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Papo de Esporte

22/07/2003

Artigo: A padoca do Pelé

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Imagine Diego, Robinho e companhia comendo pizza e coxinha numa padaria acanhada de bairro. Detalhe: logo depois de um jogo. O time inteiro do Santos ali, pedindo sanduíche de pernil na chapa acompanhado de refrigerante.

Isso acontecia em São Paulo nas décadas de 50 e 60. A padaria, que ainda existe, fica na rua Bom Pastor, no Sacomã (zona sul de São Paulo).

A casa, é verdade, tinha outras dimensões: havia um salão contíguo onde eram servidas refeições. Hoje, resume-se a uma área pequena e caótica onde quatro máquinas caça-níqueis disputam espaço com prateleiras distribuídas irregularmente.

Pelé e seus companheiros sempre faziam as refeições na Padaria Lux (hoje Estrela da Bom Pastor) depois dos jogos no Pacaembu. O ponto é estratégico: o estabelecimento era a última parada antes da via Anchieta, a estrada que liga São Paulo ao litoral. Além da equipe, torcedores do Santos também freqüentavam o local.

Dia de partida do clube praiano na capital significava trabalho dobrado para os funcionários da Lux, que assavam três pernis para receber o batalhão.

O burburinho da padaria lotada depois dos jogos proporcionou histórias engraçadas. Como o dia em que um torcedor, ao notar um vitrô quebrado, tentou pescar uma peça inteira de pernil. Descoberto, foi enxotado a pontapés.

Os jogadores também aproveitavam a balbúrdia --e a fama-- para levar vantagem. Comiam e não pagavam, e quando pagavam, declaravam muito menos do que deviam. Coube ao gerente, o português Luiz de Magalhães, hoje com 77 anos, organizar a bagunça. Era 1959 quando foi criado o sistema de "ficha no caixa".

Nem Pelé escapou das novas regras. "Quero lá saber se você é o Pelé? Vai lá tirar a ficha no caixa", explicou Magalhães ao rapaz de 19 anos, que já era campeão do mundo. E Pelé foi, conformado.

Modesto Roma, cartola que ocupou vários cargos de direção no Santos, observava tudo à distância. De preferência com um copo de uísque na mão. Os donos da padaria, também portugueses (como quase todos os funcionários), costumavam fazer companhia ao dirigente. E o ônibus da delegação ali, parado bem na porta.

Imagine se fosse hoje. Diego e Robinho pegando ficha no caixa? Não, não, surreal demais...


Lá e cá

- O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de países com mais cidadãos autorizados pela Fifa a comprar e vender jogadores. Oficialmente, são 56 pessoas trabalhando no ramo. Inglaterra (220), Espanha (161), França (115) e Alemanha (97) encabeçam a lista. Enquanto isso, o lobby dos agentes brasileiros tenta ressuscitar no Senado o projeto de reconhecimento da profissão.

- Os agentes são mesmo úteis? Alguns jogadores chegam a ser dependentes. É o caso de Luís Fabiano, do São Paulo, que não deixa Jose Fuentes em paz. O atacante liga para seu empresário freqüentemente, às vezes só para contar que marcou um gol. Nesta segunda, acordou o espanhol --que estava na Coréia do Sul-- às 6h, com um assunto banal. Mas Fuentes não se importa. Sabe a mina de ouro que tem nas mãos.

- Pela enésima vez, o Ministério da Educação pretende lançar um plano para implementar o xadrez nas escolas. Desta vez, a idéia é mais ousada: revelar grandes mestres para o esporte brasileiro. As mesmas promessas de sempre também já começaram. O ministro Cristovam Buarque fala em estender o projeto a "quase todas as escolas públicas do país" como medida de "desenvolvimento humano". É ver para crer.

- Um inventor de São Paulo criou um artefato que apresenta como capaz de "facilitar o trabalho dos árbitros". Sob o quilométrico nome de Disposição Aplicada em Cartão Eletrônico para Anotações em Partidas de Futebol, a engenhoca lembra uma calculadora. Além dos números, tem teclas amarela e vermelha para o juiz digitar no ato da infração. Entre as vantagens da máquina, Airon Feliciano dos Santos, o pai da criança, aponta a impossibilidade de se registrar dois cartões amarelos para o mesmo jogador. Não é exatamente verdade: basta o árbitro se equivocar no primeiro registro. Afinal, o aparelho não sabe quem foi advertido até o juiz digitar o número do atleta.

- Os netos do major Sylvio de Magalhães Padilha, morto em agosto do ano passado e que durante 27 anos presidiu o Comitê Olímpico Brasileiro, administram uma Ong inspirada no avô. Batizada de Symap (as iniciais do dirigente), a instituição banca uma equipe de atletismo e atende a 50 crianças da favela de Paraisópolis, em São Paulo. Alberto Murray Neto e Paulo de Magalhães Padilha Murray são os responsáveis.

- Zico está na rede. O novo site do técnico da seleção japonesa foi criado para atenuar o ruído de comunicação sobre suas atividades no Oriente. Semanalmente o treinador vai analisar a trajetória no time do Japão. Até agora, foram dez jogos e só duas vitórias. Zico perdeu cinco partidas e empatou três. Mas tem sido exigente com os adversários que escolhe nos amistosos: depois de pegar Coréia do Sul, Argentina e Paraguai, o treinador agora quer medir forças contra equipes africanas. "Quero Senegal, Camarões, Nigéria, times habilidosos e fortes fisicamente."
SIC
As notícias do Japão estavam chegando truncadas pelas agências. Eu falo em português, eles passam para o japonês, distribuem em inglês e aí, o que eu disse no começo vira outra coisa

É por isso que Zico, técnico da seleção japonesa, inaugurou um site pessoal na internet
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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