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Papo de Esporte

29/07/2003

Artigo: Apertem os cintos, os dois times sumiram

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Você tem idéia do procedimento legal num jogo de futebol em que as duas equipes não comparecem ao estádio? O Regulamento Geral de Competições da CBF sabe a resposta.

O documento, doravante denominado RGC, é uma peça pitoresca. Versa sobre tantas inutilidades que é difícil crer que seja capaz de resolver um problema tão inusitado.

O regulamento, por exemplo, fixa em 15 anos a idade máxima dos gandulas que podem trabalhar nas partidas de campeonatos organizados pela CBF. Norma evidentemente desrespeitada com freqüência.

Mas está lá, no Artigo 31: "Compete à associação que tiver mando de campo (...) utilizar seis gândulas (sic) com idade até 15 anos, especialmente treinados para a reposição de bola".

É o cúmulo da irrelevância.

Mais do que os previsíveis erros de português e a prolixidade, o compêndio mergulha várias vezes no mundo da imaginação. Nenhum curso de interpretação de texto daria a sapiência necessária para entender a mensagem a seguir.

"O árbitro fica proibido de iniciar ou reiniciar a partida em estádios que tenham cronômetros ostensivos em funcionamento", discursa o RGC no Artigo 39. Seja lá isso o que for. "Cronômetros ostensivos"? Sei não...

O RGC também acaba com um mito: todas as notificações sobre contratações e registros de novos jogadores podem ser feitas por e-mail. Aquela história de que "estamos esperando o fax" é balela. Pura incompetência da diretoria de seu clube --e das federações estaduais, responsáveis pelo encaminhamento de inscrições.

Mas voltando ao assunto inicial, que eu não sou de fugir de campo: o que acontece se dois times simplesmente não aparecem para um jogo de campeonato?

Com a palavra, o RGC: no caso de w.o. duplo, "as duas [equipes] serão declaradas perdedoras pelo escore de 1 a 0".

Isso sim é uma definição importante.

Lá e cá

- Dos 95 participantes da Série C do Campeonato Brasileiro, cinco se apresentam oficialmente como clubes-empresa, como induz a nova lei: Catuense Futebol S.A. (Bahia), Desportiva Capixaba S/A (Espírito Santo), Grêmio Maringá S/C Ltda. (Paraná), Ituano S/C de Futebol Ltda. (São Paulo) e Operário Futebol Clube S/A (Mato Grosso do Sul). Do gramado para a Bolsa de Valores é um pulo. É a tendência, aliás.

- A laminite (ou aguamento) está dizimando nossos cavalos campeões. No ano passado, o turfe lamentou a morte do potro Quari Bravo, que virou lenda após conquistar a Tríplice Coroa em 1997 --registre-se que fracassou no GP Carlos Pellegrini, espécie de Copa Libertadores eqüina disputada no hipódromo argentino de San Isidro. Em 2003, foi a vez de o hipismo perder um herói: Calei Joter, medalhista pan-americano e atleta olímpico. A laminite é um processo inflamatório que compromete o casco do cavalo. E é difícil de prevenir.

- O presidente do Guarani, José Luiz Lourencetti, foi à Justiça para censurar uma reportagem do site Futebol Interior que mostra a evolução patrimonial do dirigente desde que assumiu o clube, há quatro anos. A sentença do juiz Fábio Henrique Prado Toledo é exemplar: "...a atividade de comunicação não está sujeita a qualquer censura prévia, de modo que cabe ao lesado exclusivamente a indenização em caso de ofensa à honra". O presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ministro Nilson Naves, referendou o veto ao pedido de liminar do cartola. A decisão não é definitiva e ainda cabe recurso.

- À sua maneira, Fernando Genro Bueno, 15 anos, também é rebelde. Não quis seguir os passos da mãe --a deputada Luciana Genro (PT-RS)-- e muito menos os do avô, Tarso Genro, que já foi prefeito de Porto Alegre (hoje é secretário de Desenvolvimento Econômico e Social). Fernando é do time juvenil do Grêmio. Daqueles bem falados: espera-se muito dele, jogador de meio-campo. Resta saber se não vai romper com o técnico. Luciana decidiu peitar o comandante e se vê numa sinuca de bico no próprio partido, que deve expulsá-la de seus quadros.

- O esforço de Rojas é evidente: o técnico do São Paulo está tentando falar português para se aproximar da imprensa. Recorre ao assessor de imprensa do clube para versar palavras que considera "complicadas". Ao mesmo tempo, mandou instalar um aparelho de TV para os jornalistas se distraírem durante os treinos no CT da Barra Funda. A TV chegou, mas é avançada demais: a LG --patrocinadora do time-- importou um modelo da Coréia que exige transcodificação. Exatamente o que Rojas está tentando fazer com si próprio.

- O Palmeiras proibiu, há tempos, a presença de assessores pessoais de seus jogadores na área reservada à imprensa nos treinos do time. A medida basicamente restringiu a circulação de duas pessoas, que "controlam" mais da metade do elenco. Mas uma delas não desiste: também trabalha como repórter de rádio, cobrindo jogos do Palmeiras e enchendo seus patrões de perguntas festivas. Cadê o Boris para dizer "isto é uma vergonha"?
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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