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Papo de Esporte

12/08/2003

Artigo: Coisas típicas dos EUA

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Um medalhista olímpico está no centro de uma polêmica daquelas bem típicas dos Estados Unidos. Condenado a 17 anos de prisão em 1989 por dirigir bêbado, matar dois adolescentes e ferir três num acidente de trânsito, o saltador Bruce Kimball, hoje com 40 anos, quer voltar a dirigir.

A reivindicação indignou a comunidade de Saint Petersburg, na Flórida, palco da tragédia ocorrida há 15 anos.

Na época, Kimball era uma microcelebridade em seu Estado. Seu pai, Dick Kimball, ainda hoje é considerado o maior treinador de saltos ornamentais nos EUA. Nove de seus pupilos ganharam medalhas olímpicas, inclusive Bruce --que conquistou a prata em Los Angeles-84 e se preparava para buscar o ouro na Olimpíada seguinte, Seul-88.

Doze cervejas e um erro ao fazer uma curva mudaram o destino do atleta. Ele atingiu um grupo de jovens reunidos na porta de uma danceteria.

Coincidência: um motorista bêbado quase acabou com a vida de Kimball, em 1981. O carro em que viajava como passageiro foi atingido num cruzamento. O atleta teve vários ossos da face quebrados (seu apelido doméstico era "Frankenstein"). Em Los Angeles, virou personagem das inevitáveis histórias de superação pessoal que a opinião pública dos EUA tanto admira.

Depois de se tornar vilão, e mesmo respondendo ao processo por duplo homicídio, Kimball prosseguiu brigando por uma vaga na equipe olímpica norte-americana. Recebeu uma enxurrada de críticas pela atitude.

Na final das seletivas, em 1988, um grupo formado por pais das vítimas, seus colegas e testemunhas foram acompanhar as provas in loco e torcer contra o saltador. Vibraram com a quarta posição obtida por Kimball, excluído dos Jogos.

Meses depois, ele seria excluído da vida em sociedade, mas cumpriu apenas cinco anos da pena prevista. Em liberdade condicional, prestou 600 horas de serviços comunitários (deu palestras sobre os malefícios do álcool e das drogas). Agora, quer recuperar o direito de dirigir o próprio carro.

Uma das vítimas, porém, não aceita o perdão. Sem uma perna, amputada depois do acidente, R.J. Kerker protagoniza o novo capítulo da novela. Afirma ter parentes que moram perto de Kimball. "Não quero vê-lo dirigindo", repete.

O ex-atleta, hoje professor de saltos numa universidade, recorreu à Justiça de outro Estado (Illinois) para recuperar a carta de motorista.

Casado e pai de dois filhos, aguarda a decisão em silêncio --ele não dá entrevistas nem se deixa fotografar.

Lá e cá

- A prisão é o último lugar em que Guilherme de Cássio Alves, jogador de futebol brasileiro, pode ir parar. O atacante do Atlético-MG nem sequer será impedido de dirigir. Mas, se for considerado responsável pela morte de duas pessoas num acidente ocorrido em outubro do ano passado, pode ter de pagar até R$ 7,3 milhões a Rosilene Fossaluza de Souza, que perdeu mãe e marido. Nunca se saberá se Guilherme dirigia alcoolizado, pois um amigo se apresentou como o condutor do veículo. Dias depois, o jogador admitiu que era ele quem guiava. O processo deve consumir mais três anos.

- Você sabia que Esquerdinha, jogador do Guarani, tem "um preparo físico de dar inveja a qualquer fundista" e é dono de uma "movimentação absurda"? Pelo menos é o que vende o site pessoal do futebolista. A página diz que "quando a bola encontra com o artista, é inevitável que haja espetáculo". Isso é para você aprender a não acreditar em tudo o que lê na Internet.

- Tricampeão pan-americano e campeão olímpico, o iatista Robert Scheidt protagoniza a campanha "Mesmo sem saber, você já ganhou no bingo", bancada pela entidade patronal que tenta reabilitar a atividade no país, considerada ilegal desde o final do ano passado. Por enquanto, várias casas têm funcionado graças a liminares. Scheidt é patrocinado desde 1997 por um bingo ligado à Federação Brasileira de Vela e Motor. Agora, dá a cara para bater em favor de um ramo que diz ser responsável por 120 mil empregos diretos.

- O alpinismo brasileiro vai chegar às telas, pela primeira vez, no ano que vem. O filme Extremo Sul já está em fase de edição em Porto Alegre. O documentário, dirigido por Monica Schmiedt e Sylvestre Campe, mostra a expedição de cinco alpinistas à Terra do Fogo (Argentina), mais especificamente ao Monte Sarmiento, um dos mais inacessíveis do planeta --seu cume foi atingido uma única vez, em 1956. Desta vez, o mau tempo impediu a escalada. E o primeiro filme nacional sobre alpinismo não mostrará exatamente alpinismo.

- O zagueiro César, do Corinthians, é fiel às origens: revelado pela Internacional de Bebedouro (interior paulista), não esquece o clube de sua cidade natal. Durante o Campeonato Paulista, pagou os salários do técnico e de alguns jogadores. Hoje, ainda colabora com a equipe, que disputa a Copa Estado de São Paulo. Além disso, seu irmão --dono da confecção Planet-- fornece material esportivo ao time.

- Aos poucos, os surfistas do Brasil estão voltando a Bali, sacudida por um atentado terrorista que matou 187 pessoas (dois brasileiros) e feriu 309 no ano passado. O saldo da tragédia poderia ter sido bem pior se a grife carioca Sandpiper não estivesse inaugurando uma loja na mesma hora da explosão. Praticamente toda a comunidade brasileira em Bali foi à festa na casa, em vez de ir ao manjado Sari Club, alvo do atentado (localizado a 200 m da butique). O movimento na Sandpiper é o termômetro da volta dos surfistas, que agora aproveitam hotéis e pousadas com descontos de até 60% sobre os preços praticados antes do incidente.
SIC
Mas eu sou bom taticamente mesmo

Do técnico Wanderley Luxemburgo, durante entrevista à rádio Jovem Pan
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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