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Papo de Esporte

19/08/2003

Artigo: Kaká já foi. E Digão?

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

O Milan não cometeu nenhuma loucura para contratar Kaká. Pelo contrário: a vontade do são-paulino de jogar no time da Itália era infinitamente maior do que o desejo dos italianos de contar com ele.

O valor da transação (US$ 8,5 milhões) é um indício claro da situação. Por US$ 1 milhão a mais, o Atlético-PR vendeu Kléberson ao Manchester United. E Kléberson, por mais craque que seja, não tem 10% do apelo de marketing do bom moço do Morumbi.

Mais: o Milan chegou a cogitar comprar Kaká e emprestá-lo ao Paris Saint-Germain, tentando seduzir o jogador com a conversa de que ele reproduziria o caminho de Raí --maior ídolo do São Paulo antes dele, e que também jogou na equipe francesa.

Kaká não quis nem saber. Ou era o Milan ou era nada. Quando percebeu que nada era a opção mais plausível, abriu mão dos 15% a que teria direito pela negociação. Nada desprezíveis US$ 1,275 milhão. É factível dizer que o garoto de 21 anos pagou para jogar na Europa.

A bem da verdade, vai ganhar muito mais. Serão US$ 1,8 milhão a cada ano dos quatro previstos no contrato. No São Paulo, ganhava pouco mais de US$ 500 mil por temporada.

Mas Kaká chega ao Milan tendo de mostrar serviço. Que o diga Rivaldo, herói da Copa do Mundo de 2002, hoje relegado ao banco de reservas no time italiano.

O último ato do astro no Brasil ocorreu sexta-feira, numa sala de pré-embarque da Varig no Aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Reunida, a família do jogador recitou uma prece puxada por Estevam Hernandes, apóstolo da igreja evangélica Renascer em Cristo --da qual Kaká é devoto. Tudo isso longe dos curiosos e da imprensa.

Os olhos do craque brilhavam. Não menos que os olhos de Digão, 17 anos, 1,92m, zagueiro do time sub-20 do São Paulo. Ele estava fascinado com tudo o que via, com o assédio ao irmão famoso, agora mais famoso ainda. Em seu rosto, transparecia o desejo incontrolável de, um dia, ser o protagonista de uma história idêntica.

A diferença é que agora o São Paulo já sabe o final do filme.

Lá e cá

- Estevam Hernandes, marido da proprietária da igreja freqüentada por Kaká, segue os ensinamentos de Philip Kotler, um dos mais respeitados nomes do marketing mundial. Atrair e converter pessoas de boa instrução é um objetivo básico da empresa. O jogador é o maior garoto-propaganda da instituição. Estevam e sua mulher, Sônia, respondem a mais de 50 processos de ex-fiéis que se dizem lesados financeiramente por eles. As supostas vítimas são pessoas que teriam emprestado seus nomes para operações de compra, venda e locação de imóveis e empréstimo de dinheiro. Kaká que se cuide.

- As igrejas evangélicas também avançaram no terreno dos esportes de aventura. No Paraná, a Associação Montanhistas de Cristo completou 11 anos. A entidade, fundada por "pessoas cristãs" em 1992, promove escaladas, caminhadas, cursos e palestras. Claro, há ainda estudos bíblicos e terapia em grupo. Em nome do esporte, mas também de Deus.

- Chamado de "pepino" pela atual diretoria e rebaixado ao time de aspirantes, o lateral Gabriel, filho do ex-jogador Wladimir, ainda desfruta algum prestígio no mundo virtual. Mesmo sem fazer parte do time principal há semanas, sua foto ilustra a página de profissionais do elenco do São Paulo no site oficial do clube. E justo ao lado de Ricardinho, outro que não joga há tempos.

- A CBF já pensa no assunto e a temporada 2004 do futebol brasileiro poderá ter, como grande novidade, a disputa da Série D, a quarta divisão nacional. A sugestão é do ouvidor da Série C, Ronald de Almeida Silva. Ele acha que a terceira divisão, em vez dos 95 clubes da edição 2003, deveria ter 64 a partir do ano que vem. E sugere o mesmo número para a inédita Série D.

- Escândalo na Índia: a estrela Sachin Tendulkar, maior jogador de críquete do país, ganhou uma Ferrari da empresa italiana. Ídolo do esporte mais popular entre os indianos, Tendulkar foi isento de pagar US$ 230 mil de impostos sobre a importação do carro --desembarcado na semana passada em Bombaim. Cortesia do governo, "em agradecimento e reconhecimento de todas as glórias" que deu à Índia. Os meios de comunicação chiaram e o povão protestou. Afinal, o atleta é uma das personalidades mais ricas do país. A grita teve efeito, mas o jogador não precisou encostar no bolso: a própria Ferrari pagou, com gosto, as taxas.

- Esta é só para corintianos: você pregaria na parede o pôster de um time formado por Ronaldo; Luís Carlos Winck, Embu, Henrique e Leandro Silva; Zé Elias, Ezequiel, Tupãzinho e Válber; Viola e Rivaldo? Eu não. Mas o pôster está lá, na parede da sala de imprensa do Parque São Jorge, o estádio do Corinthians. O texto aplicado sobre a foto esclarece o espírito da coisa. "Campeão ou não, sempre Timão". É bem por aí.
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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