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Papo de Esporte

07/10/2003

Artigo: Rubiniô Barriquelô

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

Você é fã de Rubens Barrichello? Pagaria R$ 100 por ano para se juntar a um clube de simpatizantes do piloto da Ferrari?

Não responda ainda. Seus R$ 100 dão direito a várias vantagens, como uma carteirinha válida por ano, além de uma foto autografada de próprio punho pelo brasileiro.

E tem mais: acesso a um exclusivo catálogo com produtos oficiais licenciados por Barrichello. São 51 fotos e 41 mercadorias à venda. A cada três meses, você ainda recebe um fanzine com resultados e atividade fora das pistas.

Tal clube existe, e não fica no Brasil.

"Estamos surpresos com seu interesse. Aqui na Europa, os fã-clubes não são levados muito a sério", conta Sylvie Dufée, presidente do principal fã-clube do atleta brasileiro na França, contatada por e-mail.

No caso de Sylvie, ser fã de Barrichello é, de fato, interessante. Ainda mais por devotar a um esportista que encara chacota e desconfiança em seu próprio país.

"Temos sócios na França, Bélgica, Suíça e Itália", relata Sylvie, dizendo-se "orgulhosa". Ela não divulga o número de seguidores.

Definitivamente, Rubinho não é um Zé Ninguém. Tem 187 GPs disputados, com seis vitórias, nove poles e um vice-campeonato. Seu currículo, porém, é modesto se comparado ao de outros brasileiros famosos na F-1 --Nelson Piquet, por exemplo, ganhou três títulos e fez 24 poles, e Emerson Fittipaldi venceu 14 provas. Nenhum deles (incluindo aí o também tricampeão Ayrton Senna) andou de Ferrari.

A discrepância talvez explique o porquê de Rubinho ser, com tanta freqüência, personagem de programas humorísticos do gosto duvidoso.

Sylvie se transforma ao ser indagada sobre as piadas que os brasileiros fazem corriqueiramente sobre seu ídolo. De solícita e cordial, passa a ser desconfiada e seca, acrescentando uma considerável carga de tensão.

"Por que tantas perguntas? Que tipo de texto você pretende escrever?", redigiu a presidente, cujo clube existe desde 1996, com total anuência do piloto.

Um texto exatamente como este, que relata o contraste evidente, é a resposta. Estrangeiros idolatram Barrichello, enquanto brasileiros ainda se divertem ao ironizá-lo.

"Desculpe, mas temos regras que devem ser respeitadas. Preciso saber exatamente o teor do artigo que está escrevendo", encerrou Sylvie.

A não ser que entenda português, Madame Dufée nunca tomará conhecimento. Manda o bom jornalismo que o entrevistado jamais leia o texto de véspera. Lê simultaneamente aos leitores "mortais". Dura lex sed lex.

Mas a indignação da fã me fez refletir: será que Rubens Barrichello é tratado no Brasil da forma que merece?

Lá e cá

- Gustavo Kuerten é outro atleta brasileiro que extrapolou o noticiário esportivo e foi parar nos humorísticos da TV. Na semana passada, um ator caracterizado como o tenista arrancou gargalhadas da obediente claque de "A Praça é Nossa", do SBT. Na última "gag", a inevitável referência a Rubens Barrichello. "Já que todo mundo diz que eu preciso aprimorar minha batida na bola, contratei o Rubinho para ser meu técnico. Quem entende mais de batida do que ele?" Apesar de patético, é todo um símbolo.

- O provável sexto título mundial de F-1 que Michael Schumacher deve conquistar nesta semana no Japão ressuscitou uma polêmica que completará uma década no ano que vem: afinal, o alemão é melhor do que Ayrton Senna? Em 2001, a BBC reuniu especialistas e concluiu que o brasileiro, por pequena margem, foi superior ao adversário que mal enfrentou. Na época da reportagem, Schumacher já tinha três títulos, como Senna. Falta, portanto, acrescentar mais duas taças ao patrimônio do alemão --três, se incluído o esperado triunfo em 2003. Feito o upgrade, a ordem se inverteria? Muito provável.

- Só há uma possibilidade de o técnico Roberto Rojas permanecer no comando do São Paulo em 2004: o time ser campeão brasileiro. Caso decepcione e não obtenha nem sequer o quinto lugar (que garante vaga na Copa Libertadores), o chileno cai por ter fracassado. Se conseguir o passe para o torneio continental, será destituído por falta de experiência --vários cartolas do clube exigem um especialista na competição, erguida pelos são-paulinos pela última vez há dez anos. Rojas, que relutou muito em aceitar o cargo, nem liga para as conversas de bastidor. Ele não esconde de ninguém que prefere treinar goleiros, sua antiga função. É o que gosta de fazer.

- O ritmo da CBF é de outro mundo. Imagine um estrangeiro que acesse o site da entidade controladora do futebol nacional em busca de uma relação oficial de campeões nacionais. Mal-ajambrada, a lista posta no ar pela CBF simplesmente ignora o título do Santos, obtido há quase dez meses. Devagar demais.

- Sem condições de trabalhar no Brasil, onde não há campeonato regular, algumas jogadoras da seleção brasileira feminina de futebol devem fazer um bico em equipes que disputarão o 1o Torneio Rio-Sampa de futsal, que começa no dia 25. O campeonato será disputado por oito clubes, mas o melhor do país foi excluído. Considerado hors-concours, o time da Sabesp não foi convidado. Pior para o campeonato.

- A Portuguesa Santista terceirizou seu departamento de futebol e o pagodeiro Israel do Carmo apareceu como técnico da equipe. Seu primeiro ato foi decretar treinos secretos --ele garante estar criando um esquema tático revolucionário, a Roleta Russa Gigante. Entre outros factóides, o treinador proibiu seu time de cruzar bolas na área. Puro golpe de marketing: tudo foi planejado pelos co-gestores do futebol do clube de Santos. Foi um sucesso: reportagens e mais reportagens, em todos os veículos, apresentaram o técnico excêntrico. O retorno publicitário excedeu, em muito, o esperado. No campo, porém, o clube foi eliminado na Série C do Nacional ainda na primeira fase.
SIC
Temos que ir com os pés no chão. Vi muitos erros no time ainda

Júnior, novo técnico do Corinthians, sobre o triunfo de 2 a 1 contra o Vitória, domingo
Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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