classificou os anfitriões para a final --em detrimento do Brasil. Ramón Quiroga, argentino naturalizado que defendia o gol peruano, declarou em 98 que ele e seus companheiros receberam dinheiro para entregar o jogo. Depois recuou. Outro atleta, entre um trago e outro, contou que os peruanos dividiram US$ 250 mil para facilitar a tarefa dos donos da casa. Os jogadores da Argentina rechaçam a desconfiança, mas alguns admitem a hipótese de que o Peru tenha sido "comprado" sem que eles soubessem. Um deles lembra claramente que naquele dia "eu encarava os adversários e eles abriam caminho". Simultaneamente ao quarto gol, uma bomba explodiu na casa do ex-secretário da Fazenda, Juán Alemann. A política deu o tom àquela Copa.

- Qual a primeira coisa que vem à "cabeça" do Google quando se digita o termo futebol? O site de busca mais acessado da internet, que classifica as páginas de acordo com a incidência da palavra procurada, aponta o site da federação portuguesa acima de todos. Em segundo aparece a página da federação paulista de Farah. O primeiro clube da relação, por mais estranho que possa parecer, é o América de Rio Preto. Curiosidades da internet.

- Toninho Almeida, ex-meia do Cruzeiro que aguardava há 15 anos o Troféu Belfort Duarte, finalmente recebeu a medalha, de um representante da CBF. Reconhecimento pelos 288 jogos de que Toninho participou sem ser expulso de campo. Agora só falta uma carteira que dá acesso vitalício a todos os estádios do Brasil. Promessa da CBF.

- Campeão colombiano de 2003, o Once Caldas merece uma distinção à parte pela quantidade de nomes que já ostentou. Desde 1930, quando fundado como Once Deportivo, o clube foi rebatizado nove vezes. A denominação atual, criada em 1959, foi abandonada nos anos 80, mas voltou --para ficar-- uma década depois. Registro: Caldas é o nome do Estado onde fica Manizales, a cidade do time.

- Com o fracasso na Copa das Confederações, Carlos Alberto Parreira ganhou mais tempo para se dedicar a seu hobby predileto, a pintura. A exposição numa galeria de São Paulo, em janeiro, rendeu ao técnico da seleção a venda de quatro dos 12 quadros expostos. Parreira acha que não vendeu mais porque considerou as obras muito caras.
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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