Colunas

Papo de Esporte

15/07/2003

Artigo: O dia em que o futebol foi à guerra

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Assistindo à batalha entre Corinthians e Santos me lembrei de outra guerra, esta de verdade, que custou 2 mil vidas e completa 34 anos neste mês.

A Guerra do Futebol, travada entre Honduras e El Salvador em 1969, é o único conflito de que se tem notícia cujo pretexto foi um jogo do esporte mais popular do planeta. Os dois países se enfrentaram nas semifinais das eliminatórias para a Copa do Mundo do México-70.

Simultaneamente, viviam um período de vistosa animosidade no campo diplomático. Honduras, de grande extensão territorial e densidade populacional baixa, era o destino natural dos imigrantes salvadorenhos, país por sua vez pequeno e superpovoado --cinco vezes menor que o vizinho, mas com a mesma população, hoje estimada em 7 milhões de habitantes.

Em 1969, 300 mil imigrantes ilegais provenientes de El Salvador viviam em território hondurenho. O governo decidiu expulsá-los. Só tinham direito à terra os nascidos em Honduras. Até mesmo quem pagou por lotes foi perseguido e teve de deixar o país.

No meio dessa tormenta, a coincidência infeliz: Honduras e El Salvador se viam frente a frente disputando uma vaga na Copa do Mundo.

O primeiro jogo, ocorrido em 6 de junho de 1969 em Tegucigalpa, foi o cartão de visita da barbárie. Os jogadores salvadorenhos foram hostilizados e torcedores do país, agredidos. Honduras ganhou por 1 a 0.

Na volta, em 15 de junho, o esperado troco: bandeira e hino hondurenhos foram vilipendiados, assim como seus jogadores. Deu El Salvador, 3 a 0.

Enquanto isso, o clima continuava péssimo. Ações contra cidadãos salvadorenhos em Honduras, inclusive diplomatas, se multiplicavam. A imprensa punha ainda mais lenha na fogueira, tratando o assunto de forma xenófoba.

No futebol, os times teriam de se enfrentar mais uma vez (em 26 de junho), num campo neutro: o estádio Azteca, no México. Foi um jogo violentíssimo, dentro e fora de campo. Houve distúrbios nas ruas da capital mexicana e várias prisões. El Salvador venceu por 3 a 2, se classificou para a final e, ao superar o Haiti, foi para o Mundial.

No dia seguinte à desclassificação, Honduras rompeu relações com o vizinho. A tensão se intensificou de tal maneira que, em 14 de julho, El Salvador lançou ataques aéreos contra Tegucigalpa e invadiu o território hondurenho. Com arbitragem da Organização dos Estados Americanos (OEA), um cessar-fogo foi declarado seis dias depois.

Era tarde demais: 2 mil pessoas, a maioria civis, pereceram. E tendo o futebol como pano de fundo.

Se os jogadores não tivessem mergulhado na convulsão política, a história teria sido diferente?


LÁ E CÁ

- Se provocou uma guerra, o futebol também foi capaz de unir inimigos no campo de batalha. Em 24 de dezembro de 1914, soldados ingleses e alemães --oponentes na 1ª Guerra Mundial-- disputaram, entre trincheiras, uma partida para celebrar o Natal. A Alemanha ganhou por 4 a 2 e uma revanche foi marcada para o dia seguinte. Horrorizado com tamanha demonstração de proximidade com o inimigo, o comando alemão transferiu sua unidade para outro ponto do front, cancelando o "jogo de volta" para sempre.

- O atacante Caio (ex-São Paulo e Flamengo, agora no Grêmio) é um dos 25 mil motoristas do Estado de São Paulo que tiveram a carteira de habilitação suspensa pelo Detran. O motivo é acúmulo de 20 pontos ou mais em infrações de trânsito nos últimos 12 meses. Dependendo do caso, a punição pode chegar a dois anos sem dirigir. E a pena só começa a valer quando Caio e as outras 24.999 pessoas entregarem suas cartas às autoridades. A saída para abreviar a suspensão é fazer o curso de reciclagem, no próprio Detran ou nas auto-escolas conveniadas. O mico custa cerca de R$ 130.

- De férias no Brasil, o lateral Belletti está de peito inflado. Não se cansa de dizer que é um felizardo por morar na Europa, mesmo jogando no pequeno Villarreal. Acha que lá tudo é melhor do que aqui. Não vê motivo para voltar ao Brasil, se derrete em elogios à Espanha e admite: no fundo, tem vergonha de ser brasileiro. Em Villarreal, só para lembrar onde nasceu, ele é obrigado a conviver com uma vizinhança "incômoda". Os argentinos Palermo e Arruabarrena, que também jogam no time, atormentam Belletti com gozações sobre as mazelas de seu país. Da bala perdida na faculdade carioca à morte de pacientes que ingeriram um contraste radiológico adulterado, tudo é motivo de piada. E Belletti, coitado, morre de vergonha.

- Previsão do Comitê Olímpico Brasileiro (COB): o handebol, principalmente o feminino, está a ponto de decolar e repetir o sucesso do vôlei, que explodiu no país na década de 80. O COB fará grandes investimentos para que as seleções brasileiras de handebol joguem todos os torneios possíveis no exterior. "Se não houver intercâmbio, vai estagnar", afirma Carlos Arthur Nuzman, presidente da entidade.

- O departamento de árbitros da CBF soltou circulares folclóricas por estes dias. A mais séria cobra rigor na punição a goleiros que se adiantam nas cobranças de pênalti. A orientação é que as cobranças defendidas irregularmente --o que já virou lugar-comum-- sejam batidas de novo. Exatamente como sempre previu a regra. Em outro comunicado, pede-se aos árbitros que "policiem sua linguagem" nas súmulas, tornadas públicas pelo Estatuto do Torcedor, "evitando usar termos e palavras que possam causar graves e sérios problemas" aos juízes. O departamento também critica a performance do quarto árbitro (juiz reserva que fiscaliza a movimentação ao redor do gramado), dizendo que maioria fugiu "por omissão de suas obrigações administrativas, passando a ser um simples espectador do jogo".

- O goleiro Fabiano, suspenso por 180 dias por agredir um árbitro, tem outras confusões no currículo. Em 1997, quando ainda jogava pela Ponte Preta, pulou o alambrado do estádio Moisés Lucarelli para enfrentar a socos um grupo de torcedores. Em 98, já na Lusa, envolveu-se numa confusão com a Polícia Militar após um jogo no Canindé e foi espancado até desmaiar. Desta vez, defendendo o América-MG, Fabiano correu atrás de um juiz que lhe deu o cartão amarelo.
SIC
"Foi nossa melhor vitória"

Nalbert, capitão da seleção brasileira de vôlei, sobre o triunfo épico diante da Sérvia e Montenegro que garantiu o tricampeonato da Liga Mundial ao Brasil
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca