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Papo de Esporte

25/02/2003

Águas revoltas no iatismo

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Imagine se Ronaldo, depois de comandar a seleção brasileira na conquista do pentacampeonato, tivesse se naturalizado finlandês e, na Copa de 2006, levasse a nova pátria ao título mundial. Surreal no mundo do futebol, a reviravolta é o assunto do momento do iatismo _cuja Copa do Mundo, a America's Cup, está em andamento.

Herói nacional na Nova Zelândia, o navegador Russel Coutts _bicampeão mundial com seu país em 1995 e 2000_ hoje é tratado como um verdadeiro traidor. Ele comanda a embarcação suíça Alinghi na final do Mundial deste ano, justamente contra o Team New Zealand, seu antigo barco.

Como ele, outros sete iatistas neozelandeses trocaram de lado, para a fúria de seus compatriotas. Naturalizado suíço, Coutts abriu um interessante debate sobre os limites do profissionalismo no esporte.

A história ganhou contornos de escândalo porque o iatismo é o esporte mais popular da Nova Zelândia, natural para uma ilha da Oceania. O sentimento foi de humilhação: como a Suíça, um país que nem sequer possui mar, contrata o maior ídolo da pátria da vela?

Os velejadores sentiram na pele a fúria de torcedores apaixonados. Durante a disputa da seletiva para a America's Cup _também na Nova Zelândia_ , os integrantes do Alinghi receberam ameaças de morte por meio de cartas e telefonemas. A polícia descobriu depois de se tratar de um tal grupo "Ensinando os Traidores", e não deu bola para o caso.

Coutts, em vez de fugir da polêmica, alimentou a animosidade. "Fui contratado para desafiar meu país e aceitei por causa do dinheiro", disse. Dinheiro, de fato, não falta na empreitada: o milionário suíço Ernesto Bertarelli banca tudo do próprio bolso _os salários dos navegadores são segredo de Estado (uma campanha na America's Cup custa pelo menos US$ 15 milhões).

No final das contas, o profissionalismo de Coutts acabou aprovado pela maioria da população. Numa pesquisa recente, 77% dos entrevistados disseram que o velejador tem o direito de oferecer seus serviços a quem pagar mais.

Agora, voltando ao início, imagine se fosse no futebol. Quais seriam as reações?


Lá e cá

- Disputada desde 1851, a America's Cup é a taça esportiva mais antiga do mundo. Confeccionada por um joalheiro inglês em 1848, foi ganha pelo barco norte-americano America três anos depois, numa prova improvisada em Londres. Desde então, em apenas três vezes a taça deixou os Estados Unidos: duas rumo à Nova Zelândia de Russel Coutts e Peter Blake _o velejador assassinado no Brasil em 2001_ e outra, em 1983, capturada pelo Australia II.

- O craque Diego, do Santos, virou embaixador do programa "Bom de Nota, Bom de Bola", em Ribeirão Preto, sua cidade natal. Direcionado a crianças entre 7 e 13 anos, o projeto já atende a 1,3 mil alunos da rede pública da cidade do interior. Na escolinha de futebol só joga quem consegue boas notas na sala de aula. Além do jogador santista, a maratonista Maria Zeferina Baldaia, também ribeirão-pretana, ajuda a divulgar a iniciativa.

- Aliás, para os que achavam Diego precoce demais e duvidavam de sua idade: nesta sexta-feira o jogador completa, de fato, 18 anos. É o que atesta certidão de nascimento lavrada no 1o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Ribeirão Preto _ às folhas 248 do livro A 337, sob o número de ordem 49.790. A certidão informa que Diego Ribas da Cunha, filho de Cecília Inês Ribas da Cunha e de Djair Silvério da Cunha, nasceu às 8h45 do dia 28 de fevereiro de 1985, no Hospital São Francisco.

- Um advogado de Santa Catarina entrou na Justiça com uma solicitação curiosa: proibido de entrar no vestiário pela diretoria do Tubarão, ele pediu autorização judicial para rezar com os jogadores do time 30 minutos antes do início de um jogo pelo campeonato estadual. Classificado como "pretensão juridicamente impossível", o pedido de Nereu de Melo Bernardino _advogado do próprio Tubarão_ não foi acolhido. A sentença está no site Consultor Jurídico.

- Um estudo coordenado pela fisioterapeuta Gerseli Angeli, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), revelou que os aparelhos para ginástica abdominal passiva são absolutamente inócuos e não ajudam ninguém a obter os resultados prometidos na televisão. Pior para a imagem do astro do basquete Oscar Schmidt, que empresta seu prestígio ao AB Toner, um dos produtos suspeitos de propaganda enganosa. E agora, Oscar?

- O leitor boliviano Fernando Ríos lembra que o The Strongest, adversário do Corinthians na Copa Libertadores, não é o único time com nome em inglês no seu país. Em La Paz há ainda o Always Ready, campeão nacional de 1957, que já está há quase uma década na segunda divisão.

SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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